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Críticas

A VIDA EM SI | O “Pulp Fiction” dos Dramas (Crítica)

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Foto: divulgação

O grande Aristóteles dedica quase uma obra inteira de sua autoria – A Poética – para descrever a importância da tragédia, bastante apreciada no teatro grego de sua época e até hoje, seja no cinema, na televisão ou no seu berço teatral. Só não é bem-vinda na vida real de cada pessoa, pois, invariavelmente, representa doses cavalares de dor e sofrimento. Ver uma tragédia como Édipo provocava uma catarse no público, bem como empatia e compaixão. Daí ser considerada não apenas a espécie mais nobre de teatro, como também necessária.

A Vida em Si (Life Itself), filme que estreia no circuito nacional em breve, escrito e dirigido por Dan Fogelman – também o escritor e diretor esporádico de This Is Us, a premiada série dramática produzida pela NBC e que já conta com 3 temporadas de 18 episódios, centrada na vida cotidiana de pessoas comuns que possuem dramas pessoais, alegrias e sofrimentos, sempre permeados com muitos flashbacks – tenta ser uma tragédia, mas consegue, no máximo, ser um melodrama, ainda bem que não dos “baratos”.

Foto: divulgação

O elenco é recheado de estrelas de “segunda grandeza” de Hollywood – Olivia Wilde (House, Cowboys vs Aliens), adorável, linda e subestimada; Annette Bening (Beleza Americana), correta; Antonio Banderas, no piloto automático etc. – apesar das nobres presenças de Samuel L. Jackson (Nick Fury do MCU), em uma divertida participação especial; e de Oscar Isaac (X-Men: Apocalipse, atual trilogia Star Wars), numa interpretação muito boa e convincente como o traumatizado Will.

Aliás, falar em Samuel “the man” L. Jackson é praticamente obrigatório, haja vista o filme de Fogelman, mesmo sendo um “drama”, quase gritar querer prestar homenagem à Pulp Fiction – um dos filmes mais icônicos do icônico ator – seja com citações diretas ou indiretas, seja na própria estrutura narrativa, dividida episodicamente em 4 “capítulos” bem marcados e um epílogo não anunciado, com personagens aleatórios cuja história vai se fundindo pouco a pouco, inclusive numa última “coincidência” que é difícil engolir e que deveria servir de “grande surpresa”, mas que pode ser antevista bem antes do arco final.

Foto: Divulgação

O filme todo, na verdade, é um grande exercício narrativo, levando a estrutura de This Is Us – flashbacks, cenas aparentemente triviais que guardam grande significado, personagens comuns etc. – para a tela grande com um pouco mais de experimentação (algumas passagens temporais são mais ‘criativas’ e ‘cinematográficas’). Nem dá para falar que o filme se divide nos tradicionais arcos narrativos, pois, sendo episódico, a cada novo ‘capítulo’ tem-se a apresentação e desenvolvimento de personagens, o desdobrar da história e uma conclusão.

Quanto à história, ela se passa num momento temporal contemporâneo indistinto, que vai de um passado recente a um futuro próximo, mas sem se preocupar com nenhum tipo de mudança ou sinal exterior, a não ser muito sutilmente no uso de celulares e notebooks. É como se o filme quisesse dizer que, não importando em que tempo se esteja, os dramas humanos (e os próprios humanos) continuam sendo os mesmos, sendo isso o que importa e ponto final.

Há bastante tragédia na história, ainda que contada de forma surpreendentemente leve para o nível dos acontecimentos: atropelamentos, suicídios, câncer etc., destacando-se o primeiro e o quarto capítulos como os melhores e mais bem-acabados.

Aliás, digno de aplausos que grande parte do filme seja falado em espanhol.

Em termos de premissa, a personagem de Olivia Wilde, Abby Dempsey, elabora uma tese na universidade sobre não haver nenhum narrador confiável a não ser a vida, que também não é confiável e, a partir disso – didaticamente martelado na cabeça do espectador – Fogelman tenta fazer o mesmo com seu filme o tempo todo, algumas vezes com sucesso e outras (talvez a maioria) com menor acerto.

Em termos de interpretação, é preciso novamente citar Olivia Wilde e seu tremendo carisma e beleza, sendo uma atriz evidentemente subestimada em Hollywood. Sua Abby é belíssima exterior e interiormente, muito graças à entrega de Wilde, mesmo quando usando uma barriga estupidamente falsa de grávida.

Oscar Isaac surpreende com seu dramático e apaixonado Will, convencendo o espectador de todo o amor que ele sente por sua mulher e provocando a maior surpresa do filme.

Foto: divulgação

Antonio Banderas surpreende pela excelente forma física apresentada aos 58 anos de idade, conseguindo imprimir uma interpretação sutil ao seu Mr. Saccione, mas sem muita dificuldade para quem já deu vida aos loucos personagens de Almodóvar em sua fase mais crua.

O ator espanhol Sergio Peris-Mencheta – mais conhecido do grande público mainstream pelo seu físico avantajado e papel secundário em Rambo V – com o seu Javier, é outra grata surpresa em tela, gravitando entre o grave, o soturno, o bruto e o alegre com muita desenvoltura; pena que seu arco tenha que ter sido claramente encurtado, apressando a história que estava sendo contada de forma tão interessante para um desfecho apressado.

Ao final da exibição, fica-se com aquela impressão de leveza e talvez (para os mais sensíveis) de algumas lágrimas furtivas; sensações emuladas ao se assistir a um episódio ou temporada de This Is Us. Algumas excelentes boas intenções, algumas execuções certeiras e outras nem tanto – como, novamente, a “coincidência” final altamente forçada – recheiam este pacote melodramático que é facilmente assistível, mas que não deixa de ter gosto de telinha.

Aliás, com tantos blockbusters nos cinemas, difícil acreditar que a trajetória de A Vida Em Si será de grande relevância no circuito das salas brasileiras e mundiais, talvez do mesmo modo como é a própria vida de todos os Will’s, Abby’s, Javier’s e cia. Ltda. que existem por aí, às vezes dentro da nossa própria casa.


Pontuação de 0 a 5

Nota: 3 (bom)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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