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Críticas

O ÚLTIMO MERCENÁRIO | Crítica do Neófito

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A década de 1980 foi o paraíso dos filmes de ação estrelados por brucutus como Arnold Schwarzenegger, Sylvester Stallone e Chuck Norris.

A era do “exército de um homem só” fazia a festa da garotada (dentre os quais, este colunista que lhes fala), em produções repletas de músculos à mostra, tiros a rodo, explosões mirabolantes e montanhas de corpos empilhados após a passagem do grande herói americano.

Além da enorme dosagem de testosterona, outra coisa que os astros acima tinham em comum era o fato de que nenhum deles, apesar do físico turbinado, podiam ser chamados de galãs, ao contrário dos atuais Henry Cavill e Chris Hemsworth, que unem corpo hipertrofiado com belíssimos semblantes. Até mesmo aquele que pode ser nomeado como legítimo herdeiro do “trio ternura” citado no primeiro parágrafo, Dwayne “The Rock” Johnson, costuma ser considerado mais esteticamente agradável aos olhos do que eram os agora setentões Arnold e Stallone (Chuck Norris já conta com 81 anos, além de nunca ter sido muito forte).

Mas, no final dos anos 1980 – mais precisamente em 1988, com o filme O Grande Dragão Branco – despontaria para o estrelato dos filmes de ação aquele que, naquela época, unia físico impecável a uma bela “facie”, formada por olhos esverdeados e cabelos loiros escovados, apontando que os brutos também poderiam ser bonitos.

Falamos, claro, do belga faixa-preta e ex-campeão europeu de Karatê Shotokan, dançarino e ator Jean-Claude Van Damme, hoje com 60 anos de idade.

Após seu estouro como a versão fictícia do verdadeiro lutador Frank Dux, em O Grande Dragão Branco, durante os dez anos seguintes, Van Damme – o homem do staccato impossível – disputou os holofotes com os demais atores de ação, estrelando desde filmes puramente “caça-níqueis” (como Duplo Impacto, de 1991) quanto algumas produções mais ousadas e que chegaram a ser elogiadas pela crítica do período (Cyborg: O Dragão do Futuro, de 1989; O Alvo, 1993; e Timecop, de 1994).

Todavia, a mistura de glamour, sucesso, mulheres e dinheiro logo também trouxe para o jovem astro os excessos e as drogas. Muito mais tarde, ele revelaria que pouco se lembrava do que havia feito no único filme que até então havia dirigido –  o irregular Desafio Mortal (1994) – uma vez que esteve chapado durante praticamente toda a filmagem.

A decadência e o quase ostracismo da década de 2000 só não foram mais profundos porque o ator resolveu, após ver as portas de Hollywood se fecharem para ele, partir para a produção de filmes independentes, alguns em que nem aparecia como ator, e ainda que na mesma linha que o havia consagrado, a saber, mistura de ação com artes marciais.

Em 2008, porém, o ator belga aceitou interpretar uma versão fictícia de si mesmo no surpreendentemente bom filme JCVD, cuja performance foi aclamada pela crítica especializada como a segunda melhor do ano, atrás, apenas da hors concours interpretação de Heath Ledger como Coringa em Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008).

Aceitando novos desafios cênicos, Van Damme resolveu se arriscar na comédia rasgada, vivendo a agora paródia de sua persona no filme Bem-vindo à Selva, de 2013, no papel do instrutor Storm.

Foto: Divulgação (Van Damme nos diversos momentos de sua carreira: do estrelato à reinvenção, passando pela derrocada)

Essas duas experiências fora de sua zona de conforto podem ser consideradas a base para a atual investida do ator belga no circuito mainstream, na caprichada produção francesa da Netflix, o filme O Último Mercenário, dirigido por David Charhon, a partir de seu próprio roteiro em parceria com Ismael Sy Savane.

No longa, Van Damme interpreta o ex-agente do serviço secreto francês e atual mercenário Richard Brumère – o “Névoa” – que, em troca de seu silêncio envolvendo a misteriosa missão “bilboquê”, sumiria do mapa definitivamente, desde que seu recém-nascido filho Archibald (interpretado na fase adulta pelo divertido Samir Decazza) fosse beneficiado por pensão e imunidade vitalícias.

Logicamente, 25 anos depois, algo dá errado, haja vista alguém estar usando a identidade de Archibald para cometer infrações sem punição, o que força o temido e renomado “último” mercenário a retornar para a França com o objetivo de proteger o filho já adulto que, evidentemente, odeia o pai por tê-lo abandonado.

A trama é um fiapo, envolvendo um perigoso artefato eletrônico pitorescamente chamado de Big Mac; um bandido Symon (Nassim Lyes), que é louco pelo personagem Tony Montana do filme Scarface; um atrapalhado funcionário público “laranja” Alexandre (o hilário Alban Ivanov); uma ministra francesa Sivardière (Valérie Kaprisky); o ressentido chefe do serviço secreto francês, o Comandante Jouard (Patrick Timsit); a estudante de Psicologia Dalila (a belíssima Assa Sylla); o irmão de Dalina – e traficante de maconha – Momo (Djimo); dois mercenários estrangeiros querendo ganhar fama com a morte de Brumère, e por aí vai. Tudo servindo de desculpa para cenas de luta, de perseguição e de supostas intrigas de espionagem, em sátira escrachada dos filmes de James Bond e Missão Impossível.

Foto: Divulgação (o “A Névoa” e sua inusitada turpe: Dalila, Archibald, Alexandre e Momo)

Van Damme, falando em francês, realmente tenta se divertir com o tom de comédia, seus chutes, socos e o impressionante staccato da cena de abertura, mostrando incrível forma em suas seis décadas de vida! Ele tira sarro de si mesmo o tempo todo – incluindo do seu grande e maior sucesso cinematográfico – e acaba se saindo muito bem.

O restante do elenco está ali apenas para servir de ponte para o ator belga, que, apesar dos esforços, continua dramaturgicamente limitado, porém, à vontade na sua própria desconstrução de herói de ação imbatível e infalível. No entanto, a interpretação de Alban Ivanov merece menção honrosa, pela entrega e humor físico. Simplesmente, a melhor coisa do filme.

Charhon demonstra competência no que se propõe, mas ao mesmo tempo burocrático nas sequências de ação e luta – repletas de cortes rápidos – sem considerar o patamar que alcançaram após os filmes de John Wick. As coreografias são simples e até meio lentas, mas funcionam para o clima de paródia que o longa possui. As perseguições são bem feitas, mas sem inovação. Chega-se ao ponto de não se saber se foram concebidas como homenagem a outras sequências clássicas ou se apenas as copiaram por preguiça do diretor. A estética, nesse sentido, fica algo datada.

A fotografia é clara e bem feita; a cenografia aproveita cenários incomuns da França e os figurinos – como era de se esperar – são atrativo à parte (lembrando que Brumère também é um mestre dos disfarces.

Foto: Divulgação (um dos disfarces do temido mercenário)

Ao final do filme, foram dadas boas risadas dos exageros e excessos da produção que, como quase tudo atualmente, tem potencial para se estender em novas aventuras do A Névoa.

Não vai mudar a vida de ninguém, mas diverte.

Para Jean-Claude Van Damme, porém, representa mais um passo na nova direção que o ex-astro estilo machão pretende dar a atual fase de sua vida e carreira.

Que venha mais!

Foto: Divulgação (o sessentão e suas aberturas)

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Nota: 3 / 5 (bom)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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