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Críticas

TOY STORY 4 | Crítica (tardia) do Neófito

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Na análise de Turma da Mônica: Laços, abri o texto dizendo que queria muito adorar aquele filme, mas que, apesar de haver gostado bastante, não consegui amar. E, com isso, tornei-me meio que uma voz destoante na maioria da crítica.

Já com relação a Toy Story 4 (direção de Josh Cooley) o sentimento era justamente o inverso: eu queria muito não gostar do filme, mas, ao final da sessão, é preciso confessar que adorei o que vi.

Foto: Divulgação

Mas, por que essa resistência prévia à nova produção da Pixar? Porque Toy Story 3 (2010), para mim, foi indiscutivelmente o melhor filme da então trilogia inicial, completamente irretocável (e, ironicamente, o único que não obteve nota máxima no Rotten Tomatoes).

Tudo funciona naquele filme: o tema, a ação, o drama, as piadas, a animação e, principalmente, a alta dose de emoção.

A Pixar tem uma qualidade impressionante: tratar de assuntos complexos de forma perfeitamente sutil e compreensível, ao mesmo tempo divertida, tocante, mas sem menosprezar a inteligência do seu público, seja ele adulto ou infantil.

Foi assim com o tema morte em Viva: A Vida é Uma Festa (2018); neurociência em Divertida Mente (2015); envelhecimento em Carros 3 (2017) e (no lindíssimo) Up: Altas Aventuras (2009); futurologia em Wall-E (2008); fim da infância em Toy Story 3 (2010), entre muitos outros.

Foto: Divulgação

Agora, neste  episódio 4 sobre as peripécias dos brinquedos vivos, a Pixar fala de amadurecimento, superação, luto (em sentido amplo) e mudança de paradigmas, embalando tudo, mais uma vez, num belíssimo pacote que inclui diversão, ação, drama, romance, amizade, animação de altíssima qualidade (o gato construído digitalmente assusta de tão realista) e muita emoção (não à toa, todos os atores/dubladores disseram que não só eles, como toda a equipe de produção, chorava constantemente ao acompanhar as gravações de várias cenas).

Para tanto, o filme começa mostrando que Woody, agora na posse de Bonnie (como visto no final do filme anterior), não é mais o brinquedo preferido da criança, não raras vezes sendo esquecido, jogado dentro do guarda-roupa. Nem a liderança dos brinquedos ele parece ter mais.

E o problema disso não é o desprezo em si, mas o fato de que Woody tira seu sentido de existência da relação de afeto entre ele e seus “donos”. Uma vez que não tenha mais isso, como se postar diante da vida?

Podem parecer questões muito adultas para serem trabalhadas numa animação, mas a forma como a Pixar traz tais discussões à público é incrivelmente leve, sem deixar de ser profunda.

A princípio, Woody tenta, como normalmente uma pessoa comum faria ao se ver numa situação em que toda sua visão de mundo está sendo botada em xeque, supercompensar o fato de Bonnie não ter por ele o mesmo amor que Andy tinha, preocupando-se excessivamente com ela e com seu bem estar.

Foto: Divulgação

Desta maneira, ao ver como ela se sente amedrontada com o fato de estar indo para a escolinha (tanto que a creche do filme 3 nem é mencionada), Woody resolve ir com ela ao novo ambiente, mesmo sem ter muito o que fazer.

Uma vez lá, vê Bonnie construindo para si um novo brinquedo a partir de alguns restos, surgindo, então o cativante Garfinho (voz de Tony Hale), o qual, ao ganhar vida de brinquedo, deseja apenas voltar para a “quentinha” e “segura” lata de lixo, afinal, ele sabe que é um utensílio descartável e, portanto, um “lixo”!

Cabe a Woody, no bem de Bonnie, incansavelmente salvar Garfinho de si mesmo (o que é hilário) e fazê-lo se ver numa nova condição e dimensão, bem como sua importância para a criança que o fez e o adora.

Interessante é que Woody consegue fazer com que Garfinho aceite seu novo destino e a mudança de sua condição (de lixo para brinquedo), mas não consegue ver/aceitar a mudança do seu próprio status (de brinquedo preferido/amado para apenas mais um brinquedo).

Foto: Divulgação

No desdobramento da história – e para não ficar dando indesejáveis spoilers – os brinquedos acabam parando num parque itinerante ao lado de um antiquário, onde, no primeiro, conhecem os hilários Patinho (Keegan-Michael Key) e Coelhinho (Jordan Peele) e reencontram a  repaginada boneca Betty (Annie Potts), que era o par romântico de Woody nos dois primeiros filmes. Já no antiquário, somos apresentados à complexa e melhor “vilã” da série, Gabby Gabby (Christina Hendricks), além do sensacional Duke Caboom (Keanu “John Wick” Reeves).

Foto: Divulgação

Surgem, assim, os brinquedos perdidos, uma condição absolutamente nova e totalmente (a princípio) inconcebível para Woody, para quem a única opção seria viver para e pelo amor de uma criança.

Assim como os demais personagens, o Buzz Lightyear de Tim Allen, à exceção da última e super tocante cena final, quase não tem função relevante para a trama, bastante focada em Woody; mas a engraçadíssima relação que passa a manter com sua “voz interior” ao longo do filme reforça o tema de que se trata, que é, em resumo, cada um encontrar seu próprio sentido de vida e não ficar submetido a um destino inflexível (lembrando algumas das questões apresentadas em filmes como Forrest Gump, por exemplo).

Foto: Divulgação

Ou seja, não preciso ser “lixo”, quando posso aceitar minha nova condição de “brinquedo” e acabar gostando; não preciso ser uma boneca indefesa, por ter sido feita de louça e usar roupas de camponesa, podendo ser empoderada, autossuficiente e decidida, se a vida levou a isso, aprendendo a ser feliz no processo! Não preciso ser um brinquedo de criança para encontrar a felicidade e a realização pessoal, podendo ser um brinquedo perdido feliz. Mas posso lutar com todas as forças para me tornar a boneca de criança que sempre senti que tinha de ser, se meu impulso interior me direciona para isso.

Nesse sentido, o filme consegue fazer pensar e emocionar seus espectadores sem, em momento algum, perder o dinamismo, se tornar enfadonho ou desinteressante, conseguindo fazer rir e chorar na medida exata.

O filme 3, na modesta opinião deste colunista, ainda é o melhor exemplar da série Toy Story, e provoca mais “estrago” no coração de quem o assiste e se deixa levar pela bela mensagem de aceitação da passagem natural das fases da vida.

Mas o filme 4 consegue trazer uma mensagem superpositiva para as crianças, no sentido de escutarem sua “voz interior” e de serem abertas às mudanças de perspectiva e, para os adultos, tocar – de forma implícita – num outro tipo de transição, aquela pela qual não se espera e que pode ser, por exemplo prático, a morte de um ente querido, o término de uma relação, a perda de um emprego ou condição hierárquica superior, uma limitação física e que, em todo caso, iniciam o processo de luto nas pessoas, até que consigam se reinventar.

Foto: Divulgação

Com tudo isso, Toy Story 4 consegue superar as expectativas, provando que ainda havia histórias a serem contadas sobre aqueles adoráveis e adorados personagens, com gosto de quero mais.

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Nota: 4 / 5 (ótimo)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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