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Críticas

365 DIAS FINAIS – O Viagra estragado | Crítica (tardia) do Neófito

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Qualquer pessoa que viva um longo e duradouro relacionamento monogâmico sabe que, inevitavelmente, aquele “fogo” inicial da paixão – que segundo os neurocientistas dura por no máximo 2 anos – vai se arrefecer e que a rotina irá se impor à relação.

Aquela velha piada que propõe o desafio de, nos dois primeiros anos de casamento o casal colocar, para cada vez que se faz amor, um grão de feijão num grande pote de vidro – que rapidamente irá se encher – e, após esse período, inverter a lógica e retirar um grão a cada nova transa, sem nunca mais o conseguir esvaziar – quem diria! – tem alguma lógica científica!

Sexólogas renomadas, tais como Esther Perel (cenário internacional) e Ana Canosa (âmbito nacional), debruçaram-se sobre o tema da rotina sexual, esclarecendo que, para que o sexo permaneça vivo entre casais de relações afetivas longas, é preciso conscientemente investir na temática e na prática, arriscar (sempre na medida do consentimento mútuo), predispor-se ao ato e ser criativo, caso contrário, o desejo tende, realmente, a se acomodar na repetição até o desinteresse, com consequências imprevisíveis.

Ao se assistir 365 Dias Finais – terceiro capítulo da saga cinematográfica baseada na homônima trilogia erótica da polonesa Blanka Lipińska – a sensação que fica é exatamente essa: de rotina, repetição e muito lugar comum (além de sexo ruim!).

Isso faz lembrar outra anedota de duplo sentido, que diz que, por mais que você tenha condições de comer picanha todo dia, tem uma hora que você vai querer comer carne moída!

Foto: Divulgação (esse Massimo é o máximo!)

Filmes eróticos servem, em essência e sem meias palavras, para estimular a imaginação, despertar desejo e fantasia na audiência por meio de uma quebra de padrão. A saga “50 Tons…”, abstração feita à sua qualidade literária (ou à falta dela), pelo menos tinha – graças à sua pegada BDSM numa história de Cinderela moderna – um tom de novidade, de segredo, de proibido e apresentava um crescendo nas cenas eróticas que, nos livros, chegavam a ser bastante explícitas; afinal, nunca se sabia o que podia advir do “Quarto Vermelho da Dor”.

Já a saga 365 Dias, após o primeiro capítulo (2020) mais transgressor – que envolvia sequestro, Síndrome de Estocolmo, erotismo e romance – cai numa repetição decepcionante. O casal de protagonistas – Laura (Anna-Maria Sieklucka) e Massimo (Michele Morrone) – continuam lindos, porém, reduzidos a máquinas de sexo descerebradas que transam loucamente a qualquer momento e pretexto, como se tivessem uma inesgotável fonte de tesão, ainda que sem qualquer criatividade! E, na mesma (falta de) medida, brigam passionalmente por ciúmes, poder, controle, machismo, sexismo e chauvinismo.

Desse modo, o grande objetivo de obras como essa – estimular a imaginação e o desejo de quem a consome – acaba se perdendo completamente.

A solução para fugir da mesmice circular de temas e cenas foi a introdução, no segundo filme (2022), de um terceiro elemento na relação já naturalmente tóxica do casal de protagonistas, na figura do gatíssimo Simone Susinna, no papel do filho-mafioso-bozinho-sonhador-idealista, Nacho. O objetivo seria criar, por meio do triângulo amoroso, uma tensão erótica extra para Laura, alternando seu parceiro característico de malabarismos sexuais.

Foto: Divulgação (quem não vai querer tirar um “naco” desse Nacho?)

O problema da saga 365 Dias…, porém, está na própria concepção dos personagens e da trama. Laura e Massimo são adultos, puramente heterossexuais e bem resolvidos sexualmente, mas ligados numa relação tóxica e, ao mesmo tempo, extremamente tradicional (no quesito conjugação carnal), sem nenhum elemento de perversão ou de extrapolação de limites, como nos já citados jogos de bondage da trilogia 50 Tons…, ou como, por exemplo, no antigo (mas ainda altamente erótico) 9 ½ Semanas de Amor, de 1986, no qual o personagem John Gray (vivido por um, na época, inacreditavelmente lindo Mickey Rourke) foi das brincadeiras com gelo e comida com sua parceira Elizabeth (a deslumbrante Kim Basinger), passando por sexo em público e strip-tease, ao ménage não consentido e atos de dominação e humilhação.

