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PAPO DE CINEMA | Os zumbis de George A. Romero

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Por mais difícil de acreditar que possa parecer para muitos, não foi a série The Walking Dead a responsável por inundar a cultura pop de seres mortos-vivos sedentos de carne humana. Se hoje eles estão presentes no imaginário coletivo graças às aparições na TV, cinema, games e clipes musicais, um homem é o responsável: George A. Romero!

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“Tá dizendo que eu não sou original?”

Não, ele não foi um cientista louco ou um feiticeiro vudu que trouxe a vida os mortos, mas a mente criativa por trás do primeiro filme do gênero, A Noite dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead), de 1968. Com o precedente aberto por ele, hoje podemos ter todo o tipo de morto vivo, dos lentos e descerebrados da já citada série, dos rápidos e imparáveis de Resident Evil e dos dançarinos do clipe Thriller, de Michael Jackson.

Resultado de imagem para bela lugosi white zombieNão, este não foi o primeiro filme onde os zumbis deram as caras (e aliás nem essa palavra é usada no filme)! O primeiro filme a trabalhar a ideia de mortos que voltam do túmulo apenas com os instintos básicos foi White Zombie, de 1932 , com o astro Bela Lugosi (o clássico monstro de Frankenstein) como um feiticeiro que transforma pessoas normais em zumbis acéfalos com uso de magia negra.

Mas o zumbi que conhecemos (e que dominou o mundo) veio mesmo com o Romero, junto com toda sua visão metafórica sobre a verdadeira natureza humana. O interessante dos filmes de Romero em sua “sextologia” dos mortos é que a humanidade consegue ser muitas vezes mais cruel que os próprios zumbis. Romero nunca tentou explicar o motivo dos mortos saírem dos túmulos. Por mais que ele deixe no ar algumas suspeitas (como um modulo espacial que caiu na terra ou experimentos militares), a verdadeira razão nunca foi suficientemente esclarecida. Isso gera um medo real, onde muitos podem gastar horas em discussões se é ou não possível uma epidemia zumbi no mundo real.

Além do terror, George foi hábil em transformar seus filmes em uma crítica ácida da sociedade, onde os problemas de convivência entres os vivos muitas vezes eram um problema muito maior que os mortos que andam.

A Noite dos Mortos-Vivos (1968) – Night of the Living Dead

 

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Como tudo começou…

Em sua estreia no gênero, Romero não perde tempo explicando muita coisa. Os protagonistas são jogados em meio ao levantamento dos mortos do túmulos e se encontram em uma casa onde os mais diferentes tipos buscam a sobrevivência. Os conflitos dentro da casa refletem à sociedade americana da década de 1960, e o provocativo e intenso final em que o improvável protagonista negro se encontra com a realidade falou alto. 

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Herói improvável: protagonista negro em 1968

Com este filme, Romero traça as linhas mestras do seu universo: seus zumbis são lentos, agem por instinto e muitas vezes em mamadas e só tem um objetivo: se alimentarem dos vivos; a noção do contágio através da mordida também é estabelecida nessa obra, e isso gera cenas dramáticas em saber que o ente querido está condenado a se tornar aquilo que todos estão combatendo.

Despertar dos Mortos (1978) – Dawn of the Dead

 

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“Praça de alimentação, por favor!”

Dando continuidade ao seu mundo apocalíptico, Romero brinca com a sociedade do american way of life. Qual o melhor lugar para representar a queda da sociedade americana que um shopping center. Os protagonistas se refugiam em um santuário, para onde todos os zumbis se dirigem, dando pistas de que os zumbis pudessem guardar memórias instintivas de suas vidas. 

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BLACK FRIDAY!

O embate com a gangue de motociclistas representa a última tentativa de manter uma ordem social funcionando em meio ao caos. Discussões sobre aborto e suicídio chocaram o público em uma época conservadora e o final sem esperanças dos protagonistas coroam o clima depressivo deste novo mundo. Esta obra ganhou um remake com grande sucesso em 2004, mas que desagradou Romero por ver no fato dos zumbis modernos serem seres extremamente ágeis, uma subversão aos seus princípios.

Dia dos Mortos (1985) – Day of the Dead

  

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Minha banda favorita: SEPULTURA!

O filme que supostamente fecharia a trilogia dos mortos gira em torno do embate entre a ciência e a força bruta. Cientistas e militares, em um mundo dominado pelos zumbis, dividem um antigo abrigo nuclear, onde são feitos experimentos para tentar encontrar uma cura para os zumbis. Um dos cientistas porém começa a desenvolver a ideia de que os zumbis podem ser “adestrados”, e que possam reaprender a serem seres humanos. Quando um dos militares tornado zumbi é utilizado para os experimentos a tensão chega a seu limite, e os vivos se mostram um perigo muito maior que os mortos. Neste filme, Romero deixa no ar a possibilidade de os zumbis se desenvolverem intelectualmente.

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“Vamos por partes…”

Terra dos Mortos (2005) – Land of the Dead

 

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O preço da gasolina tá de matar!

Vinte anos depois de Dia dos Mortos, Romero retorna a seu mundo decadente, e desta vez o embate gira em torno de como as classes econômicas e sociais teriam impacto em um mundo sem regras. Ricos vivem com luxo e mordomias em um prédio fortemente protegido enquanto os mais pobres precisam fazer de tudo para sobreviverem em meio ao fim do mundo. No meio deste embate de classes, os zumbis que eram criaturas desprovidas de qualquer capacidade intelectual, começam gradativamente reativarem pontos específicos do cérebro, onde os instintos aprendidos enquanto eram vivos começam a retornar. Os zumbis passam então a se organizarem como uma sociedade e parte pra cima da cidade humana, utilizando-se de maneira inteligente da sua incapacidade de respirar.

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Prenda a respiração!

Diário dos Mortos (2007) – Diary of the Dead

 

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“Mostra que você não é só mais um rostinho bonito do Youtuber!”

Funcionando meio que como uma atualização dos filmes para o novo século e novas mídias, Romero brinca com a ideia hoje batida do “uma câmera na mão”. Segundo o diretor, este filme se passaria ao mesmo tempo em que o Noite dos Mortos Vivos, e mostra o início da epidemia zumbi pela ótica dos viciados em exibição para as novas mídias, onde o se mostrar para a plateia é mais importante que a própria segurança. Um filme inteligente, que inclusive brinca com a noção de verdade e mentira dos vídeos “reais” que encontramos na internet. Nesta obra, Romero também coloca na boca de um dos personagens a sua crítica à versão de 2004 de Madrugada dos Mortos, ao explicar fisicamente por que seria impossível um morto vivo correr.

A Ilha dos Mortos (2009) – Survival of the Dead

 

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“Deixa eu dar só uma mordidinha…”

O mais fraco dos filme de Romero dentro do universo zumbi, ele se passa em uma ilha onde duas famílias tem visões diferentes da forma de como enfrentar o problema. Um grupo de militares e cientistas (fica no ar se são os remanescentes do filme Dia dos Mortos) que querem tentar ensinar os mortos a se alimentarem de animais ao invés de seres humanos, e com isso diminuir os ataques a humanos. A tensão chega ao limite e o filme, como todos os demais, possuem um final deprimente.

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Agora você sabe de onde os walkers tiveram a ideia de comer o cabaço do Rick!

E você,  amigo viajante, qual seu filme de zumbi favorito? Deixe seu comentário e interaja conosco.

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Professor de História e Grande apaixonado pela sétima arte e da maior premiação do cinema, o Óscar. Viciado em séries e Redador das colunas "Vale a Maratona" e "Papo de Cinema".

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