Críticas
DUNA | Crítica do Neófito
Pense numa junção de Game of Thrones com Star Wars!
Conseguiu imaginar?
Então você conseguiu conceber essa terceira adaptação de Duna, a clássica ficção científica criada por Frank Herbert no distante ano de 1965 e que, segundo Neil Gaiman, no prefácio da nova edição do livro, trata-se, simplesmente, do “melhor dos grandes romances de ficção científica, e o que mais se manteve relevante”!
A primeira adaptação data de 1984, dirigida por David Lynch (Twin Peaks), que contava, inclusive com o Sting em um dos papeis principais, tendo sido marcada por uma série de problemas entre o diretor e o estúdio, com resultado final meio que execrado pela crítica e fãs da obra literária (apesar dos aplausos do escritor!).
A segunda adaptação, desta vez em formato de série televisiva, data de 2000, produzida pelo Sci Fi Channel, com atores menos conhecidos, à exceção de William Hurt, no papel do Duque Leto Astreides, pai do herói da saga. Ao contrário do filme de 84, essa adaptação foi bastante elogiada à época, contando com bons efeitos especiais e produção caprichada. Mesmo assim, pouca gente lembra.
Já essa nova adaptação – dirigida pelo atual queridinho de Hollywood, Denis Villeneuve – é épica em vários sentidos.
Os efeitos especiais são deslumbrantes (os Vermes da Areia, por exemplo, são maravilhosamente assustadores; fica apenas uma certa decepção com o famoso “escudo” utilizado pelos guerreiros na hora das lutas, com solução bem pobre para o padrão restante do longa). A fotografia – a cargo de Greg Fraiser (de Rogue One) – extrai beleza tanto da paisagem árida, causticante e arenosa do planeta deserto Arrakis, quanto dos cenários mais escuros, frios e chuvosos dos demais planetas do Império Galáctico. As (poucas) cenas de batalha e luta são grandiosas e cuidadosamente coreografadas, em meio a naves gigantescas, explosões monumentais e cenário transcendente. Os aspectos político, ecológico e filosófico são trabalhados com calma (muitos estão dizendo “parcimônia”) e reverência às concepções do autor do romance. A direção dos vários astros – Oscar Isaac (Leto Astreides, irrepreensível), Josh Brolin (Gurney, competente e preciso), Jason Momoa (Ducan, o mais de sempre), Rebecca Fergunson (Lady Jessica, às vezes muito sofrida), Javier Barden (Stilgar, ótimo), Stellan Skarsgård (Barão Vladimir Harkonnen, irreconhecível e perfeitamente execrável), Charlotte Rampling (Gaius Helen Mohiam, estereotipada), Dave Bautista (Glossu Rabban, limitado), Zendaya (Chani, pouquíssima presença em tela) – é muito boa, com destaque para Timothée Chalamet (Paul Astreides), de quem voltaremos a falar mais à frente. O roteiro tenta ser o mais fiel possível ao material original, o que tem sido, inclusive, servido de objeto para várias críticas negativas ao filme, o qual, segundo tais análises, teria ficado pesado ou excessivamente preso, com prejuízo do ritmo entre outras conclusões similares. O que talvez não se perceba é que a fidelidade ao material original naturalmente implicaria no cadenciamento das sequências e do roteiro, uma vez que o escritor dos livros concebeu sua história em tempos menos acelerados do que os de hoje.
Foto: Divulgação (bichinho de estimação)
A trama – para os não iniciados – envolve o envio da Casa Astreides, um dos reinos estelares integrantes do Império Galáctico, chefiada por Leto Astreides (Oscar Isaac), ao lado de sua concubina Jessica (Rebecca Fergunson) e seu filho-herdeiro Paul Astreides (Timothée Chalamet), para comandar, em substituição à brutal Casa Harkonnen, o planeta deserto (mas extremamente lucrativo) Arrakis, de onde a mais preciosa substância da galáxia – a especiaria (capaz de prolongar a vida e aumentar a capacidade cerebral) – é explorada e exportada para os demais planetas. Só que essa missão imperial envolve muito mais coisas, como luta pelo poder, ambição desenfreada, antigas inimizades, traições, religião poderosa e profecias místico-religiosas, que culminam em intrigas e disputas pelo precioso produto de Duna (outro nome do planeta desértico), sempre com opressão aos Fremen’s, nativos de Arrakis, impedidos de tornarem seu planeta fértil e produtivo.
