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Críticas

MINHAS FÉRIAS COM PATRICK | Crítica do Neófito

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Se há um gênero de filme que as pessoas amam odiar (ou odeiam amar) é o da comédia romântica.

Hollywood se especializou nesse tipo de produção, que talvez seja o gênero cinematográfico com estrutura mais previsível que exista: tem-se a mocinha, o galã, as respectivas famílias, o amigo vacilão, a inicial paixão fulminante – normalmente negada ou impossibilitada – uma porção de situações inverossímeis, um momento de calmaria, o grande revés do amor e a redenção final do casal.

De vez em quando os roteiristas buscam subverter algo da fórmula clássica, oferecendo boas surpresas dentro do gênero, como, por exemplo, o filme O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997), em que a “mocinha” acaba solitária.

O cinema brasileiro, inclusive, adaptou a receita hollywoodiana, produzindo alguns exemplares de sucesso de comédias românticas, como as franquias E Se Eu Fosse Você (2006 / 2009), De Pernas Pro Ar (2010 / 2012 / 2019), entre outros exemplares.

Em termos de cinema europeu, os ingleses costumam seguir a cartilha norte-americana, com pequeno acréscimo do mais sutil e inteligente humor britânico; a Espanha costuma investir um pouco mais no erotismo, mas mantendo a estrutura básica do gênero; já os franceses gostam de se notabilizar pelo inusitado e experimental. Mesmo flertando descaradamente com o gênero em comento, há algo de iconoclasta no modo francês de fazer comédias românticas.

Esse é o caso de Minhas Férias com Patrick – filme de 2020 que estreará no Brasil em 29 de abril de 2021 – dirigido por Caroline Vignal e estrelado por Laure Calamy, incrivelmente despojada na construção de sua espevitada protagonista, Antoinette Lapouge, professora do Ensino Fundamental de uma escola francesa e amante apaixonada de Vladmir Loubier (vivido por Benjamin Lavernhe), pai casado de uma de suas alunas.

Foto: Divulgação

No papel de “a outra”, Antoinette se vê na obrigação de abrir mão de uma programada semana de folga e amor ao lado do seu amado Vladmir, mas, obstinada, opta por ir assim mesmo para o mesmo local onde ele, sua mulher e filha passariam as férias, ou seja, no famoso Parque Nacional das Cévennes (daí o título original: Antoinette Dans Les Cévennes). E, para ficar mais perto ainda do amante, escolhe o inusitado passeio a jegue (ou jumento, burro).

O Parque das Cévennes acaba sendo uma espécie de Caminho de Santiago de Compostela francês, só que com trajeto montanhoso e paradas estratégicas em simpáticas cidadezinhas interioranas, tendo ficado conhecido por ter sido trilhado por Robert Louis Stevenson, famoso escritor de A Ilha do Tesouro e O Médico e o Monstro.

Antoinette, então, lança-se na aventura em busca de seu amor, tendo por companhia e confidente o temperamental jumentinho chamado Patrick, nome adquirido por sua origem irlandesa.

Foto: Divulgação (Laure Calamy – ao centro, de camisa branca – repassando texto e cenas com seus atores)

O inusitado da trama é que Antoinette, apesar de bonita, está longe do estereótipo típico da mocinha das comédias românticas: ela é uma clara mulher de meia-idade; independente; sexualmente resolvida; talvez vítima da Síndrome de Peter Pan; bastante sem noção (capaz de ensaiar seus alunos para cantarem uma declaração de amor para seu amante em plena atividade de encerramento das aulas); claramente psicótica e autodestrutiva no âmbito dos relacionamentos; patologicamente romântica. E, apesar disso tudo, difícil não gostar da personagem logo de cara.

A dinâmica de Antoinette e Patrick é hilária e deliciosamente constrangedora. O animalzinho serve de psicanalista ou ombro amigo para ouvir sobre seus tumultuados namorados, e até mesmo de metáfora da sua vida, às vezes caminhando lentamente, às vezes disparando na hora errada e às vezes bastante empacada, afinal, trata-se de uma pós-balzaquiana sem filhos, sem rumo certo e sistematicamente se metendo em relacionamentos tóxicos; aliás, a hora em que Antoinette monta em Patrick coincide justamente com o momento em que ela parece começar a tomar as rédeas de sua vida e tomar decisões menos apaixonadas. Quase impossível imaginar uma produção desse tipo levada a efeito por Hollywood!

Claro que, em nome do humor e do gênero, ocorrerá o encontro constrangedor com o amante, seguido pela simpatia/confronto com a esposa deste; os terceiros bem-intencionados e conselheiros; o acidente com o animal etc. Tecnicamente, há algumas falhas de edição bem explícitas, mas a fotografia é belíssima, como seria de se esperar da locação onde se passa a ação do filme.

Mas a produção tem o mérito de fugir de certas receitas prontas e de nunca se esquecer que se trata da história de uma mulher adulta e sexualmente livre, apesar de seus evidentes problemas. Isso aproxima a trama da realidade, por mais absurda que algumas das suas situações possam ser.

Certamente, Minhas Férias com Patrick não vai mudar a vida de ninguém, mas tudo é tão leve e gostoso, que o tempo da projeção passa sem maiores sacrifícios, deixando o espectador com aquela boa sensação de sorriso no rosto.

Para quem gosta de comédias românticas, com pinceladas de pastelão, mas de um jeito muito francês de ser, Minhas Férias com Patrick pode ser uma ótima pedida.

Foto: Divulgação

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Nota: 3 / 5 (bom)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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