SR. & SRA. SMITH | Colocando o dedo na ferida dos relacionamentos mal construídos

Senhor e Senhora Smith

Em 1941 Alfred Hitchcock dirigiria “Um Casal do Barulho” (Mr. And Mrs. Smith), uma comédia romântica estrelada por Carole Lombard (como Ann Smith) e Robert Montgomery (como Dave Smith). Na trama, o casal com problemas de diálogo descobre que uma tecnicidade legal não os torna de fato casados, o que causa uma separação forçada. Adotando o gênero “gato e rato”, o casal se alterna em divertidas e coerentes cenas onde se recusam a assinar os papeis do casamento novamente, mas mostrando-se evidentemente um apaixonado pelo outro. Um dos filmes poucos conhecidos do mestre do suspense, foi sua única investida no gênero das comédias românticas.

Poster do filme Sr e Sra Smith

Mas a base do que viemos falar hoje começa em 1996, com Scott Bakula e Maria Belo, na serie Sr. e Sra. Smith. Nesta série, Os Smiths trabalham para uma organização conhecida apenas como “A Fábrica”. Depois de separadamente falharem em suas missões, a organização os coloca para trabalharem juntos, fingindo serem casados. A ideia é que aprendessem um com o outro sobre os erros anteriores. A série nunca passou da primeira temporada, nunca teve um DVD oficial e não está presente em nenhum streaming atual.

Sr. e Sra. Smith, primeira série. Imagem de dvulgação

Foi só em 2005 que o casal Smith voltou ao público, mas desta vez nas telonas. Em Sr. e Sra Smith estrelado por Brad Pitt e Angelina Jolie, os Smiths são assassinos de aluguel de agências concorrentes que são designados para matarem um ao outro. O filme não só foi um sucesso com o público como também serviu de estopim para o relacionamento de Pitt e Jolie.

Poster do filme de 2005. Imagem da internet

O que isso nos mostra? Que espionagem, tecnologia ou burocracia nunca foi o tema de Sr. e Sra. Smith. A ideia central sempre foi o relacionamento conjugal.

Oioi

A série é estrelada por Donald Glover no papel de John Smith. Glover por sinal, é cocriador e coprodutor da série ao lado de Francesca Sloane. Já como sua parceira está Maya Erskine como Jane Smith, uma escolha fenomenal para o papel. A série já começa quebrando todos os paradigmas ao colocar um negro e uma asiática não só como protagonistas, mas também como um casal. As frases tipo “Ah, vocês são um casal?” são bem comuns nos primeiros episódios. Embora o casamento de diferentes etnias no Brasil é algo mais comum, para os americanos é uma cultura que vem sendo quebrada com um pouco de dificuldade nos últimos anos.

John e Jane Smith nos Alpes Italianos. Imagem do episódio

As missões da série são enviadas por agente superior conhecido apenas como “Oioi“. Além disso, são as mais absurdas, como fazer alguém confessar um segredo ou simplesmente raptar um professor nos alpes. E eles nem sempre obtem sucesso nelas, diga-se de passagem. O casal Smith aqui é bem mais falho – muito mais humano.

No fim a gente vai tentando sem muito sucesso entender como funciona a organização que gerencia “Johns” e “Janes” mundo afora. Mas isso acaba nem sendo tão importante no decorrer dos episódios, pois a gente fica vibrando por cada discussão, beijo, abraço, sentimento, afeto e tudo mais que gira em volta do casal Smith. Nunca foi sobre espionagem. Sempre foi sobre entender o outro, em abraçar as diferenças, entre descobrir o querer e o amar.

E quem diria que Wagner Moura seria um Smith? Pois é! Imagem do episódio.

Conclusão

Sr. e Sra. Smith está longe de ser uma série de ação, mesmo que as cenas de luta e tiro sejam muito bem coreografadas. É sim, uma série dramática, sobre duas pessoas totalmente diferentes, que nunca se viram, tentando fazer um relacionamento funcionar. Mais ou menos igual a muitas pessoas no mundo. Pra isso a gente conta com uma fotografia belíssima e um roteiro primoroso, escolhido a dedo. Sem dizer nos diversos diretores que assumem a série, incluindo o próprio Donald Glover.

Há uma frase que escuto muito que é “O casamento é como um submarino: até flutua, mas foi feito pra afundar“. Mas muitos esquecem que um submarino que flutua é um instrumento inútil, já que seu potencial se dá atingindo profundidades impossíveis para seres humanos. Assim é a série, que mergulha de cabeça no potencial humano de fazer um relacionamento funcionar. Por que seja escolhendo um livro preferido ou qual a melhor maneira de eliminar o alvo, o ser humano no fim das contas só quer ser feliz.

O mundo depois da discussão. Imagem de divulgação

É na quebra de expectativas que a gente vê a história do casal se desdobrando de várias maneiras e vamos finalmente conhecendo quem é John Smith e quem é sua companheira Jane Smith. Finalmente, Sr. e Sra. Smith termina com um gancho fabuloso e vai nos deixar roendo os dedos de nervoso para saber o que de fato acontece com o casal Smith. E pra ser sincero, não vejo a hora de retomar à esse casamento!

Nota: 5/5.

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