Críticas
COBRA KAI S02 | Crítica (tardia) do Neófito
Essa crítica é realmente “tardia”, afinal, a primeira temporada foi lançada em 2018 e a segunda em maio de 2019).
Apesar da primeira temporada da série Cobra Kai – lançada originalmente pelo Youtube e agora adquirida e disponibilizada pela gigante Netflix – ter sido brilhantemente analisada pelo Dom Giovanni e seu digníssimo cônjuge Aline Giugni há dois anos (confira aqui), coube a este colunista trazer algumas impressões – ainda que realmente “tardias” – sobre o segundo ano do programa (estreado em maio de 2019), que revisita o universo da franquia Karate Kid original (primeiro filme, 1984; segundo, 1986; terceiro, 1989; quarto, 1994), para nos mostrar como está a vida de Daniel Larusso (Ralph Macchio), Sr. Miyagi (Pat Morita – morto em 2005) e Jonnhy Lawrence (William Zabka), 34 anos após os eventos do primeiro filme.
Foto: Divulgação
A série é um deleite só!
Para os apreciadores da franquia original (exceção ao quarto filme, que foi estrelado pela iniciante e hoje duplamente oscarizada Hilary Swank no lugar de Ralph Macchio), Cobra Kai é pura nostalgia: dos personagens conhecidos, passando pela ambientação, às músicas que compõem o show, tudo remete ao clima dos filmes que marcaram a geração oitentista.
Mas o legal é que a série televisiva não se circunscreve a repetir as fórmulas consagradas dos filmes, indo além da proposta original, para aprofundar em certos aspectos e nos personagens antigos e novos.
Com algumas pequenas subversões à história contada na década de 1980, o grande acerto da série – principalmente neste seu segundo ano – foi focar e praticamente dar o protagonismo do programa para o antigo nêmesis do herói Daniel Larusso, isto é, deixando que a série seja conduzida pelo personagem de Jonnhy Lawrence. De um rapaz aparentemente rico e playboy, Lawrence, agora, mostra-se decadente, beberrão, morando num buraco, um verdadeiro loser, apegado ao seu passado de glórias no caratê e no colégio (onde era um dos descolados). Ainda por cima, tem um filho jogado ao léu e – quase naturalmente – se entregando ao crime. O personagem, assim, vê-se no tatame da vida (desculpem a metáfora ultracafona) em combate contra si mesmo!
Foto: Divulgação
Com isso, Daniel Larusso acaba, às vezes, quase se tornando um vilão involuntário, sempre bom moço e bem intencionado, mas tão preso ao passado quanto seu antigo adversário, o que o impede de ver que a vida prosseguiu, que ele enriqueceu, tornou-se um símbolo do american dream, literalmente vencendo a luta! Parece que as surras que ele levou de Lawrence e sua gangue antes de se tornar discípulo bem sucedido do Sr. Miyagi, ainda doem e mantêm suas marcas na sua alma. Porém, enquanto seu adversário caiu em desgraça, ele prosperou muito, não tendo muito sentido seu antagonismo quase irracional.
Jonnhy, ao contrário, está lutando não mais contra Daniel “san” – que se torna apenas um símbolo dos seus “inimigos reais” – mas contra suas decisões pessoais e formação equivocadas por parte do padrasto e do seu famigerado sensei John Kreese (novamente interpretado de forma brilhante por Martin Kove), que, inclusive, emerge – quase literalmente – das sombras de Lawrence.
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A evolução do personagem é muito bem conduzida e o episódio desta segunda temporada no qual ele reencontra seus antigos amigos de escola – todos barrigudinhos, carecas ou doentes – chega a ser de uma sensibilidade tocante: com a maturidade, eles conseguem ver o estrago que sofreram pela má condução de que foram objeto, mas o afeto entre eles é genuíno! Um dos melhores episódios das duas temporadas.
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Os personagens jovens – encabeçado pela filha de Daniel, Samantha (Mary Mouser); pelo filho de Jonnhy, Robby (Taner Buchanan); e pelo latino sem pai, Miguel Diaz (Xolo Maridueña), além dos outros – têm seu espaço para brilhar e lutar quase que a todo momento, mas a estrela de Cobra Kai é, de fato, o “ex-vilão” – e agora anti-herói – Jonnhy Lawrence. Não que ele seja inocente ou bonzinho, mas a sua busca por redenção é legítima.
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As cenas de luta, apesar de não serem de todo ruins, são claramente muito coreografadas, apresentando um mínimo de sangue, dentes quebrados ou machucados correspondentes aos golpes sofridos, o que prejudica o realismo da série. Apenas no último episódio desta segunda temporada é que uma briga generalizada, longa (e até mesmo exagerada) entre os polos Cobra Kai dojô e Miyagi dojô, gera alguma sequela de fato, abrindo um arco interessante para o próximo ano do programa, cuja ambientação (já anunciada) será em parte transportada para a Okinawa do Sr. Miyagi, na qual ocorre a ação de Karate Kid II. Será – uma vez que a personagem Ali Mills de Karate Kid I (Elisabeth Shue) dá todo indício de que retornará para a terceira temporada e a vida de Jonnhy Lawrence – que Daniel Larusso também terá um reencontro com a belíssima Kumiko (Tamlyn Tomita), seu par romântico no segundo filme da franquia e por quem lutou quase até a morte?
Foto: Divulgação
Para os cinquentões por aí (lembrando que Ralph Macchio está com 58 anos!!!), que tentaram repetir o golpe da garça inúmeras vezes e que dançaram ao som de Glory of Love na voz de Peter Cetera, e para os jovens que gostam de uma série despretensiosa mas muito bem feitinha, Cobra Kai é uma excelente opção para maratonar, contando com episódios curtos, muito bem produzidos e altamente nostálgicos e divertidos.
Que venha logo – após essa pandemia – a terceira temporada!!
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Nota: 4 / 5 (ótimo)
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