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Críticas

PROJETO GEMINI | Crítica do Neófito

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O duplamente oscarizado Ang Lee é, sem dúvidas, um dos grandes diretores contemporâneos atuantes em Hollywood. Sua filmografia é extensa, diversificada e de alta qualidade.

Seja em dramas – Banquete de Casamento (1993); Razão e Sensibilidade (1995); O Segredo de Brokeback Mountain (2005, primeiro Oscar de melhor direção) – ou em filmes de “ação” e “fantasia” – O Tigre e o Dragão (2000); Hulk (2003); As Aventuras de PI (2012, segundo Oscar de melhor direção) – o diretor nascido em Taiwan e radicado nos EUA é sinônimo de bons filmes, repletos de camadas e dinâmicos.

 Foto: Divulgação

Sua nova investida atrás da câmeras se trata, porém, de um filme quase atípico na sua filmografia quase irrepreensível (Hulk, de 2003, é o caso estranho de um filme com muito estilo, muito bem filmado, que traz questões interessantes, aprofundamento no estudo dos personagens, mas que, ao mesmo tempo, apresenta algumas decisões bastante questionáveis, como os “cães hulk’s”, um Hulk que cresce de tamanho, um clímax meio sem graça).

Mas, por que dessa atipicidade?

Projeto Gemini(Genimi Man) é um típico filme pertencente ao gênero “filme de ação”, na linha dos 007. Conta com um astro supercarismático: Will Smith; e coadjuvantes de peso: Mary Elizabeth Winstead (futura Caçadora em Aves de Rapina) como Danny; Benedict Wong (Doutor Estranho) como Baron; Clive Owen (Sin City) como Clay Verris.

Foto: Divulgação

Até aí, nada demais, correto? O Tigre e o Dragão é um longa de artes marciais, que presta homenagem aos filmes de kung-fu da década de 1970. Mas mesmo chamando a atenção pelas suas cenas de lutas espetaculares (a do bambuzal é de uma beleza estonteante), não deixa de ser uma obra profundamente romântica, reflexiva e repleta de lirismo.

O que torna Projeto Gemini um produto diferente na filmografia de Ang Lee são dois fatores: primeiro, que muito da sua estrutura lembra os bons tempos de John Woo, chegando a soar quase como uma homenagem aos filmes do diretor chinês, haja vista as tomadas em câmera lenta para cenas de ação, os tiroteios estilizados com elementos do cenário voando e sequências literalmente de tirar o fôlego do espectador.

Mas é o segundo fator que torna o filme realmente peculiar. Ang Lee é conhecido por gostar de inovar e de encontrar soluções inéditas e criativas para os efeitos visuais de seus filmes. Novamente, a cena do bambuzal em O Tigre e o Dragão é uma aula de efeitos práticos no uso de cabos para dar a sensação de voo aos personagens; As Aventuras de Pi apresenta um 3D deslumbrante e uma criação digital e prática do alto mar e do tigre (completamente digital) que é tudo, menos insignificante.

Foto: Divulgação

Em Projeto Gemini, Lee usou uma tecnologia tão nova e inovadora – chamada 3D+ – que nem nos EUA há salas de cinema apropriadas para a exibição do filme em toda a sua capacidade. Isto é, trata-se de um formato digital que quintuplica a taxa de quadros tradicionalmente usadas numa filmagem regular (de 24 frames/segundo para 120 frames/segundo). A projeção é feita com a metade dos quadros (60 frames), em 3D com resolução 4K, mas, ainda assim, a sensação de imersão é muito mais intensa do que qualquer Imax. Apenas 14 salas de cinema em todo os EUA têm condição de projetar filmes 3D de 120 frames/segundo, mas somente com resolução 2K. No Brasil, nem isso! Apenas os tradicionais óculos 3D. Todavia, é impressionante a sensação que o filme causa no espectador a cada tiro, explosão, perseguição…

Foto: Divulgação

Lee, sabendo a tecnologia que tinha em mãos, abusa da câmera subjetiva nas cenas de alta velocidade; do já mencionado recurso da câmera lenta em cenas explosivas, que acabam por se tornar inacreditavelmente reais (prestem a atenção na sequência de perseguição ocorrida na Colômbia).

