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DIA DO ORGULHO NERD | “Cultura do fã” e a expansão dos pequenos eventos

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Cada vez mais pequenos eventos surgem…mas será isso algo a se orgulhar?

 

UM POUCO DA MINHA HISTÓRIA COM EVENTOS DE CULTURA POP

A relação com eventos de cultura pop, ou “eventos de anime” (como também são ainda conhecido por muitos) deste que vos escreve é talvez bastante singular, como a de muitos. Embora eu consumisse produções da cultura pop japonesa talvez desde meus 3 para 4 anos de idade, quando fui apresentado pela minha irmã mais velha a reprises de programas que fizeram parte da infância dela como Flashman, Jaspion e Sharivan que em idos de 1995 iam ao ar nas tardes da TV Record, só fui tomar conhecimento de eventos que reuniam pessoas tão apaixonadas como eu por animes, mangás e tokusatsus já na pré-adolescência, por intermédio das assim intituladas “revistinhas de animes” tais como Anime>DO, Anime EX, Anime Kids, Neo Tokyo e Ultra Jovem.

Talvez isso seja algo que um público mais novo que esteja lendo esse texto nunca tenha experienciado ou só ouvido falar meio que por cima mas, em uma época onde a internet não era tão democratizada e quase fundamental para se viver como hoje, eram através de tais materiais impressos que chegavam até muitas bancas de jornais e lojinhas que vendiam revistas pelo Brasil que todo um público em ebulição se informava sobre as últimas novidades de animes que chegariam às TVs paga e aberta assim como que mangás chegariam às estantes desses mesmos estabelecimentos ou até de outros mais especializados no segmento.

E bem, foi justamente em algumas pequenas sessões de tais revistas que tomei conhecimento de vários dos pequenos ou mesmos grandes encontros de fãs para celebrarem juntos o seu gosto por esse conjunto de produções midiáticas que compõem a peculiar cultura pop japonesa e tive inclusive meu primeiro contato com o termo “cosplay”. Dado o tamanho do meu fascínio pelo assunto e a pouca idade e experiência de vida que tinha, passei a adolescência inteira acreditando que tais convenções eram pra mim um “pedaço do paraíso” na Terra, ainda mais por supostamente ser o lugar onde estaria entre meus iguais e não sendo apontado por outras pessoas de minha faixa etária como um tipo de “figura exótica” de aparência desajeitada, gostos infantis e/ou estranhos e que acabava sendo alvo de toda sorte de piadas e apelidos com base nisso.

Eis que então apenas aos 19 anos eu consigo ter a chance de ir pela primeira vez a um evento, isso já morando fora da minha cidade natal e durante o começo de meu período universitário. Tratava-se de um eventinho interiorano, pequeno comparado a um dos maiores do meu estado e que talvez jamais sairia do papel se não houvesse público o suficiente pra isso. O evento inclusive só veio a receber seu primeiro grande convidado apenas uns dois anos depois em seu sétimo ano de existência, em 2013.

E ao longo desses quase 10 anos percebi uma multiplicação considerável de pequenos eventos no interior do meu estado, tendo ido inclusive em alguns. Até bem recentemente cheguei a tomar conhecimento de um no município vizinho à cidade onde nasci e que inclusive acabei por ir aproveitando o feriado que emendou com o fim de semana.

“Mas onde exatamente você quer chegar com tudo isso?”, talvez você que leu até aqui esteja se perguntando, e é agora que vamos descobrir que “o buraco é mais em baixo”.

CULTURA DO FÃ

Lembro que quando conversei com um conhecido da minha cidade que trabalhava na Secretaria de Cultura sobre a possibilidade de organizar um pequeno evento aos moldes de alguns desses que fui, uma frase que ele disse a mim que eu nunca esqueci e que hoje entendo muito melhor que quando ouvi pela primeira vez era: “Olha, você precisa arranjar um modo de lucrar algo com isso antes mesmo de levar o projeto adiante.” e conforme fui crescendo, fui percebendo que isso definitivamente não foi dito por um acaso ou muito menos como uma forma dele puramente capitalizar em cima da minha própria boa vontade e esforço.

