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Críticas

O DUBLÊ – Uma boa comida requentada | Crítica do Neófito

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Este colunista que lhes escreve tinha onze anos de idade quando estreou, na Rede Globo, a primeira das seis temporadas da série Duro na Queda, estrelada pelo eterno “Homem de Seis Bilhões de Dólares”, Lee Majors; e que serve de base para O Dublê, um dos lançamentos cinematográficos mais aguardados deste primeiro semestre de 2024.

O ano era 1983 e toda a programação televisa ficava a cargo da tv aberta, a qual investia em conteúdos próprios – como novelas, telejornais e programas de auditório – ou naqueles que ficaram conhecidos como “enlatados norte-americanos”.

Duro na Queda (The Fall Guy) – assim como Magnun, Havaí 5.0, Profissão: Perigo (MacGyver) etc. – era um desses programas utilizados para compor a grade de entretenimento das redes de televisão e fez razoável sucesso na época de sua veiculação, gerando até os famosos “bonequinhos” (action figure) sobre seus principais personagens e criando tendência, como o decalque de águia, que nove em cada dez donos de picapes se dispunham a reproduzir em seus veículos.

A estrutura do programa, bem ao gosto da época, era maniqueísta e episódica, quase sem variação: Colt Seavers (personagem de Majors) era requisitado dublê que, durante a folga, trabalhava como caçador de recompensas, com casos contratados pela bela Jody Banks (Heather Thomas).

Em quase 90% das vezes, os episódios começavam com alguma cena situada em set de filmagem, na qual Seavers arriscava o pescoço no lugar de alguma celebridade. Em seguida, surgia Jody trazendo a missão de proteger alguém sob ameaça de morte, o que proporcionava motivos para que o protagonista tivesse que fazer uso de suas habilidades como dublê para lutar, fugir de perseguições automobilísticas, saltar de lugares improváveis e por aí vai.

Era divertidinho.

E, nesse sentido, a onda revisionista e de déficit criativo de Hollywood não ia deixar de fora essa verdadeira “joia bruta”, não é mesmo? Imagina reproduzir a temática dessa série utilizando muito dinheiro (US$ 125 milhões), astros hollywoodianos na crista da onda e o nível dos efeitos especiais contemporâneos? Receita de sucesso, não é?

Bom, se vai bombar ou flopar, não dá para saber ainda. O que dá para garantir é que o diretor escalado, o “operário” David Leitch (Atômica, Deadpool 2, Trem Bala), junto ao roteirista Drew Pearce (Homem de Ferro 3, Hotel Artemis) souberam criar uma boa obra de entretenimento cinematográfico, unindo a premissa básica do material original (dublê de cinema tendo que usar de suas habilidades para trabalhar como detetive improvisado num caso que envolve sumiço de celebridade, assassinato, perseguições, lutas e tiros), com algumas atualizações bem empregadas (como o interesse romântico do protagonista, os motivos para se envolver no complicado caso e, claro, os recursos mais modernos que o cinema atual pode oferecer).

Ajuda, ainda, o fato de, para interpretar seus protagonistas, o cineasta contar, para a contemporânea encarnação de Colt Seavers, com o “queridinho do momento”, Ryan Gosling; e, na modificada caracterização da personagem Jody (Moreno, agora), a cada vez mais bonita Emily Blunt.

Junta-se à dupla a expressiva Hannah Waddingham (Ted Lasso) – escrachadamente caricata – no papel de Gail Meyer, poderosa produtora de cinema; e Aaron Taylor-Johnson (Kick-Ass) como o arquetípico “astro-lixo-hollywoodiano” Tom Ryder, numa performance tão boa que é difícil não profundamente detestar seu personagem.

O elenco de apoio – como Winston Duke (Dan Tucker, melhor amigo de Colt) e Stephanie Hsu (a aspirante a produtora e assistente de Tom Ryder, Alma Milan) – cumpre bem seu papel de, ora alívio cômico, ora trampolim para as peripécias do protagonista, que é, no fim das contas, o que interessa num filme com essa temática. E as cenas de ação são empolgantes e divertidas.

Foto: Divulgação (Blunt, Tucker, Hsu, Gosling, Waddingham, Teresa Palmer, Leitch e Taylor-Johnson, no detalhe)

O roteiro é de uma simplicidade monstro, parecendo mesmo com um episódio da série em que se inspirou, consistindo em várias situações nas quais, por duas horas, Colt Seavers precisa dirigir e saltar com carros em diferentes situações arriscadas; enfrentar bandidos fortemente armados contando apenas com objetos ao seu redor; pular de e em helicópteros/lanchas ou de lugares altos; cair de veículos em alta velocidade e por aí vai. O(s) vilão(ões) da história são facilmente dedutíveis logo que se inicia o segundo ato do longa.

No quesito direção de arte, dá para perceber alguns erros de continuidade e montagem, afinal, para realizar um filme como este, a necessidade de várias tomadas e cortes é gigantesca. A fotografia é bem básica, assim como os efeitos especiais (principalmente no caricato filme que está sendo produzido dentro de O Dublê – que logicamente envolve os personagens – e que serve de pano de fundo da trama do longa).

Já a trilha sonora – pautada em sucessos pops contemporâneos e oitentistas – é muito boa, bem como a sonografia.

A direção de Leitch não é autoral, performática ou marcante, mas bastante competente nas brincadeiras metalinguísticas que apresenta (vide a cena da tela dividida), além de leve. No âmbito da dramaturgia, o cineasta não teve grandes trabalhos. Gosling e Blunt apresentaram uma química surpreendente boa, além de ótimo timing cômico e fisicalidade nas cenas de ação em que estão envolvidos. Gosling chegou até mesmo a realizar algumas das suas cenas perigosas, como explicitado nas cenas durante os créditos.

Foto: Divulgação (“pulando” para o sucesso)

De forma bastante orgânica, O Dublê, mesmo sendo simples – e até burocrático – consegue fazer com que o público se envolva em sua trama bobinha e se pegue involuntariamente rindo das situações cada vez mais absurdas nas quais o protagonista se envolve, torcendo por ele e pela resolução da tensão romântica entre o casal principal.

Apesar das lutas, tiros e algumas mortes, o filme tem pouco sangue em tela, para garantir classificação mais ampla.

E, incrivelmente, apesar da premissa abrir margem para isso, o longa não deixa nenhum indicativo para continuação, algo extremamente raro na Hollywood dos dias de hoje!

Em suma, O Dublê é divertido à beça, como aqueles ótimos episódios de seu seriado televisivo preferido, e ainda prestando honrosa homenagem tanto aos atores da série televisiva, quanto a estes profissionais – os dublês – que, anônimos, garantem a fantasia do cinema acesa, fazendo-nos acreditar que os heróis das telas realmente conseguiriam realizar proezas inimagináveis caso existissem na vida real.

Foto: Divulgação (este o real significado de “se arrebentar” de amor por alguém)


Nota: 3,5 / 5 (muito bom)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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