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OSCAR 2018 | Argentina 2, Chile 1 x Brasil 0: por que o Brasil não consegue ganhar um Oscar?

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A resposta para a pergunta do título dessa matéria pode ser, simplesmente, “porque o Brasil não consegue fazer filmes bons o suficiente”.

Mas o que seria um filme “bom o suficiente” para Hollywood?

Como um “opinador” razoavelmente informado sobre os meandros da sétima arte e um cinéfilo apaixonado (crítico é Rubens Ewald Filho, Pablo Vilaça, entre outros) posso apresentar algumas especulações a respeito dessa questão.

O fato é que, apesar da cinematografia brasileira hoje em dia mostrar uma maior diversificação de temas e gêneros e de ter aumentado consideravelmente a quantidade de produções desde a “retomada” da década de 1990 (cujo percussor foi a obra “Carlota Joaquina, Princesa do Brazil, de 1995, dirigido pela Carla Camurati), ela ainda se escora fortemente nas leis de incentivo à cultura: “Lei Rouanet” (Lei nº 8.313/1991); e a “Lei do Audiovisual” (Lei nº 8.685/1993).

 

Exemplos da diversidade de filmes brasileiros desde a retomada do cinema na década de 1990, todos com o emblema da Petrobrás como patrocinadora, graças às leis de incentivo fiscal.

Mas qual seria o problema disso?

O problema é que as leis de incentivo surgiram para dar um “impulso” à produção cinematográfica (cultural) – praticamente parada na década de 1980 (quando 50% dos filmes nacionais eram de sexo explícito direto para vídeo) – num período e ambiente políticos marcados pelo fim das chamadas “reservas de mercado”, por uma “abertura” à livre concorrência e comércio e pela globalização (resumido na chamada “onda neoliberal brasileira”). A ideia era fomentar uma “indústria” que se mantivesse sozinha; todavia, o que aconteceu é que, até hoje, as produções cinematográficas nacionais continuam quase que totalmente apoiadas nessas leis.

Ok! Mas, e daí?

E daí que um filme que capta, antecipadamente, todo o valor necessário para sua produção – isto é, remuneração de toda a equipe de profissionais envolvida (do diretor à faxineira); custo com cenografia, figurino, transporte, locação, mixagem, edição, divulgação etc., entre outros – não precisa se preocupar com o retorno da bilheteria ou em pagar seus investidores (que já tiveram seu retorno na forma de isenções fiscais e na divulgação de sua marca). Em outras palavras, não precisa se preocupar em ser “comercial”, ou em “se pagar” pelos seus próprios méritos, o que diminui o interesse por um forte marketing (afinal, tem consciência de que seu público será, de antemão, restrito).

 A consequência direta dessa “cultura” é a produção de uma enxurrada de filmes altamente “autorais” e puramente “artísticos”, que não dependem do público pagante e acabam, via de regra, voltados para festivais de cinema (e quanto mais “cabeça”, melhor!). 

 

Nada de errado com filmes que coloquem o aspecto “artístico” antes da comercial (ao contrário de Hollywood, predominantemente focada no “lucro”, ao ponto de subverter e de descaracterizar muitas produções, como, por exemplo, o universo “live-action” da DC, claramente prejudicado pela ganância do estúdio responsável).

Mas qual o resultado disso?

Bom, na madrugada da última segunda-feira, 5 de março de 2018 – 90ª cerimônia de entrega do Oscar – o prêmio de melhor filme estrangeiro ficou com o belo “Una Mujer Fantástica” (“Uma Mulher Fantástica”), ambiciosa e engajada produção chilena dirigida pelo argentino naturalizado, Sebastián Lelio. Antes desta premiação, o Chile só havia sido indicado uma única vez, em 2013, pelo excelente “No”, de 2012.

 

Nossos “Hermanos”, por sua vez, foram indicados 7 vezes: em 1975 (“La Tregua”); em 1985 (“Camila”); em 1986 (“La Historia Oficial”); em 1999 (“Tango, no me Dejes Nunca”); em 2002 (“El Hijo de la Novia”); em 2010 (“El Secreto de sus Ojos”); e em 2015 (“Relatos Salvajes”).

Dessas 7 indicações, a Argentina ganhou duas estatuetas: a de 1986, pelo tocante “La Historia Oficial”; e a de 2010, pelo excepcional “El Secreto de Sus Ojos” (“O Segredo de Seus Olhos”); um filme tão bom que Hollywood fez uma refilmagem em 2015 – “Secret in Their Eyes” – mas que, mesmo contando com astros do porte de Julia Roberts, Nicole Kidman e Chiwetel Ejiofor, ficou horrorosa!!

 

O Brasil concorreu nessa categoria em 4 oportunidades: em 1963, com o único ganhador sul americano da Palma de Ouro, “O Pagador de Promessas”; em 1996, com “O Quatrilho”; em 1998, com “O Que É Isso Companheiro?”; e no longínquo 1999 (há 19 anos!), com o magistral “Central do Brasil” (quando perdeu para o impreciso e agradável “A Vida é Bela”).

 A melhor chance do Brasil nos últimos tempos certamente foi com “Cidade de Deus”, seríssimo candidato a Melhor Filme Estrangeiro se tivesse concorrido em 2003. Porém, em razão dos critérios de indicação, só pôde concorrer em 2004, e nas categorias de Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição e Melhor Fotografia. Uma pena, pois, este foi o ano de consagração de Peter Jackson e seu fabuloso “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”, que faturou praticamente tudo naquele ano.

 

Depois disso, só em 2016 o Brasil voltou a concorrer a alguma coisa no Oscar, desta vez ao prêmio de Melhor Animação, com o belo e muito triste, “O Menino e o Mundo”.

 

Parece que a produção cinematográfica brasileira se divide em dois grandes blocos, a saber: um segmento totalmente voltado para a cultura de massa – por meio de comédias descerebradas ou de produções infanto-juvenis –; e outro nicho caracterizado pelas obras “autorais”, destinadas a festivais de cinema.

Vez ou outra, surge uma produção que se destaca por melhor casar sua proposta artística com a preocupação comercial (cujo melhor exemplo, talvez, sejam os dois “Tropa de Elite”).

 

O diretor argentino, Juan José Campanella, de “O Segredo dos Seus Olhos”, soube aplicar essa fórmula em seu grau máximo. A partir de sua experiência com a TV norte americana – dirigindo episódios de “House”, “Law and Order: Criminal Intent / Special Victims Unit” etc. – ele utilizou técnicas de filmagem altamente complexas (como o plano sequência no estádio de futebol), um acabamento e uma fotografia primorosos, tudo para contar uma história de amor profundamente fundada na realidade histórica de seu país, ao mesmo tempo que palatável ao grande público, por apresentar ritmo ágil e interpretações naturalistas. O mesmo pode ser dito de Sebastián Lelio em “Uma Mulher Fantástica”.

Enquanto isso, aqui, no Brasil, elegemos o fraco – às vezes cansativo e sem brilho – filme “Mais Forte Que o Mundo: A história de José Aldo”, como nosso possível representante na cerimônia da academia de cinema hollywoodiana.

Se a indústria (sic!) cinematográfica brasileira não acordar para esses fatores, vamos continuar, no terreno da 7ª arte, a tomar goleada do Chile e da Argentina. E o mais próximo que chegaremos da cerimônia do Oscar é pela transmissão televisa! Às vezes com a Glória Pires como comentarista…

 

 

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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