Vale a Maratona?
VALE A MARATONA? | Rita, a série dinamarquesa da Netflix!
A maioria das obras televisivas ou cinematográficas,que retratam o cotidiano escolar sempre recai em um problema fundamental: a veracidade.
A maioria mostra uma escola idealizada e fantasiosa demais, onde todos os alunos são excelentes e comportados (e fazem projetos de ciências de fazer inveja aos cientistas da Nasa); ou caem no estereótipo clichê da escola onde os alunos são monstros sádicos e destruidores, que precisam do toque mágico de algum professor que os transforme em seres humanos.
Trazendo um olhar frio e cínico sobre este universo, a série dinamarquesa Rita (disponível na Netflix) é um diferencial interessante.
O foco da trama é a vida pessoal e profissional da protagonista que nomeia a série, Rita Madsen (Mille Dinesen), uma professora desbocada e politicamente correta, com três filhos disfuncionais, a disléxica Molly (Sara Hjort Ditlevsen), o desajustado Ricco (Morten Vang Simonsen) e o adolescente se descobrindo homossexual Jeppe (Nikolaj Groth).
O ambiente escolar é uma verdadeira comédia, com figuras tragicômicas como a professora Hjørdis (Lise Baastrup), que realmente acredita no que faz e com seu jeito atrapalhado e ingênuo acaba sendo o contraponto de Rita e o diretor Rasmus (Carsten Bjørnlund), certinho demais para estar na órbita da força incontrolável que a protagonista pode ser.
As três curtas temporadas (8 episódios cada), não buscam grandes histórias polêmicas e segredos mirabolantes para segurar o espectador. Ela é uma comédia de cotidiano: os encontros e desencontros de Rita e as pessoas com que ela convive em casa e no trabalho.
A polêmica vem, e alguns mais conservadores podem ver isso como um “mal exemplo”, mas ao mostrar temas considerados tabus, a série simplesmente desmistifica algumas questões. A vida real é cheia de tabus, e a história de Rita é uma tentativa de um retrato da vida cotidiana. O principal ponto polêmico da série vem exatamente da intensa vida sexual da protagonista, mais por ela ser mulher do que é realmente mostrado. Muitas outras produções colocam personagens masculinos fazendo a mesma coisa, e são louvadas exatamente por isso.
Um dos pontos mais bem explorados é a interação de Rita, e dos demais professores, com os alunos. Nenhum aluno é mostrado como um estereótipo ambulante. Claro que os tipos básicos estão lá: o atleta, a popular, os excluídos. Mas, até por não ter a carga cultural americana, você não tem a figura de um looser, nem o aluno “popular e babaca” e que é babaca o tempo todo. Estão retratados aqui adolescentes e crianças normais, quem são capazes de atitudes cruéis uns com os outros (e com os professores), mas não são os gênios do crime que algumas séries e filmes (alô 13 Reasons…) querem mostrar.
Os professores também estão calcados na realidade. Não existe na escola de Rita nenhuma “professora Helena”, que transforma a vida dos alunos, nem aquele professor que vem com um método inovador e descolado e conquista a todos.
Eles são seres humanos, capazes de erros e acertos, que podem tomar atitudes moralmente repreensíveis, mas que cada espectador entende o porquê. Eles reclamam dos alunos, tomam decisões vingativas, possuem os seus favoritos, mas também fazem muitas coisas fora do padrão para defender seus alunos.
E para dar um “tapinha” no complexo de inferioridade que muitos brasileiros possuem, a série mostra como também na desenvolvida Dinamarca, as escolas enfrentam seus problemas financeiros, descaso pelas autoridades e até a omissão dos problemas reais da escola para reeleger políticos corruptos.
Uma série bem interessante pra fugir do lugar comum e de quebra conhecer uma cultura interessante e diferente de nós, mas que por ser tão pessoal, é muito próxima. Vale uma maratona!
Primeiro episódio: 9 de fevereiro de 2012
Número De Temporadas: 3
Idioma: Língua dinamarquesa (é legal demais ver no original, mas tem dublado também!)
Número De Episódios: 24
NOTA:3,5/5: