Críticas
DIÁRIOS DE INTERCÂMBIO | Crítica do Neófito
Em tempos de total desbaratamento da cultura do país é muito importante valorizar a produção nacional, mesmo quando não é lá grandes coisas, como este filme bilingue da Netflix, Diários de Intercâmbio (direção de Bruno Garotti), estrelado pela “atriz mais simpática da Globo” (segundo chamada de Taísa Szabartura, para o caderno Gente da Revista Isto É, nº 2697), a linda e jovem Larissa Manoela, no papel de Bárbara, a típica brasileira pobre, sonhadora e deslumbrada com a cultura estrangeira, em especial a norte-americana, mas que trabalha como vendedora de assinatura de revista de viagem nos corredores do aeroporto, captando clientes dos passageiros que passam apressados entre “encontros e despedidas”.
Após o inesperado sucesso de Modo Avião – outra produção nacional da Netflix, protagonizada por Larissa Manoela, em 2020 – era esperado que surgissem novos projetos envolvendo a ex-Carrossel e a poderosa plataforma de streaming. Pena que o que saiu dessa nova parceria tenha sido esse longa bastante genérico, previsível, que passa impressão de ter sido feito às pressas e com roteiro preguiçoso.
Nem o fato de ser bilingue (Português e Inglês), contar com atores norte-americanos – David Sherod (Brad), Kathy-Ann Hart (Sheryll), Ray Faiola (Jeff), Maiara Walsh (Kat) –, ter belas locações no norte gelado dos EUA, e de ser uma comédia (romântica), salva o filme de ser esquemático e simplista.
Foto: Divulgação (o elenco se divertiu! a gente nem tanto…)
A comédia pastelão não faz rir como o esperado. A crítica que poderia existir em torno da situação dos brasileiros imigrantes nos EUA não é desenvolvida. O romance inicial não convence. O roteiro simplifica as coisas ao extremo! Por exemplo, bastou a protagonista ler num recorte de revista a expressão “intercâmbio” para conseguir uma bolsa não apenas para ela, mas também para sua melhor amiga Talia (Thati Lopes), a qual acredita na teoria de que os “americanos” querem impedir o crescimento do Brasil para dominar suas reservas de nióbio! Thati é a melhor coisa do filme, capaz de roubas todas as cenas em que aparece, deixando claro que o despudor conquistado nos esquetes do portal Porta dos Fundos foi excelente escola para essa atriz versátil, dinâmica, rápida e realmente engraçada.
Larissa também não faz feio diante das falas sofríveis que são colocadas em sua boca, dedicando-se ao máximo para conferir verossimilhança à sua personagem; mas nem sua simpatia e espontaneidade conseguiriam salvar textos tão primários, ainda por cima entrecortados com sua narrativa em off, que muitas vezes descreve e explica aquilo que já está sendo mostrado em tela.
Os atores gringos parecem se divertir com seus papéis altamente estereotipados, ganhando uns trocados e ainda (supostamente) fazendo nome fora de seu país. Mas vai ser difícil se lembrar muito deles…
…Bem como se recordar da participação de Emanuelle Araújo, no papel de Zoraide, outro arquétipo da brasileira-turista-ilegal – e sensual, claro! – que se veste de Carmem Miranda (mesmo após 66 anos de sua morte!) para cantar axés e sambas nacionais em boate latina, entretendo outros ilegais como ela.
Foto: Divulgação (axé, Emanuelle)
Zoraide também é mãe de Lucas (Bruno Montaleone) – o par romântico de Larissa – que é outro personagem para lá de manjado: brasileiro criado desde criança nos EUA com visto de estudante – que fala Português fluente – mas sonhando entrar para alguma universidade norte-americana para lá permanecer. Os personagens da novela global América (2005), de Glória Perez, devem estar morrendo de inveja dos de Diários de Intercâmbio, que entram fácil nos EUA, logo se enturmam e conhecem outros brasileiros tão legais!
A melhor (ou menos pior) cena do filme envolve uma confusão enorme com praticamente todos os personagens listados acima, que gira em torno do drama vivido por Lucas para conseguir permanecer no país em que foi criado. É, sem dúvida, a mais bem cuidada e coreografa cena do longa, chegando a divertir.
Já a solução final do filme – na forma de uma revelação bombástica – é de uma forçação de barra gritante! Haja coincidência e cegueira por parte daqueles personagens, viu?
Em termos técnicos, a fotografia, nas cenas passadas no Brasil, adotam a desagradável paleta amarelada, que acaba por passar a impressão de que o país ou está sempre um pouco nublado ou com ar pesado e esfumaçado. Nas locações estadunidenses, a paleta vai mais para o azul, o que acaba combinando com o inverno nevante norte-americano. Sem ângulos de câmera ousados, tudo é filmado de forma quadrada e convencional.
Ao final, a tendência é esquecer rapidinho essa bobagem nacional, produzida exclusivamente para faturar algumas moedas em cima do carisma de Larissa Manoela.
Mas não precisa ter medo de encarar Diários de Intercâmbio, caso esteja em dúvidas sobre o que ver na plataforma de streaming. Pode encarar o filme nacional sem receios, afinal, você vai esquecê-lo rapidinho mesmo!
Foto: Divulgação (parece que vai fazer frio…)
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Nota: 2 / 5 (fraco)
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