Organizar e manobrar eventos, mesmo que sejam sobre coisas que você goste, é um trabalho como qualquer outro, e como qualquer outro trabalho estressa, exige esforço, metas, organização e uma energia que se não for bem recompensada (ou mesmo autocompensada) não há paixão no mundo pelas atividades ou cultura promovidas que sustente, e aí é que há um ponto que creio valer ser discutido.

No geral é importante entender que muito provavelmente aquele seu jogo, anime ou personagem de HQ favoritos trata-se de uma marca e propriedade intelectual de alguma empresa que muitas vezes nem atua oficialmente no seu país e que por tabela a mesma não gasta metade do que precisaria com profissionais de marketing e imprensa para promovê-los, e por que talvez isso acontece? Bom, eu não sei se de fato há um nome mais apropriado para isso mas resolvi atribuir o nome disso que estou falando como “cultura do fã“, um fenômeno que acontece especialmente no ramo do entretenimento.

A cultura do fã consistiria basicamente em tais corporações meio que “se aproveitarem” da boa vontade de muitos entusiastas de certos segmentos (como anime, jogos, HQs e etc.) em promover aquilo que gostam para não fazerem o “dever de casa” de promover e divulgar seus próprios produtos da maneira mais apropriada de acordo com a realidade do território onde um daqueles produtos ganha certa relevância comercial e cultural.

Isso pode ser observado principalmente no mercado de mangás e animes brasileiros, onde não é de hoje que uma parcela do público observa editoras que publicam mangás e distribuidores que detém os direitos de exibição de animes aparentarem conduzir a divulgação de publicações e exibições de modo bastante desleixado o que acaba fazendo com que o produto muitas vezes dependa dos próprios fãs consolidados de modo indireto para alcançar um público ainda maior e tornarem-se de fato populares.

“Certo, mas qual seria exatamente o problema nisso? O próprio site onde você está escrevendo não seria parte dessa ‘cultura do fã’ que você resolveu criticar?”, calma que o buraco é mais em baixo, e a gente vai chegar lá.

Se você assim como eu um dia já teve contato com revistas sobre anime, mangá ou mesmo outros temas como games deve talvez se lembrar que para ocupar tal posto muitos dos redatores que faziam aquele produto impresso chegar até você era no geral gente que estudou ou estava no caminho para alcançar profissões como o jornalismo e que talvez inspiravam muitos de nós a alcançar um sonho possível que de repente tinha haver com o que gostávamos, não é verdade? Afinal, quem nunca se imaginou um dia crescendo, se formando, escrevendo sobre suas paixões ou hobbies de infância ou adolescência e ainda sendo pago para isso? As mudanças na cultura que permitiram com que atualmente pudéssemos celebrar um “Dia do Orgulho Nerd” possibilitou que sites aos montes surgissem na internet como esse que você está acessando agora, e que aos poucos substituíram os formatos impressos ocasionando uma migração em massa do público para o meio digital, fazendo com que talvez… empregos fossem extintos dentro de departamentos de grandes editoras?

“Ah! Mas não é bem assim, muitas revistas impressas migraram para a internet.”. Sim, muitos antigos profissionais se consolidaram ainda mais com essa mudança assim como novos surgiram, mas ainda existe muito site sustentado por fã por aí que muitas vezes dedica horas de seu tempo e energia por uma atividade que muitas vezes nunca se transformará em uma carreira ou sequer lhe gerará uma renda extra mesmo entregando resultados finais excelentes e por vezes até superiores ao de gente que tem a produção de conteúdo sobre entretenimento como meio pra ganhar a vida e tudo em nome de quê?? Da pura paixão por certos produtos da cultura, que (volto a dizer) nada mais são que propriedades intelectuais de grandes empresas que se simplesmente quiserem derrubam o seu site ou canal sob o pretexto de “você estar ferindo direitos autorais” (tipo uma tal de Nintendo) sem nem ao menos reconhecerem o seu esforço e jogando tudo aquilo que você construiu ladeira abaixo.

