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Críticas

DUNA: PARTE 2 – Aula de como se fazer ficção científica | Crítica do Neófito

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Duna: Parte 2, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, dia 29 de fevereiro de 2024 – e, por conseguinte, a “parte 1” (2021) – é tudo aquilo (e muito mais!) que Zack Snyder gostaria de conseguir chegar perto de realizar com a seu fraquíssimo universo de Rebel Moon (cuja segunda parte – argh! – chega na Netflix em 19 de abril).

Ou seja, Duna: Parte 2 é “Filme” com “F” maiúsculo: cenas deslumbrantes; efeitos especiais incrivelmente imersivos e realísticos; design de produção ultracaprichado; cenários maravilhosos; som espetacular; trilha sonora arrepiante; elenco principal e de apoio integrados; atuações de convincentes a excepcionais; fotografia de cair o queixo; história envolvente; ritmo acertado; roteiro inspirado; direção extremamente segura, refinada e que sabe onde quer chegar.

Seu diretor, Denis Villeneuve, tem se revelado, sem dúvida de errar, um dos melhores diretores de cinema de sua geração, com uma cinebiografia curta, mas enormemente expressiva (Sicario, A Chegada, Blade Runner 2049 etc., além dos dois Duna’s); sendo dos poucos cineastas atuais que tratam seus filmes com respeito e primazia (lembrando um pouco o perfeccionismo de James Cameron), preocupado com os detalhes, com a estética, sem se esquecer da direção de atores, da história que está sendo contada.

Possui o arrojo da modernidade, sem perder a referência e inspiração dos grandes cineastas que o antecederam (Ridley Scott, Spielberg, Kubrick etc.).

Não é perfeito, mas é um dos poucos a conseguir conceber um épico como esta nova adaptação de Duna – universo criado pela literatura de Frank Herbert (1920-1986) – capaz de conciliar uma devida fidelidade com o material original e, ao mesmo tempo, trazer toques de originalidade, principalmente em partes nas quais o livro deixa em aberto.

Dito isso, vamos à análise – a mais resumida e sem spoilers possível – deste “épico” moderno da ficção científica, que deverá servir, num futuro breve, como objeto de estudo nas faculdades de cinema, quando se discorrer sobre a produção cinematográfica dos anos 2020, a “era dos streamings”.

O design de produção de Duna: Parte 2 é um espetáculo à parte: as naves e máquinas enormes, bem como a arquitetura, armamento e figurinos lembram a ambiciosa e visionária proposta de adaptação iniciada nos anos 1970 pelo cineasta Alejandro Jodorowsky (hoje com 95 anos) que, infelizmente, nunca saiu do papel.

Foto: Divulgação (não é Karatê Kid, mas é a hora da verdade!)

As quase psicodélicas concepções e storyboards feitos pelo quadrinista Moebius (1938-2012) para Jodorowsky estão todos ali: dos desengonçados extratores de especiaria, aos cópteros (helicópteros sem hélices, mas com asas que imitam insetos voadores), passando pela nave do imperador, os hábitos (roupas) das Bene Gesserit e fardas de guerra dos Fremen e Harkonnen, vê-se a assinatura do grande artista francês.

A fotografia de Greig Fraser retira o mais belo das cores, luzes e sombras que dunas desérticas e pores-do-sol áridos podem conceber; bem como das penumbras dos diversos ambientes concebidos: cores quentes no deserto do planeta Arrakis; tons pasteis no interior das construções dos Fremen e paleta de cinza e branco no mundo dos Harkonnen.

Foto: Divulgação (pode o amor e a poesia vencerem a política?)

Os efeitos especiais merecem um comentário especial: em momento algum (numa sala IMAX, de altíssima definição) os aparatos fantásticos daquele universo pareceram artificiais ou transmitiram qualquer sensação de tela verde que tantas produções atuais têm deixado transparecer. São realmente de cair o queixo e belíssimos. A famosa cavalgada nos vermes é incrivelmente bem realizada.

A trilha sonora de Hans Zimmer é imponente e concebida para causar impacto e incômodo proposital. Não é – na opinião deste colunista – o melhor trabalho do renomado e experiente músico, mas é marcante e cumpre seu papel.

Foto: Divulgação (talento e beleza numa fotografia só!)

