Séries
ZORRO | Um novo tempo para um velho herói
Um pouco sobre a Raposa
Zorro estreou em 1919, na história “The Curse of Capistrano”, escrita por Johnston McCulley. Publicada em cinco partes na All-Story Weekly a história foi editada posteriormente na forma de romance após a fama do personagem. O personagem que faz alusão à raposa devido à sua astúcia e sagacidade, vive aventuras no Pueblo Los Angeles, durante a época da Califórnia espanhola. Com capa e espada (e frequentemente um chicote e pasmem, inicialmente uma pistola), a marca do Zorro é o clássico “Z” riscado na roupa com o uso de uma rapieira.
Com capa, máscara e chicote, a alusão do herói mascarado que defende os californianos indefesos contra os corruptos atravessou gerações. Sua primeira versão cinematográfica com Douglas Fairbanks em 1920 tornou o personagem um sucesso comercial, permitindo que Johnston McCulley escrevesse mais histórias sobre o personagem. Seriados e outras versões cinematográficas surgiriam entre 1930 e 1947. A Disney fez sua primeira série do Zorro em 1957, com o astro Guy Williams e se tornou uma das versões mais conhecidas do herói.
A primeira adaptação em histórias em quadrinhos aconteceu em 1939, mas as adaptações televisivas lançadas pela Four Colour entre 1958 e 1961 que fizeram mais sucesso. As peças de teatro sobre o personagem começaram em 1995 com musicais e adaptações e a ultima apresentação do tipo foi criada em 2013 em Portugal. Em 2011 a audio-apresentação The Mark of Zorro trazia nomes importantes como Val Kilmer e Armin Shimerman na dublagem. Em 2011 saiu The Legacy of Zorro Introductory Adventure Game, RPG para o sistema Fuzion e em 2019 o Zorro: The Roleplaying Game da West End Games. Muitas dessas produções recentes, inclusive, demorariam a acontecer se não fosse o fato de que o personagem é domínio público desde 1996.
Zorro é indiscutivelmente um personagem de grande legado. Porém, a ideia do homem branco rico sendo o salvador do povo latino e indígena explorado pelos colonizadores, o dito “white savior” já não é visto com bons olhos. Mas alguém acreditou que podia recontar a história.
Um novo Zorro
Carlos Pacheco é idealizador, roteirista e diretor da nova série de Zorro, produzida pela Secuoya Studios para Amazon Prime na Espanha, Portugal, Andorra, América Latina e Estados Unidos. Sua ideia original foi trazer mais vitalidade para o personagem, além de adequá-lo a uma boa apresentação às gerações mais novas. Ambientado por volta de 1830, esse novo Zorro volta de seu colégio militar da Espanha para vingar a morte do pai assassinado, mas descobre o abuso de nativos, a exploração do povo local e a necessidade pessoal de usar a máscara.
A série de dez episódios tem um elenco bastante juvenil, trazendo um ar de mocidade que pode ser encantador pra alguns, mas soa bastante artificial para outros. Figuras importantes como o Capitão Monastério (cujo nome voltou pra pronúncia espanhola, diferente dos americanos que o chamavam de Monastário) é interpretado por Emiliano Zurita, que embora se mostre um ator competente, acaba destoando pelo seu aspecto mais moço, quando esperávamos pessoas mais velhas no cargo.
O mesmo pode-se dizer de Miguel Bernardeau, que interpreta o protagonista Zorro. Astro da série Elite (Netflix), ele convence perfeitamente como Dom Diego de La Vega, mas soa ingenuamente jovem para Zorro. Mesmo assim, o ator se esforça para honrar o papel que lhe foi dado e não deixa que sua idade seja pretexto para uma má interpretação.
A cenografia da série é fraca e me lembra muito uma produção de baixo orçamento, feita pra TV. No primeiro episódio, Los Angeles estava abarrotada de gente, principalmente no porto, mas parece que esses figurantes desapareceram nos episódios seguintes. As construções cenográficas demais. A sensação é que a qualquer momento uma das casas vai cair com o vento de tão falsas que são. Por sorte, a cenografia dos ambientes internos são muito bonitas, trazendo um padrão latino de decoração que fica um pouco mais verossímil.
Presença feminina
Esta nova versão do Zorro se conecta com o mundo espiritual quando é escolhido pelos espiritos dos nativos para se tornar o novo Zorro, já que o anterior morreu em uma emboscada. Mas a irmã do antigo Zorro, Nah-Lin (Dalia Xiuhcoatl) acha que é merecedora da máscara e vai disputá-la com o protagonista durante boa parte do tempo (algumas vezes de forma bem tediosa).
Outra grande presença feminina é Lolita (Renata Notni), amiga de infância e amor antigo do nosso herói. Ela se ressente muito dele ter partido para a Espanha e nunca ter retornado suas cartas. Como ela lida com isso? Chefiando os peões da fazendo dos pais, caçando com rifle, aprendendo a cavalgar e se tornando muito mais independente que a maioria das mulheres da época. Além de ser um grande colírio aos olhos, a atriz se dedica tanto ao papel que torna Lolita um personagem absolutamente mais crível que o protagonista em muitas cenas!
A Presença de Zorro
O seriado me atingiu de formas positivas e negativas. A artificialidade dos cenários e a juventude demasiada tanto no comportamento quanto na aparência dos atores deixa tudo com um ar de “Malhação“. No entanto a trama é muito boa! Demora pra engrenar nos primeiros episódios, mas depois se torna muito viciante! Carlos Pacheco conduz a história com maestria e nos conduz a um final com um gancho inesperado. Destaque dessa temporada vai pra Paco Tous, o Moscou de La Casa de Papel, aqui fazendo o papel de Bernardo, que conquista o expectador sem dizer uma única palavra!
Portanto recomendo que se você é fã do personagem, dê uma oportunidade à série. Se você não é, infelizmente essa série não vai conseguir lhe convencer a se tornar um. Ao menos eu não vejo a hora de vir a segunda temporada!
Trailer oficial:
Nota 3,5/5
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