Os efeitos para a criação de um Will Smith 30 anos mais novo, dividindo cena e/ou lutando com sua versão “normal” também impressionam (não venham dizer que isso é spoiler, pois, essas situações são mostradas nos trailers!!!!). Filmes como Duplo Impacto (1991), Eu, Minha Mulher e Minhas Cópias (1996), O Confronto (2001), O Sexto Dia (2001), Cada Um Tem a Gêmea que Merece (2012), Vingadores Ultimato (2019), “quase todos” do Eddie Murphy, entre outros, ao longo do tempo, têm buscado criar um efeito convincente para que um ator possa contracenar consigo mesmo. Alguns com maior, outros com menor sucesso (O Confronto, estrelado por Jet Lee – que preferiu essa aventura solo a uma participação na continuação de Matrix – talvez seja aquele que tenha sido mais bem sucedido até Projeto Gemini surgir).

Foto: Divulgação

A gravação utilizando dublês e truques de câmera é clássica, mas, em Projeto Gemini o processo é elevado à décima potência! Afinal, tratou-se da criação totalmente digital (por captura de movimento) do Will Smith mais jovem (o personagem Júnior) numa interação física e dramática com sua versão mais velha (o personagem principal Henry Brogan). Numa particular cena de luta, os dois colam os respectivos rostos um no outro, de frente e em movimento. Realmente impressionante.

Foto: Divulgação

A única cena em que o efeito fica mais evidenciado e um pouco artificial é na final, realizada em campo aberto, com sol claro e mais lenta, mostrando que a tecnologia, mesmo já sendo impressionante, ainda pode melhorar.

Em termos de conteúdo, o filme apresenta uma trama clássica de espionagem e perseguição, sem medo dos clichês do gênero. Smith, como dito, interpreta o superassassino de elite de um serviço ultra secreto do governo norte americano, Henry Brogan, capaz de matar uma pessoa a quilômetros de distância dentro de um trem em movimento, e que se encontra em crise consciencial-existencial, pretendo aposentar-se, aos 51 anos, sem filhos, sem mulher, sem conseguir se olhar no espelho e sofrendo com pesadelos constantes.

Foto: Divulgação

Reviravoltas e algumas mortes depois, ele se vê perseguido implacavelmente por um clone não autorizado seu, o único com habilidades e recursos suficientes para conseguir confrontá-lo e derrotá-lo. No caminho desse embate, surgem os personagens de Winstead, Wong  e Owen e um monte de figurantes e dublês para serem mortos de formas inventivas e espetaculares.

A sensação, na verdade, é que a história pouco importa, estando ali a serviço da nova tecnologia empregada e um mero meio para esta.

O bom de se ter um diretor competente como Ang Lee é que, mesmo contando com um roteiro mais “raso” do que os que costuma ter em mãos e focado na ação, seu cuidado com a dimensão dramática dos personagens (mesmo bidimensionais) se evidencia.

Nesse sentido, o trabalho de ator de Smith ajuda bastante na veracidade de sua versão mais jovem, que lembra muito sua persona na série (hoje cult) Um Maluco no Pedaço, só que com densidade dramática e sem humor escrachado. Os conflitos subjetivos dos personagens soam verossímeis apesar do tom fantástico da trama.

O tema da clonagem humana – um fato científico que não deve tardar! – também não recebe qualquer tratamento mais aprofundado, tocando apenas na superfície ética do problema, o que é uma pena, já que o diretor possui tarimba o suficiente para fomentar uma discussão bacana sobre o assunto.

Projeto Gemini, assim, mostra-se com um filme “de encomenda”, feito para apresentar uma nova técnica de se fazer cinema, sem maior profundidade na sua história, mas se impondo como um ótimo exemplar de filme de ação, que busca inspiração na filmografia do gênero da década de 90, principalmente no citado John Woo. Diversão de primeira, experiência imersiva inédita e ótimos efeitos valem um ingresso, pois, trata-se de um longa para ser visto no cinema!!!!!

Foto: Divulgação

A confiança no filme é tanta, que antes mesmo de estrear já se fala em uma continuação, algo que a história permitiria com pequenos arranjos de roteiro.

Caso isso ocorra, torcer para que não seja um clone do primeiro!

Foto: Divulgação

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Nota: 3,5 / 5 (muito bom)

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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