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Críticas

UMA QUEDINHA DE NATAL | Crítica do Neófito

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Na medida em que se assiste a mais e mais filmes com olhar crítico, vai-se percebendo o esquematismo (ou fórmulas) que os roteiros adotam, uma vez definido o gênero (e subgênero) ao qual a produção pertencerá!

No caso das comédias românticas, os caminhos das histórias são claramente identificáveis: a) o casal deve vir de diferente contexto de vida, que pode ser classe social, etnia, raça ou apenas visões de mundo, não sendo incomum que tal diferença crie alguma situação problemática que deverá ser resolvida no final do filme, como provação máxima ao amor dos pombinhos; b) a princípio ocorrerá alguma animosidade entre os pares que, ao longo do filme irá se mostrar superficial ou mera fachada identitária utilizada pelos personagens; c) não demorará para que a atração entre o casal se estabeleça de forma inconteste, apesar de os dois poderem negar tal sentimento logo de saída; d) a paixão explodirá sem medidas e eles viverão o que parecerá o nirvana romântico; e) aquela “situação problemática” virá à tona, colocando o amor dos protagonistas à prova; f) o casal precisará superar o problema por meio de alguma demonstração pública e inconteste de amor; g) viverão felizes para sempre.

Podem ocorrer pequenas variações neste esquema, principalmente em termos de forma, mas o cerne – encontro, paixão, provação, superação – permanecerá com estrutura do gênero cinematográfico.

Isso acaba por tirar do espectador mais calejado, ou do comentarista crítico, boa parte da magia do cinema, constituindo-se como um dos critérios da boa produção cinematográfica, justamente, a capacidade de fazer com que o olhar puramente frio e técnico seja suplantado pela emoção, permitindo que a pessoa abstraia e se deixe levar pela história e personagens; emocionando apesar da presença dos elementos constitutivos do filme de gênero.

Dito isto, é preciso dizer, de cara, que o média-metragem Uma Quedinha de Natal (Falling for Christmas), nova aposta da Netflix no gênero comédia romântica – e que ainda se insere no subgênero filme de Natal – pertence à categoria daquelas produções que, infelizmente, não conseguem afastar o olhar crítico do observador, sendo completamente esquemática, rígida e completamente subserviente às fórmulas de roteiro pré-estabelecidas.

Para além dessa constatação, é preciso reconhecer que o filme tem, também, o objetivo claro de promover o ressurgimento das cinzas da ex-queridinha da América, Lindsay Lohan, após seus anos afundada em polêmicas, álcool, drogas e produções para lá de questionáveis.

Neste sentido, a atriz interpreta a jovem mimada herdeira de um império hoteleiro de inverno Sierra Belmont, filha do magnata (e bipolar) Beauregard Belmont (Jack Wagner), e namorada do digital influencer (e completamente idiota) Tad Fairchild (George Young, exagerado e caricato). O problema já começa aí: Lohan, no alto de seus 36 anos e várias aplicações de Botox e colágeno para recuperar seu rosto de 20 anos atrás, claramente dá vida a uma personagem que deve ter, no máximo vinte e poucos anos, denotando estranhamento e incoerência.

Foto: Divulgação (decotes em temperaturas abaixo de zero é pra quem pode e não pra quem quer!)

Seu par romântico é vivido pelo bonito Chord Overstreet, no papel do amoroso, bom moço, sobrecarregado e sofrido pai-viúvo-dono-de-pousada-de-inverno – com incríveis olhos azuis – Jake Russell que, a princípio tenta mendigar patrocínio para seu quase falido negócio junto ao aparentemente frio e sem escrúpulos Beauregard, ocasião em que derrama creme no caro vestido de marca de Sierra, num rápido e fortuito encontro.