“SOU FÃ, QUERO SERVICE!”

É importante entender que no geral, os eventos muitas vezes surgem da vontade de fãs de certas obras, artistas ou atividades se tornarem mais conhecidos e atraírem uma parcela do público para em um ou mais dias específicos do ano de repente se encontrarem para compartilhar tais gostos em comum e se divertirem juntos. Contudo, muitas vezes aquelas pessoas que estão lá dando duro para fazerem os eventos acontecerem muitas vezes embora tenham muita vontade de entregar aos frequentadores a melhor experiência possível ou que eles mesmos gostariam de ter muitas vezes mal alcançam o know-how mínimo para executar o que se propõem ou mal recebem o treinamento para (olha só) promoverem os produtos de várias empresas beneficiadas, que nem ao menos se importam em alcançar o interior do Brasil.

É compreensível que muitas dessas corporações no geral voltem seu olhar para os grandes centros urbanos onde afinal, circula mais gente, e onde haveriam mais potenciais consumidores, mas chega a ser curioso constatar como a própria democratização de produções de entretenimento novamente cai mais nas mãos do próprio público do que mesmo na dos menores agentes de grandes corporações que poderiam estar aproveitando a vontade de tanta gente para fazer algo útil pela difusão do entretenimento como uma forma de descobrir novos talentos para o meio jornalístico, de publicidade ou mesmo de organização de eventos, gerando quem sabe uma perspectiva de futuro em meio a um país tão carente de perspectivas especialmente para os mais jovens, que muitas vezes são quem fazem tais eventos acontecerem.

Não por um acaso, a medida que algumas pessoas envelhecem vão abandonando o contato com objetos que outrora fizeram parte da sua vida e contribuíam para que as mesmas se sentissem felizes. As preocupações com algum trabalho que tenha pouca ou nenhuma relação com o que gostam aumentam, a casa não vai se arrumar sozinha, os filhos necessitam de mais atenção e interação ou os pais é que vão envelhecendo e precisando do cuidado dos filhos hoje maduros e funcionais e por tabela, se cada um não se virar como pode para manter acesa a chama de parte daquilo que o faz feliz, incentivo é que não receberá para isso principalmente daqueles que mais são direta ou indiretamente beneficiados.

Então afinal, o que dizer sobre essas pessoas que ainda investem tanto tempo e energia em promover eventos ou divulgar notícias e informações de conteúdos de organizações que provavelmente nem sabem que existimos?? Um certo crítico musical, não muito popular por várias de suas opiniões por aí, costuma falar que “todo fã é um idiota”, e ainda que haja certa verdade nessa frase e no raciocínio por trás dela, a gente também não pode negar que o que muitas vezes tanto buscamos por vezes seja nos eventos que gostamos de frequentar ou nos nossos sites, blogs e canais favoritos é algum senso de pertencimento, seja a um grupo ou cultura, uma conexão com outras pessoas que tem algo de parecido conosco e que no ritmo acelerado da vida cotidiana nem sempre a gente se encontra para trocar ideia.

Tem quem se aproveite do marketing indireto por essa nossa vontade como fãs e seres humanos? Com certeza tem. Tem quem deixe de fazer o “dever de casa” para entregar tudo nas mãos dos fãs que tem que se virar pra fazer o melhor com o que tem?? Ah, isso tem de sobra. Mas no fim… olhemos para as experiências boas que tais espaços ainda nos proporcionam e na forma como ressignificamos a cultura pop e seus símbolos no nosso crescimento enquanto seres humanos, pois esse é talvez o “capital” mais positivo que herdamos de tanto tempo em tais investimentos, afinal, quando a gente gosta de algo inevitavelmente nosso olhar está mais voltado para os aspectos positivos da coisa além do que…somos fãs e queremos “service“.   

*As opiniões expressas nesse texto são de exclusividade do seu autor não sendo de responsabilidade do site Nerdtrip

          


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29 anos, psicólogo de formação e fã de animes, mangás, dublagem e jogos por essência, além de cosplayer (só quando o financeiro permite).

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