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Críticas

THE HANDMAID’S TALE | Crítica da premiada série televisiva produzida pela HULU e MGM

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(Foto: Divulgação)

No último domingo, dia 2 de setembro de 2018, estreou no Brasil, pelo canal pago Paramount, a segunda temporada da premiadíssima série dramática produzida pelo canal de streaming Hulu em parceria com o MGM, que só na sua primeira temporada, de 2017, faturou 8 prêmios Emmy’s, incluindo os de melhor série e atriz dramáticas (para a fantástica Elizabeth Moss).

(Foto: Reprodução)

Trata-se de The Handmaid’s Tale (Os Contos da Aia, em tradução livre), série televisiva baseada no livro homônimo escrito em 1985 pela ‘simpática velhinha’ Margaret Atwood, que fará 79 anos em novembro de 2018.

(Foto: Reprodução)

A série tem se destacado não apenas pelos seus cuidadosos elementos externos – tais como cenografia, figurino, direção etc. – mas também pelo seu tema reflexivo, maduro e de total relevância para o momento atual do planeta.

O NerdTrip, aliás, tem por norma não discutir política, haja vista a enorme polarização que isso provoca; por respeito à opinião pessoal de cada cidadão-eleitor; mas, principalmente, pelo fato de estar direcionado para o entretenimento e não para discussões dessa ordem. Todavia, é impressionante como o programa televisivo sob análise é contemporâneo e flerta com o panorama atual em que governos conservadores e/ou ultraconservadores de direita, muitos deles com apoio de setores religiosos (inclusive no Brasil), têm ascendido ao poder, entre outros fatores, em resposta a um tardio e bem-vindo movimento de empoderamento feminino e de inclusão social das chamadas “minorias”, como gays, negros e imigrantes.

Essa crítica se dividirá em duas partes, cada uma dedicada mais especificamente à cada uma das duas temporadas da série, para que os tripulantes de plantão não se cansem com um texto demasiado longo.

Evitando dar muitos spoilers (mas, infelizmente, fica-se logo avisado que certos trechos da trama precisarão ser descritos no decorrer deste artigo) o enredo de The Handmaid’s Tale aborda um futuro distópico, no qual os EUA, ou grande parte dele, tornaram-se uma ditadura teocrático-cristã fundamentalista denominada Gilead* (Gileade), que, para combater uma ‘epidemia’ de infertilidade que se estabeleceu no mundo – parecida com a retratada no excelente filme Filhos da Esperança, de 2006, dirigido por Alfonso Cuarón – opta, com base em textos bíblicos, retirar o status de cidadãs das mulheres, às quais são privadas de direitos civis, proibidas de trabalhar, de terem acesso a computador ou celular, de ler e escrever (sob pena de mutilação!) e, no casos das poucas férteis, reduzidas à condição de ‘reprodutoras’ para os homens do alto escalão do governo, através de um estupro ritualizado mensal com a participação da esposa, a ser realizado no período de ovulação daquelas, com base na passagem bíblica de Gn, 30:1-3, na qual a até então infértil Raquel, esposa de Jacó, oferece-lhe Bila, sua serva, para que se deitasse com ele e desse filhos para o casal. Segundo esse governo, a infertilidade teria surgido por culpa da luxúria, da ganância e de outros pecados humanos, o que justificaria a utilização da Bíblia como fundamento para o sistema governamental.

*Gileade, na Bíblia, corresponde a uma montanha, conforme Gn, 31:21, que estaria situada entre a “Terra Santa” e o entorno do território sob domínio de Labão, o sogro de Jacó; também é nome da porção de terra que é dada a Maquir, filho de Manassés e neto de José do Egito, conforme Dt, 3:15.

 (Foto: Divulgação / Reprodução de uma cena do estupro mensal ritualizado)

As mulheres, então, nessa Gileade, independentemente de seus títulos acadêmicos, posição social ou profissão no antigo governo estadunidense, passam a ser divididas e classificadas em grupos específicos: as “esposas” (mulheres dos homens do governo ou a serviço deste que gozam de certas prerrogativas na sociedade); as “Martas” (empregadas das casas – destaque para Amanda Brugel no papel de Rita); as “tias” (capatazes e adestradoras das aias); e as “aias” (mulheres férteis utilizadas para a produção de filhos).

(Foto: Divulgação)

No tocante à primeira temporada, não há absolutamente nada que se possa dizer contra o programa, só havendo elogios a fazer.

