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Críticas

INVENCÍVEL S01 | Crítica do Neófito

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Logo que estrearam os 3 primeiros episódios da animação Invencível – produção da Amazon Prime Video – foram trazidas até os navegantes do Nerdtrip algumas rápidas impressões prévias sobre a série baseada nos quadrinhos de Robert Kirkman (Walking Dead).

Na matéria – veiculada em 30/03/2021 (vide aqui) – abordou-se o enredo sobre o adolescente Mark Grayson (voz de Steven Yeun) – filho da humana Debbie Grayson (voz de Sandra Oh) e do Omni-Man (voz de JK Simmons), o maior super-herói do mundo – que também se descobre superforte, invulnerável e capaz de voar, resolvendo, portanto, seguir os passos do pai-ídolo e combater o crime e ameaças sobre-humanas à Terra.

Foto: Divulgação

Avançando naquela análise, pode-se dizer que o conceito de Kirkman tem o mérito de subverter a ideia do “escoteiro” Superman e, apesar do tom aparentemente “suave” e nostálgico das histórias – algo conseguido muito graças ao traço simples e objetivo de Cory Walker e seu sucessor, Ryan Ottley – a violência sempre aparecia de forma contundente na narrativa sequenciada das HQs.

Foto: Divulgação

Agora que todos os 8 episódios da primeira temporada estão disponíveis, o que pode ser dito sobre a animação?

Na cultura pop – e principalmente nos quadrinhos – muito se buscou propor releituras do Superman – hoje considerado um dos personagens mais difíceis de serem trabalhados – passando pelo quase etéreo Samaritano de Astro City; pelo onipotente Miracleman (ou Marvelman); pelo violento Supremo da Image; pelo traumatizado Sentinela da Marvel; pelo reinventado Hipérion da linha Ultimate (também da Marvel); pelo tenebroso personagem Brandon Breyer do filme Brightburn – Filho das Trevas, além das múltiplas versões do próprio filho de Krypton, a partir das Infinitas Terras da DC Comics (com destaque negativo para a imatura e inconsequente versão de  Geoff Johns em Os Novos 52). Aliás, numa dessas concepções, a atual série televisiva Superman & Lois, mostra-se o Homem de Aço dividindo seu tempo entre salvar o planeta de tragédias e ameaças e a cuidar dos filhos e da mulher.

Na animação sob análise, o todo poderoso Omni-Man – claramente inspirado no Superman – é o amálgama de praticamente todas as releituras acima mencionadas, inclusive no sentido da vida dupla de civil e super-herói vindo de outro planeta. A ambiguidade do personagem é logo explorada e muito bem traduzida pela forte inflexão e timbre de voz de JK Simmons (nas HQs, o grande plot twist é revelado na primeira edição da revista).

Se, nos três episódios iniciais do programa, as tramas se focaram mais na vida cotidiana de Mark/Invencível, a partir do quarto, a narrativa se torna cada vez mais classicamente atrelada à trama “super-heroística” do personagem, chegando ao ponto de a escola dele – tão essencial no início da animação – passar a ser apenas mencionada.

Foto: Divulgação

Em certo sentido, isso faz com que a animação perca algo do seu relativo realismo (afinal, trata-se de um desenho animado), cedendo espaço para a fantasia mais pura. Mas, por outro lado, abre espaço para os chocantes episódios finais e sua violência extrema.

Aliás, é incrível como uma animação para consumo comercial se permitiu ir tão longe na violência gráfica! A cena do massacre no metrô é simplesmente impactante, mas não é a única. O sangue – principalmente o do Invencível – literalmente espirra na tela em vários momentos, o que torna o programa não muito apropriado para crianças pequenas.

Sem pretensões de provocar grandes reflexões sobre o mundo, a política etc., mas tendo por objetivo ironicamente brincar com o conceito de super-heróis através de uma produção voltada para o entretenimento, Invencível (a série televisa) consegue realmente entreter e questionar a bidimensionalidade de personagens como o já mencionado Superman. Mas, subtextualmente, o programa não deixa de levantar algumas bandeiras (como William, o amigo gay e Amber, a namorada negra de Mark); de promover sutis críticas à concentração de poder e como ideias de superioridade racial e cultural (que lembram o Nazismo) podem ser perniciosas ao ponto de tratarem a vida como mero número irrisório ou estatístico.

Na cena ocorrida no centro da cidade – incluindo a já mencionada forte sequência do metrô – fica muito clara a indiferença daquele que é fisicamente superior por aqueles que lhe são inferiores. Troque-se a força física pelo poder político e bélico de certos governos e/ou países, e não parece forçado enxergar nisso algo que tem acontecido com frequência na política mundial atualmente, particularmente na brasileira, em que projetos de poder se sobrepõem a vidas humanas, sem o menor pudor.

Contudo, Invencível não parece querer, de fato, ser qualquer espécie de manifesto, mas, sim, um programa que conta uma boa história de super-heróis, a mostrar como poderiam ser as consequências – muitas vezes nefastas – de se viver ao lado de criaturas tão superiores ao ser humano, tal como um Reino do Amanhã sem censura. No entanto, falta à narrativa um maior aprofundamento moral nos danos colaterais dos conflitos entre as criaturas superpoderosas, tanto que Mark/Invencível não demora muito para retomar sua vida após os traumáticos acontecimentos acima mencionados, algo que, na vida real, custaria séculos de psicoterapia intensiva para curar feridas tão profundas. Mesmo Debbie, a mãe de Mark, lamenta apenas sua dor pessoal, sem menção às inúmeras vidas perdidas envolvendo seu filho.

Foto: Divulgação

Do ponto de vista técnico, como foi pontuado nas impressões iniciais dos 3 primeiros episódios, o traço da animação é bastante tradicional, nítido e eficiente, com ótima desenvoltura nas cenas de ação, mas não há como deixar de mencionar a preguiça da produção, nas cenas ‘civis’, mantendo os personagens principais sempre com as mesmíssimas roupas e penteados.

Invencível, assim, é uma ótima, corajosa e surpreendente opção para os fãs de HQs e o universo de super-heróis. Mantém-se fiel à HQ de origem, mas sabe quando inovar, retirar e/ou acrescentar coisas interessantes à animação.

Chega a até ter uma mensagem sobre amor, sacrifício, apelo moral. Mas seu objetivo mesmo é entreter de forma inteligente.

Ao final do último episódio, são mostrados os ganchos deixados para as próximas segunda e terceira temporadas já confirmadas, que vão desde uma invasão alienígena parasitária, quanto ao alcoolismo de Debbie, algo que também permeia as páginas das HQs, demonstrando, aliás, a coragem da animação em abordar temas pesados num formato que, até muito recentemente, imaginava-se destinar tão somente aos kids mais novinhos.

Vamos ver se Invencível vence o tempo e se torna uma animação longeva e próspera!

Foto: Divulgação

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Nota: 4 / 5 (ótimo)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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