Críticas
CASAL IMPROVÁVEL | Crítica do Neófito
O problema do gênero comédia romântica é que, de antemão, já se sabe como o filme vai se desenrolar e acabar: o aparentemente incompatível casal se conhece e é rapidamente desenvolvida a personalidade de ambos; em razão de alguma conveniência, os dois envolvidos passam a conviver e a se conhecer melhor; descobrem-se perdidamente apaixonados (ou que sempre o foram); sofrem uma provação/separação; arrumam um jeito criativo/inusitado de superarem as diferenças/problemas e terminam juntos e felizes.
A fórmula é batida, e, segundo o site Box Office Mojo, desde 2001 (quando o gênero chegou a faturar mais de 1 bilhão de dólares), as comédias românticas têm mostrado sinais de desprestígio junto aos estúdios hollywoodianos, muito mais focados na produção de blockbusters, que parecem ser o único gênero cinematográfico capaz de tirar as pessoas de seus canais de streaming para irem ao cinema.
Os psicólogos Bjarne Holmes e Kimberly Johnson, num estudo realizado em 2008 pela Heriot-Watt University, de Edimburgo, criticavam o gênero em virtude dele provocar uma expectativa irreal em seus consumidores (<http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/scotland/edinburgh_and_east/7784366.stm>). Já para alguns executivos da indústria do entretenimento, a queda no consumo e na produção das comédias românticas se deu em razão de uma mudança comportamental da sociedade – numa espécie de cadeia retroalimentar – em que a perda do interesse pelo gênero causa um menor investimento nesse tipo de filme, que, por ser menos produzido e ofertado gera cada vez menos interesse no público.
Foto: Divulgação
Tudo isso nos leva à análise do filme Casal Improvável (em inglês, Long Shot), longa dirigido por Jonathan Levine (Meu Namorado é Um Zumbi), que pela terceira vez (a primeira vez foi em 2011, com 50%, e a segunda em 2015, com Sexo, Drogas e Jingle Bells) dirige Seth Rogen (Besouro Verde), o qual estrela essa inusitada comédia romântica, fazendo um, de verdade, improvável par romântico com a oscarizada e inacreditavelmente bonita Charlize Theron (Monster: Desejo Assassino).
Foto: Divulgação
Em termos de fórmula, Casal Improvável segue a cartilha acima delineada de cabo a rabo, apresentando 3 arcos bem definidos. No entanto, para a grata surpresa do público, o filme inova no recheio desses arcos, o qual se mostra bastante divertido e cativante, funcionando bem apesar de seus nítidos defeitos e vícios.
Entre os vícios acima mencionados está a batida e forçada caracterização de Seth Rogen como um sujeito sempre amalucado, displicente, infantilizado e invariavelmente adepto da maconha e de outras substâncias alucinógenas, sempre mostradas em seus filmes como coisas inofensivas e até mesmo benéficas. Irrita a insistência em manter seu personagem (o jornalista irascível, puro e não condescendente, Fred Flarsky) vestido de forma absolutamente incompatível não apenas para o cargo profissional que ele assume no longa, mas para sua idade e proclamada competência, bem como algumas piadas/circunstâncias mais escrachadas/escatológicas, inclusive aquela que remete à reviravolta final da história.
Já Charlize Theron é uma verdadeira força da natureza. Sua caracterização da Secretária de Estado Norte Americano e pré-candidata à presidência dos EUA, Charlotte Field, é precisa e elegante, mesmo em momentos de comédia física. Há, como era de se esperar, algum exagero em certas circunstâncias, mas, mesmo soando irreais algumas cenas, a atriz segura bem demais as incongruências do roteiro, tornando tudo suave e até mesmo verossímil (a gente acredita de verdade quando ela, a certa altura, declara seu amor pela excêntrica figura de Fred Flarsky! E isso, numa comédia romântica, não pode ser considerado um spoiler, concorda?).
Foto: Divulgação
O gradativo envolvimento do casal também é um pouco insuficiente para justificar a enorme atração que certamente surgiria entre os dois e, por mais que os atores se entreguem de corpo e alma a seus personagens e à trama, ainda é estranho vê-los se beijando, haja vista a diferença entre o corpo rechonchudo, descuidado e bem pouco atrativo de Seth Rogen e a forma esguia, curvilínea e belíssima de Charlize Theron.
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Mas, apesar disso tudo, o filme transcorre de forma bastante agradável e envolvente!
Os coadjuvantes, June Diane Raphael como a assessora Maggie Millikin e Ravi Patel como os assessores Maggie Millikin e Tom; Bob Odenkirk na pele do estúpido Presidente Chambers; e O’Shea Jackson Jr. no papel do melhor amigo de Flarsky, Lance – com destaque para o sempre formidável Andy Serkis e seu repugnante Parker Wembley –, apenas ajudam competentemente que o casal principal brilhe com mais intensidade, sem maiores interferências.
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Outro ponto positivo são as múltiplas cidades/países mostrados/citados ao longo do filme (incluindo Argentina e Brasil), que servem de palco para as viagens de Charlotte Field no intento de conseguir aprovar seu projeto ecológico mundial e, por último, a enorme quantidade de citações à cultura pop – Game Of Thrones, Vingadores, Todd McFarlane, Taylor Swift, Boys II Men etc. – e, de forma ácida e sutil, à política mundial atual – fake news; Twitter; líderes carismáticos e incompetentes; lobbys empresariais; negociações escusas; marketing políticos etc. – que tornam o filme mais relevante do que a princípio possa parecer, extrapolando os limites definidos pelas comédias românticas.
Como diz um ditado popular, Seth Rogen – assim como em Ligeiramente Grávidos, no qual faz par romântico com Katherine Heigl; em Pagando Bem Que Mal Tem, em que forma casal com Elizabeth Banks; e em Entre o Amor e a Paixão, no qual contracena com Michelle Williams (único papel em que foge do seu estereótipo) – “pegou o boi e a boiada inteira” ao contracenar romanticamente com uma das mais belas e talentosas atrizes desta geração e, por incrível que pareça, ao final do (longo) filme, faz-nos acreditar que aquela improvável relação era, de fato, possível.
Foto: Divulgação
Duas horas de completo escapismo e romantismo inusitado para o dia dos namorados do Brasil.
E não é que foi bom?
Foto: Divulgação
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Nota: 3,5 / 5 (muito bom)
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