A ambientação, o figurino, a cenografia, a iluminação, a escolha e direção de atores, a fotografia, o roteiro e seu desenvolvimento, o timing dos flashbacks, a trilha sonora, o ritmo, as interpretações… tudo é irretocável. Menção honrosa à protagonista June, interpretada pela já mencionada premiada atriz norte americana de 36 anos, Elizabeth Moss, cuja entrega à sua personagem chega a ser tocante (a cena do parto no 11º episódio da segunda temporada é especialmente forte, na qual a artista se despe tanto física quanto emocionalmente para dar vida à impactante cena).

Além da natural força do texto de Atwood, altamente crítico, politizado e feminino (atrevo-me a dizer não feminista), a série, principalmente nesta primeira temporada, beneficiou-se também do momento político dos EUA, com a recente posse de Donald Trump e sua conhecida misoginia, truculência e ideologia de extrema direita, todas características do governo de Gileade. A primeira cena da série, inclusive, na qual June é separada à força de sua filha Hanna (Jordana Blake, tocante), que passaria a ser criada por uma “família mais adequada” – e cujo resgate certamente será o leitmotiv da terceira temporada – tornou-se icônica diante das atuais ações anti-imigrações da ‘era Trump’, em que filhos de imigrantes ilegais foram separados de seus pais e deixados em ‘gaiolas’, conforme noticiado por todo mundo.

(Foto: Reprodução)

Mas a série vai além. O protagonismo da história por parte de uma mulher sem superpoderes ou quaisquer características físicas ou de personalidade especiais, que luta para manter a vida, a sanidade e a esperança diante de um contexto coercitivo tão cruel, contando apenas com uma muito humana perseverança, resignação e resiliência, é profundamente digno de aplausos.

June só possui ‘armas’ essencialmente feminis para enfrentar e tentar modificar seu horrendo destino, às vezes tendo que apelar para a sedução e ao domínio do asco por seu ‘comandante’ Fred Waterford – interpretado com várias nuances por Joseph Fiennes (Shakespeare Apaixonado, de 1999). As cenas de estupro mensal ritualizado protagonizadas por Fiennes e Moss, sob a supervisão da esposa, Serena Joy Waterford (Yvonne Strahovski, estupenda), são particularmente incômodas.

(Foto: Reprodução)

O amor desenvolvido pelo motorista de Fred Waterford e membro da polícia secreta do governo, Nick Blaine (Max Minghella, correto) – só confessado em tocante cena no final da segunda temporada – é a “lanterna dos afogados” em que June se segura para conseguir respirar naquele ambiente terrível.

Ann Dowd (The Leftovers), no papel de tia Lydia, precisa ser mencionada, pela profunda maldade justificada da personagem, capaz de abraçar sincera e ternamente uma aia grávida e, ao mesmo tempo, dar choque, queimar, torturar mentalmente ou mandar arrancar um dedo, um olho ou o clitóris daquelas outras que se “comportam de forma inadequada” ao regime.

A primeira temporada termina com June finalmente grávida, sendo levada para um destino incerto, após um corajoso ato de transgressão ao se recusar a apedrejar uma aia criminosa (o que motiva todas as demais colegas a repetir o gesto), tal como no livro. Esta aia criminosa, aliás, a Ofwarren* é interpretada com pungente entrega por Madeline Brewer (The Orange is The New Black), cujo crime foi tentar cometer suicídio junto ao filho que teve para a família do comandante Warren, o qual secretamente extrapolava seus direitos sobre a aia, pedindo a esta favores sexuais para além do estupro mensal ritualizado, sob promessa de melhores condições sociais.

*as mulheres condenadas a serem aias têm seus nomes civis abolidos, passando a ser chamadas pela preposição ‘of” (‘de’) seguida do nome do chefe da família masculino da família. Assim tem–se, offred (‘of’ + ‘Fred’); ofwarren (‘of’ + ‘Warren’) etc.

(Foto: Divulgação)

Pelas inúmeras premiações e críticas positivas desta primeira primorosa temporada, percebe-se o quanto a segunda temporada ficou cercada de enormes expectativas.

Na segunda parte deste artigo, abordaremos se essas expectativas foram ou não correspondidas.

Até amanhã, tripulantes!!!

Nota para a 1ª Temporada:

Pontuação de 0 a 5

Nota: 5

 


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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