Com tais elementos, Frank Herbert faz metáfora sobre uma série de assuntos, como a estrutura feudal da Idade Média, aplicada à realidade geopolítica de meados do século XX; a Igreja Católica (na figura das Bene Gesserit); as ações estratégicas da Guerra Fria com relação ao Oriente Médio e países (então) subdesenvolvidos (por exemplo, na opressão aos Fremen). A especiaria dialoga com a contracultura da década de 1960, podendo facilmente ser associada à difusão dos psicotrópicos daquele período. Além disso, o texto de Herbet flerta com a Filosofia e a religiosidade (principalmente a mística cristã), no tocante às expectativas sobre a possível predestinação de Paulo Astreides (alguém aí citou Matrix??).
A estética e estilo de Villeneuve se fazem presentes e marcantes, tanto na condução épica do filme, quanto nos aspectos técnicos. Quem assistiu a Blade Runner 2049, A Chegada e Sicario: Terra de Ninguém, vai rapidamente perceber o mesmo ritmo e as rimas visuais com relação às duas citadas ficções científicas; bem como a pegada mais intimista do roteiro, como no excelente filme sobre o tráfico de drogas na fronteira México/EUA, de 2015, protagonizado pelo fenomenal Benicio Del Toro.
Foto: Divulgação (de repente, sua vida é virada de cabeça para baixo)
Com tudo isso, Duna se torna um filme mais lento do que os blockbusters atuais, sem pressa de desenvolver sua história e personagens, o que ajuda na estupenda concepção do franzino Chalamet para seu Paul Astreides, inicialmente transpirando ingenuidade meio irresponsável, para terminar como um jovem homem amadurecido na marra, grave e tomado de grandes responsabilidades. A transição que o ator confere ao seu personagem é digna de, pelo menos, uma indicação ao Oscar.
O ponto negativo vai para a trilha sonora exagerada, meio fora do padrão de excelência de Hans Zimmer. Extremamente dissonante, a trilha mistura elementos de música árabe (e seus vocais catárticos) com a escocesa (inclusive com a participação literal de uma gaita de fole em certa cena do filme). Certas sequências, inclusive, parecem depender muito das intrusivas melodias para transmitir sua carga dramática, o que nunca é bom sinal, principalmente em filmes tão visuais como Duna. Daí a navinha a menos na avaliação final.
Duna também foi claramente concebido como a primeira parte de uma saga ou até mesmo franquia cinematográfica e, pelo que tudo indica – principalmente após a fala de Ann Sarnoff, presidente da Warner Media Studio, em entrevista para a Deadline, novos filmes deste universo serão anunciados em breve, inclusive, para um maior desenvolvimento da personagem Chani, vivida por Zendaya, que tem pouquíssimas falas e cenas no filme (os diversos flashes de Paul sobre ela são sempre rápidos). Villeneuve, aliás, disse que um segundo filme seria focado nela.
Foto: Divulgação (por enquanto, Zendaya só embelezou o filme)
Por fim, pode-se dizer que Duna é uma excelente experiência cinematográfica, de uma obra que serviu de referência para várias sagas acima citadas, como GoT, Star Wars e até mesmo Matrix, que muitas vezes pegaram apenas um elemento isolado da criação de Herbert para desenvolverem suas mitologias.
Muita gente pode virar o nariz para o ritmo mais cadenciado e intimista, mas, em tempos tão atribulados, chega a ser balsamizante ver a uma obra mais bem acabada e cuidadosa (apesar da irritante trilha sonora!).
Foto: Divulgação (é muita areia pro caminhão de qualquer um!)
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Nota: 4 / 5 (ótimo)
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