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Críticas

UMA VIDA: A HISTÓRIA DE NICHOLAS WINTON – Alguém que fez a diferença | Crítica do Neófito

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AVISO

O texto abaixo, sobre o filme “Uma Vida: A História de Nicholas Winton”, vai abordar a história verdadeira e de domínio público do personagem real que protagoniza o longa, de modo que, se você não quer nenhum “spoiler”, assista ao filme primeiro e depois leia os comentários abaixo.


Para além da clara expansão da OTAN sobre o “quintal” da Rússia, contrariando expectativas e acordos internacionais, um dos principais motivos alegados por Vladmir Putin para a invasão à Ucrânia estaria o suposto genocídio praticado por este governo contra ucranianos de origem étnica russa que viveriam nas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk.

Em 1938, o governo nazista alemão alegou algo muito parecido com relação à Checoslováquia, a qual Hitler acusava de intencionalmente promover privação às populações de alemães étnicos – chamados Sudetos – os quais viviam nas regiões norte e oeste da fronteira da Alemanha com aquele país.

A população tcheca situada naquelas regiões, principalmente a de origem judaica, fugiu dos territórios inicialmente atacados pelos nazistas (em 1938) e se aglomerou em acampamentos altamente insalubres e precários nas imediações de Praga, sobrevivendo como podia.

Famílias inteiras perderam casas, bens e pertences, enfrentando um inverno feroz, fome e sujeira.

Os países da Liga das Nações “deixaram” Hitler invadir a Checoslováquia achando que, com isso, conseguiriam evitar a explosão de nova guerra mundial de grandes proporções. Dentre tais países, a Inglaterra ainda buscou fazer um trabalho de mediação entre tchecos e alemães, como se qualquer esforço diplomático fosse capaz de conter os avanços do Terceiro Reich. Mas não era.

Em 1939, Hitler invadiu a totalidade da Checoslováquia, cuja ocupação durou até o fim da 2ª Guerra, em 1945.

Foto: Divulgação (dois mitos: o grande ator que dá vida a um grande homem)

Neste interstício – de 1938 a 1939 – um jovem britânico de 29 anos, de origem judaica, cotado como representante inglês para competir nas olimpíadas como esgrimista, ideologicamente socialista, destacado corretor financeiro e agnóstico, Nicholas George Winton, atendendo ao chamado de um amigo querido, passa um mês em Praga, sensibilizando-se profunda e fundamentalmente com o drama das crianças tchecas que vivam naquelas já descritas insalubres condições.

Ao voltar para a Inglaterra, “Nick” Winton inicia uma campanha para tirar de Praga, transportar e conseguir lares provisórios ou permanentes para aquelas indefesas crianças no Reino Unido, diante dos horrores da guerra que se avizinhava e já fazia tantas vítimas.

Era preciso organizar, em tempos completamente analógicos, uma logística absurda de documentação, passaportes, transporte, dinheiro e lares dispostos a acolher o máximo de crianças tchecas possível, cujo total perfazia algo em torno de duas mil.

Junto com sua mãe (Babi Winton, interpretada com a competência de sempre de Helena Bonham Carter) e um grupo de voluntários incansáveis e dedicados, Nicholas Winton consegue, no final das contas, salvar 669 crianças tchecas-judias de terem o mesmo destino das mais de 10 mil que foram mortas pelo regime nazista (apenas 200 crianças tchecas de origem judaica que foram aprisionadas conseguiram sobreviver ao Holocausto).

Foto: Divulgação (o maior inimigo pode ser a burocracia!)

Foram, necessários, porém, quase 50 longos anos para que essa extraordinária história fosse conhecida das pessoas quando, por uma necessidade de arrumar seu escritório, o já envelhecido Winton resolveu se desfazer da pasta em que guardava registro (com foto) de todas as crianças que havia conseguido salvar e uma trágica lista de mais 250 que, no último trem que as traria para a Inglaterra, foram apreendidas pelos nazistas e cujo destino ninguém mais soube dizer.

Esta documentação foi parar nas mãos da produção do programa televisivo That’s Life que promoveu o emocionante encontro de Winton com vários dos sobreviventes e descendentes de sobreviventes da guerra que ele salvou com suas ações.

Em 2015, o denominado “Schindler inglês” foi nomeado cavaleiro pela Rainha Elizabeth, fato, este, reportado por diversos veículos de comunicação ao redor do mundo, inclusive no Brasil.

Esta história fascinante – que pode ser lida no Google ou vista em alguns documentários também facilmente disponíveis na internet – foi transformada no filme Uma Vida: A história Nicholas Winton, dirigido com sobriedade por James Hawes e novamente brilhantemente estrelado pelo grande Anthony Hopkins (ainda estupendo, no alto de seus 86 anos), dando corpo ao Winton de 79 anos e ótimo Johnny Flynn, como o Nicholas jovem.

Hawes optou por um filme convencional, sem estripulias ou maneirismos, usando duas linhas temporais distintas (1988 e 1938) de forma sóbria e orgânica. Caprichou na direção de arte, na reconstrução de época e na cenografia, ainda que sem nenhum laivo de megalomania, tal como cenários grandiosos ou ângulos de câmera estilosos.

Com aquela fleuma britânica típica, o filme transcorre sem pressa e elegância, sempre com uma fotografia meio acinzentada e predominância de cores frias. Claro que, numa história tão pujante, haveria a tentação de se recorrer ao melodrama, mas Hawes busca, na maioria do tempo, fugir dos tradicionais recursos para “fazer a plateia chorar”. Talvez moderadamente carregue na tensão de uma ou outra cena, mas de forma geral, prefere deixar para a própria história se contar e mostrar seu peso próprio.

Mas, quando o momento emocionante chega, mesmo sendo previsível e já conhecido de muita gente que acompanhou a história em noticiários e afins, é praticamente impossível segurar as lágrimas involuntárias no rosto. Sem aviso ou grande espetáculo, em certo momento, o filme dá um soco no estômago do espectador, forçando-o a se desarmar por completo e se entregar à emoção por ver uma história real ser tão carregada de significado como a de Nicholas Winton.

E nisso que reside a força de Uma Vida: A História de Nicholas Winton: conta a história de um homem comum que fez o que achou que precisava fazer para ajudar pessoas que ele nunca havia visto antes, apenas movido pela genuína solidariedade e, como lhe disse um rabino, terminou aquilo que iniciou.

Um pequeno grande filme marcado por mais uma atuação antológica de Anthony Hopkins, que investe na sobriedade, por acreditar na força da história que está contando.

E como é bom ver um exemplo do que a humanidade pode ter de melhor!

Foto: Divulgação (uma imagem que vale mais do que mil palavras!)


Nota: 4 / 5 (ótimo)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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