A direção de atores é excepcional, auxiliada, claro, pela qualidade dos profissionais em tela, recheada de nomes como Javier Barden (fantástico na pele do devoto e guerreiro Fremen Stilgar); Florence Pugh (uma das melhores atrizes de sua geração, como a Princesa Irulan); a magnífica Charlotte Rampling (como a fria manipuladora líder das Bene Gesserit); Josh “Thanos” Brolin (que dispensa apresentações); a linda e excepcional Léa Seydoux (numa participação pequena, mas fundamental); a estrela em ascensão Austin “Elvis Presley” Butler (na pele do perigosíssimo e imprevisível Barão Feyd-Rautha); o icônico Christopher Walken (encarnando o Imperador Shaddam IV); o subestimado Stellan Skarsgård (na asquerosa pele do Barão Vladimir Harkonnen); o esforçado Dave “Drax” Bautista (vivendo o Harkonnen Glossu Rabban); a esforçada Rebecca Ferguson (como Lady Jessica); a incrível Zendaya (na pele de Chani); e o excelente Timothée Chalamet (protagonizando Paul Atreides).

Foto: Divulgação (a bela e a fera… ou seriam a fera e a fera?)

Além de serem ótimos atores, os personagens que encarnaram são, em essência, repletos de camadas e, nos filmes, foram bem desenvolvidos, tornando a receita praticamente infalível. O Paul Atreides de Timothée Chalamet é aquele típico personagem que passa pela Jornada do Herói, mas que, apesar do arquétipo, possui uma coerência e amadurecimento difíceis de se ver em outros heróis similares (como Luke Skywalker, por exemplo). E o jovem ator convence, sem grandes intervenções de maquiagem, apenas na postura e inflexão de voz, que se transformou de um jovem nobre “mimado” num grande líder, capaz de tomar decisões difíceis e conduzir milhares para a guerra e a morte.

O roteiro do filme consegue transpor muita da complexidade filosófica, religiosa e política que a obra de Herbert trazia em seu bojo. Em certa cena, inclusive, fica difícil não estabelecer paralelo com o que vem acontecendo na Faixa de Gaza atualmente, mesmo que as filmagens tenham ocorrido um ano antes dos tristes acontecimentos que de desdobram no Oriente Médio. Até porque, os Fremen lembram, em muitos aspectos, os mulçumanos.

Foto: Divulgação (que estado laico que nada…)

Se há algum problema no roteiro de Duna: Parte 2, este se encontra em algumas passagens de tempo ou cortes que, até por falta de material de base, causam algum estranhamento diante do conjunto tão harmônico conduzido por Villeneuve.

E, já que se tocou no nome do diretor, há que se falar do seu esmero e cuidado com os mínimos detalhes da pré e pós-produção. No que tange à condução do longa, Villeneuve confere um ritmo admirável a Duna: Parte 2, concentrando uma enorme quantidade de acontecimentos, personagens e desdobramentos de forma orgânica nas suas duas horas e meia de projeção. O terço final do filme pode receber a acusação de ter ficado mais apressado do que as duas primeiras partes, mas, ainda assim, analisado isoladamente, possui sua própria e marcante carga dramática.

As cenas de ação – divididas em combates individuais, conflitos de guerrilha e batalhas campais – são muito bem coreografadas e impactantes. O único senão é que, apesar de transmitirem a sensação de o quanto tais combates são violentos e brutais (num trabalho de som muito bom), claramente economizam no sangue derramado, no intuito de pegar classificação mais baixa (haja vista o tamanho do investimento do estúdio e a perspectiva de um terceiro filme à frente). Villeneuve também se mostra bastante pudico no aspecto sexual da obra de Herbert.

Com estes únicos “senões” – afinal, uma obra desta magnitude merece uma análise mais criteriosa ­– Duna: parte 2 é um filme magnífico, para ser curtir no cinema, valendo o preço do ingresso.

Um épico moderno, para ficar encravado na memória e nos corações dos fãs de bom cinema e da saudosa ficção científica.

Snyder deveria ficar envergonhado ou morto de inveja!!!

Ótima viagem nerd neste filmaço, passageiros!!!!

Foto: Divulgação (não se deixe enganar por estes belos olhos azulados!)

 


Nota: 4,5 / 5 (excepcional)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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