MUNDO MISTÉRIO | Crítica do Neófito

Os anos 2000, mais especificamente após 2010, marcaram o surgimento de uma nova profissão, até então impensável para a geração anterior: os youtubers ou influenciadores digitais.

Nomes como Felipe Neto, Atila Iamarino, Whindersson Nunes, Kéfera – e muitos outros – despontaram do nada para frequentarem diariamente milhões de telas de computadores, notebooks, tablets e smartphones. Alguns deles, aliás, chegaram a extrapolar o nicho inicial dos seus canais digitais para alcançarem a grande mídia, tornando-se atores, apresentadores e figuras representativas no debate cultural e até mesmo político do país.

Afinal, quem não viu filmes e programas de televisão estrelados pelo piauiense Whindersson, além de ter acompanhado a compra de seu jatinho particular, sua crise de depressão e seu movimentado romance, casamento e divórcio com Luisa Sonza? Quem não ouviu alguma coisa sobre as palestras e previsões pandêmicas de Atila Iamarino? E os filmes estrelados por Kéfera? E a importante incursão política de Felipe Neto na bienal do Rio de Janeiro e, mais recentemente, em posicionamentos contrários ao governo federal?

Alguns youtubers, como o Canal do Pirula (comandado por Paulo Miranda, o “Pirula”), destacam-se pelo caráter mais técnico de sua influenciação digital, enquanto outros – como o colega Peter, do Ei Nerd! – centram suas forças na emissão de opiniões críticas sobre a cultura pop, nerd e afins, sempre com uma camada de bom humor. Há, claro, aqueles que nem merecem ser citados, haja vista a baixa qualidade do que apresentam, mesmo quando dotados de elaborados recursos técnicos para suas filmagens. Portanto, não há como negar que a internet, hoje, é certamente um importante veículo de imprensa, ainda que sem muito controle de qualidade no tocante ao seu conteúdo.

Contudo, dentro do universo de influenciadores que prezam por um conteúdo mais embasado, o paulista Felipe Castanhari, que inaugurou o seu Canal Nostalgia em 2011, deve ser obrigatoriamente citado. Até mesmo a Forbes Brasil reconheceu nele um dos 30 jovens mais promissores do país, no ano de 2016!

Foram precisos, porém, mais 4 anos depois do reconhecimento da renomada publicação para que Castanhari alçasse voos mais altos. E, quando o fez, é preciso dizer que fez muito bem feito!

O programa Mundo Mistério, da Netflix, comandado por ele, é uma ótima opção diferenciada para quem gosta de se informar, conhecer curiosidades e, acima de tudo, aprender, numa embalagem divertida e altamente didática!

Trata-se de um programa educacional, leve e pedagógico, mas com bastante conteúdo, ótima produção, belíssima fotografia com locações ao redor do mundo, apresentado por Castanhari e coadjuvado por alguns personagens fictícios, todos lotados em um laboratório de pesquisas avançadas, chefiado pela brilhante e linda cientista Drª. Thay (Lilian Regina), a I.A. Briggs (voz de Guilherme Briggs) e assessorado pelo alívio cômico Betinho (Bruno Miranda).

Foto: Divulgação

O programa – nesta primeira temporada com 8 episódios – esclarece curiosidades sobre o Triângulo das Bermudas (o 1º e mais fraco episódio); sobre a Peste Negra (episódio 2); sobre a possibilidade de Viagem no Tempo (episódio 3); sobre a evolução do “melhor amigo do homem”, o cão (episódio 4); sobre a probabilidade científica de existirem zumbis (episódio 5); sobre as Grandes Extinções pelas quais o planeta Terra já passou (episódio 6); sobre o futuro das Inteligências Artificiais (episódio 7); e sobre a triste situação ambiental do planeta (o oitavo e último que, sem dúvidas, é o melhor episódio da temporada).

O programa foi gravado em 4K, o que garante um desbunde visual para as imagens subaquáticas, da Ilha de Bermudas, das geleiras do Ártico etc. E, tirando o primeiro episódio – claramente marcado por uma busca pelo tom mais adequado para o programa, em no qual tanto o apresentador quanto os atores se mostraram duros em cena – toda a temporada é marcada pelo esclarecimento de forma divertida, que em alguma medida chega a lembrar dos primeiros anos do Telecurso da Fundação Roberto Marinho, veiculado por anos pela Rede Globo, mas com muito mais sofisticação, efeitos especiais e conteúdos diversificados.

Muito bacana ver as teorias malucas e as mais cientificamente prováveis para os muitos desaparecimentos no Triângulo das Bermudas, bem como a especulação sobre viagens no tempo e a existência de zumbis. A partir do segundo episódio, Castanhari demonstra ter ficado à vontade na frente do programa, conduzindo-o de forma competente e saborosa.

Há alguma crítica esparsa sobre a fundamentação do conteúdo científico apresentado, mas, no geral, não dá para encontrar nada que desabone o que é veiculado.

De modo que Mundo Mistério é uma grata surpresa nacional na enorme grade de opções da Netflix, que pode ensinar à garotada (e também à “adultada”), servir de material didático para professores em tempos de pandemia, além de ser uma excelente opção de entretenimento!

Para terminar, é importante dizer que o último episódio – sobre aquecimento global, desmatamento e preservação da natureza – é o mais crítico de todos, merecendo a atenção não apenas do público comum, mas também de empresários e políticos que conduzem o mundo em que vivemos…

Parabéns à Netflix e ao Castanhari pela ótima produção!

Foto: Divulgação

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Nota: 4 / 5 (ótimo)

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