Como mostrado nos trailers, Sierra sofrerá um acidente que lhe causará amnésia temporária, ocasião na qual passará alguns dias que antecedem o Natal junto com Jake e, nos quais – claro! – vai aprender o outro lado da vida, como comer bacon, estender uma cama e virar uma panqueca na frigideira, bem como a vida calorosa dos mais simples (leia-se pobres). Essa dinâmica, a princípio, remete ao clássico Um Salto para a Felicidade (1987), no qual a mimada e esnobe Joanna Stayton (papel de Goldie Hawn), após humilhar o carpinteiro Dean Proffitt (Kurt Russell), sofre um acidente que lhe causa amnésia temporária, sendo acolhida – com o aval do inescrupuloso marido da protagonista – na casa de Dean, onde será humilhada, obrigada a limpar casa e a cuidar dos quatro filhos menores do carpinteiro ressentido, ocasião na qual aprenderá a ser humilde, trabalhadora e, claro, o casal irá se apaixonar, apesar do segredo sórdido que envolve sua estadia na casa de Dean.

Foto: Divulgação (onde é que já vimos essa cena antes?)

Uma Quedinha de Natal dá sinais iniciais de que irá seguir exatamente essa cartilha, não fosse, também, seu pertencimento ao já mencionado subgênero de filme de Natal, que acaba por tornar tudo mais asséptico e pudico, sem falar numa sugestão de magia natalina, por parte de um suposto Papai Noel disfarçado de vendedor de barraca, premissa que é apresentada, mas descartada sem maiores explicações ao longo do filme.

Essa ambivalente incursão de elementos sobrenaturais de cunho natalino ajuda a explicar, sem maiores compromissos com a coerência, vários furos de roteiro. Afinal, Sierra passa meros quatro dias na pousada de Jake, mas sai dali sabendo preparar café da manhã, lavar roupa, recolher lenha, estender camas e seu sentido de vida. Ao mesmo tempo, por se tratar de uma filha de magnata, estranho que, apesar de quatro dias incomunicável, sem ter levado bagagem ou algo do tipo, passeando num ambiente hostil e perigoso (montanhas repletas de neve), todo mundo (principalmente séquito de serviçais do hotel) prefere deduzir que ela estava numa fuga romântica com o namorado Tad a de fato saberem o que havia acontecido com ela.

Tudo acontece de forma meio mágica mesmo. O fechado e melancólico Jake ­ –um dos personagens mais “bom-samaritano” já criados no cinema atual – rapidamente se apaixona por Sierra, saindo de seu longo luto de dois anos. E por aí vai, até que todos os elementos da cartilha Comédia Romântica sejam fielmente cumpridos.

A trama paralela envolvendo o caricato Tad, desenvolvida como alívio cômico, também é quase descartável, servindo apenas para mostrar a puerilidade do personagem e justificar sua troca pelo galã da produção. Talvez alguém possa até rir das supostas piadas, mas…

O melhor do filme é o irresistível sorriso da jovem atriz Olivia Perez, no papel de Avy, órfã de mãe e filha de Jake, que, de tão espontâneo, dá vontade de esperar sua próxima cena para apreciá-lo.

Foto: Divulgação (Papai Noel capitalista, apear da cor!)

A fotografia de Graham Robbins, também se destaca, por conseguir mostrar a beleza selvagem das geleiras onde o filme foi gravado e o luxo dos hotéis nas cenas abertas, bem como ser sempre clara e solar nas cenas internas e mais intimistas. Trilha sonora, figurinos e cenografia discretas. Já o diretor Janeen Damian, nem se esforça para conseguir extrair alguma interpretação mais genuína de seus atores, preferindo o conforto dos estereótipos.

No mais, é optar se deixar ou não levar pela farsa proposta pelo filme, mas que, de tão esquemático, torna a tarefa mais complicada.

Para a carreira de Lohan, o filme pode servir como momento intermediário do seu retorno a produções mais bem qualificadas, já que, pela proximidade com a data do Natal, deverá ser uma produção bem consumida pelos assinantes da Netflix, com toda aquela aura leve e otimista de produções desse gênero.

Assim, se você é do tipo que gosta de comédia romântica e filmes de Natal, feitos para serem assistidos por toda família, sem ser muito exigente com roteiro, coerência e interpretações, então Uma Quedinha de Natal é para você.

Mas se gostar de algo um pouco mais elaborado, pode ser que nem os lábios explodindo de colágeno de Lindsay Lohan sejam suficientes para fazê-lo perder seu tempo na frente da televisão.

Foto: Divulgação (o amor está no (gelado) ar!)


Nota: 2,5 / 5 (regular)

 


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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