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CORINGA | Arthur Fleck pode ser chamado de “INCEL”?
Erroneamente chamado de “incel” por parte do público e por boa parte da imprensa especializada, o excepcional longa “Coringa” dirigido por Todd Phillips, vem dividindo opiniões (não por sua qualidade como obra cinematográfica, mas por tudo aquilo que filme corajosamente representa). A crítica social e humanista que o filme carrega é gentilmente esfregada na face hipócrita de nossa decadente sociedade, muitas vezes de forma tão avassaladora e contundente, que para algumas pessoas é mais fácil negar o óbvio, escondendo-se atrás da máscara da ignorância, pra assim não ter que digerir a verdade e encarar sua omissão como ser humano.
O que é “incel”?
Incels (celibato involuntário) são na maioria das vezes, homens héteros sexuais incapazes de encontrar uma parceira romântica ou sexual, apesar de desejarem uma. Sentimentos como, auto piedade, auto aversão e ressentimento são comuns entre os “incels”. Atitudes e pensamentos misóginos, misantropos e racistas, também fazem parte do “combo”, fazendo esses indivíduos desenvolverem um ódio irracional pelo sexo oposto e por pessoas sexualmente ativas. Oposição ao feminismo e aos direitos das mulheres são comuns entre os “incels” e a grande maioria culpa a “libertação das mulheres” como a grande responsável pelo seu celibato involuntário. Muitos deles endossam o suicídio, a violência contra as mulheres sexualmente ativas e aos homens com mais sucesso sexual. Nathan Larson , um eterno candidato a um cargo público no estado da Virgínia (EUA) e participante ativo das comunidades incel, trabalha ativamente para convencer outros incels de que eles podem estuprar mulheres se forem rejeitados sexualmente. Seu manifesto político online de 2018, que foi retirado, defende a “supremacia branca benevolente” e nomeia Adolf Hitler como um “herói da supremacia branca“. Apoia o livre comércio, o direito ao suicídio, a proteção dos direitos de propriedade de armas, a legalização de pornografia infantil, do incesto e a revogação da Lei de Violência contra a Mulher de 1994. Em relação às mulheres, ele afirma:
“Precisamos mudar para um sistema que classifique as mulheres como propriedades, inicialmente de seus pais e depois de seus maridos.”
Dito isso, fica claro para qualquer espectador que Arthur Fleck não apresenta nenhuma das características “incel” citadas acima, podemos comprovar isso analisando o comportamento do personagem ao longo de toda a produção.
Sexualidade:
Diferente de outras encarnações do cinema, o Coringa de Joaquin Phoenix (com seus trejeitos femininos) apresenta a latente bissexualidade do personagem retratada em obras como: O Retorno do Cavaleiro das Trevas, A Piada Mortal, Asilo Arkham, e o desenho animado “Batman the Animated Series. Logo de cara, sem a heterossexualidade tóxica, não podemos classificar o personagem como “incel”.
Misoginia:
Em nenhum momento do longa, Fleck demonstra ódio, desprezo ou preconceito contra as mulheres, sua vendeta é direcionada a elite de Gotham e as pessoas que diretamente lhe causaram algum tipo de humilhação, mal ou trauma.
Misantropia:
A “revolução dos palhaços” acontece como uma reação as péssimas condições de vida do povo de Gotham, pelo descaso do poder publico, pela corrupção e pela indiferença dos poderosos. O Coringa de Phoenix não tem aversão ao ser humano, nem odeia a humanidade de forma generalizada. Sua ira recai apenas sobre a classe mais abastada da cidade.
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Racismo:
Por mais que seu interesse romântico seja algo totalmente platônico e fantasioso, o fato de se apaixonar por uma mulher negra, deixa evidente a ausência do sentimento mais medíocre, ignorante e desumano que o ser humano pode ter. Arthur não julga as pessoas pela cor da pele, mas por suas atitudes.
Conclusão:
Por mais que seja completamente desequilibrado Arthur Fleck não possui nenhuma das características necessárias para ser considerado “incel”, muito pelo contrário, apesar de mentalmente instável, o “Coringa” de Joaquin Phoenix consegue ser mais politizado, mais fiel as suas convicções e com uma percepção de mundo muito mais realista, que boa parte dos eleitores brasileiros, que cegos e manipulados por uma mídia partidária e elitista, acreditam em “Fake News”, apoiam o desmatamento da Amazônia, o fim de reservas indígenas, flertam com a ditadura, comemoraram a extinção dos direitos trabalhistas e acreditam que passeatas, greves e manifestações por melhores condições de vida são coisas de vagabundos.
Quantos “Coringas” precisamos criar para evoluir como sociedade e nos tornarmos pessoas melhores?
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