Na saga 365 Dias…, apesar das caras e bocas dos personagens principais e dos cenários (que deveriam ser) inusitados ou repletos de iluminação bem planejada, o que se vê é o tradicional “sexo baunilha” entre Laura e Massimo ou Laura e Nacho, em tomadas e concepções que lembram demasiadamente aqueles infames filmes softcores que faziam a alegria dos adolescentes nas madrugadas de sábado, veiculados nas sessões do Cine Privê, da TV Bandeirantes.

A única cena de 365 Dias Finais que merece alguma nota adicional neste terceiro e (supostamente) último filme da série, que foge da mesmice, é um breve e inusitado ménage (bem ao estilo de Esaú e Jacó, de Machado de Assis), que foge do estereótipo heteronormativo e machista que tanto predomina na saga. Mas, para quem quiser ver uma cena não explícita de três pessoas transando, certamente vai se satisfazer bem mais com a que foi mostrada em Verdades Secretas 2, da TV Globo (2021), protagonizada pela personagem feminina realmente bad ass, Giovanna, interpretada com extrema dedicação e despudor pela linda e talentosa Agatha Moreira.

No mais, o roteiro é de uma preguiça inominável. Claro que, a partir do final de 365 Dias: Hoje, Laura perdeu o filho do qual estava grávida, para que ela e Massimo possam voltar a transar sem nenhum empecilho; é certo que Massimo, após (de novo!) transar loucamente com Laura, vai questionar a fidelidade da mulher enquanto ela esteve sob a proteção de Nacho; lógico que eles vão discutir e brigar e que ela vai “fugir” (pela enésima vez) das garras machistas e sexistas do marido mafioso-cafajeste; evidentemente que ocorrerá o reencontro com Nacho, que vai se mostrar incrivelmente fofo e apaixonado; sem dúvidas que ela vai ficar dividida “entre dois amores”; óbvio que ocorrerá uma cena de sexo com câmera circulando em 360º; inquestionável que o final seria, como nos dois filmes anteriores, “aberto”, inconsistente, vago e falsamente rimando com o início de tudo: o sequestrador – que pegou a mulher à força para a convencer se apaixonar por ele – agora liberta sua vítima para escolher quem ela quiser (teremos um quarto capítulo??).

365 Dias Finais só tem mesmo de atraente e fetichezante os cenários deslumbrantes nos quais as “tramas” se desenrolam, muito bem captadas pela lente de Bartek Cierlica, o competente diretor de fotografia da saga erótico-cinematográfica. Já os diretores Barbara Bialowas e Tomasz Mandes demonstram pouquíssimo talento para extrair interpretações menos caricaturais de seu elenco masculino e de apoio, sendo Anna-Maria Sieklucka (Laura), a única que consegue, apesar dos diálogos inacreditavelmente sofríveis e roteiro esquemático e de pobreza espantosa, a transmitir alguma verdade e um mínimo de profundidade de sua personagem (se é que se possa usar o termo “profundidade” para essa obra!).

Se você tem curiosidade mórbida de ver a conclusão (ou não) da saga do casal (ou triângulo) disfuncional de Laura e Massimo (ou talvez Nacho), aproveitando para curtir belas paisagens europeias, uma Torre de Babel de idiomas, belos corpos masculinos e exclusivamente Sieklucka seminus, em cenas de sexo soft repetitivas (mas bem iluminadas), então 365 Dias Finais é para você.

Mas se deseja um filme realmente mais picante, então, além das sugestões esparsas acima, opte até mesmo pelo remake de Dona Flor e Seus Dois Maridos, protagonizado pela Juliana Paes, que certamente será mais caliente do que a saga da polonesa objetificada e dividida entre dois mafiosos musculosos e complicados.

Foto: Divulgação (entre dois canastrõe…, digo, “amores”)


Nota: 1 / 5 (ruim)

 

 

 

 

 

 

 

 


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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