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PEQUENO DEMÔNIO | Mais um equívoco da Netflix
PEQUENO DEMÔNIO
O filho do demônio (O Anticristo) vai nascer de uma mulher, geralmente engravidada em um ritual satânico, e trazer o reino de Satã para a terra. Cabe a um escolhido eliminar (ou tentar) esta ameaça e manter a paz na terra.
Esse argumento é a base de diversos filmes e séries, dos quais os exemplos de melhor qualidade (de acordo com os críticos) são os já clássicos “A Profecia” de 1976, e “O Bebê de Rosemary” de 1968.
A tentativa de refilmagem de um destes clássicos, resultou na catastrófica versão de A Profecia lançada exclusivamente para aproveitar a data de 06/06/2006, mas sem qualquer cuidado com a qualidade do filme.
Este ano, a Netflix resolveu adentrar este terreno pantanoso, e nos apresentou a comédia “Pequeno Demônio”, cujo plot é exatamente o mesmo de “A Profecia”: um jovem corretor de imóveis se casa com uma jovem mãe solteira de um menino que completará 6 anos no dia 6 do mês 6, às 6 horas da tarde. Se não bastasse isso o menino não fala com ele, a não ser usando um fantoche de bode e passa horas encarando a estática da tv (cena chupada de Poltergeist). Pequenos incidentes, a começar pelo evento traumático ocorrido no dia do casamento dele e que ninguém gosta de falar, à uma tragédia ocorrida na escola do pequeno Lucas, fazem com que Gary (Adam Scott) chegue a conclusão que seu pequeno enteado é o próprio filho do tinhoso.
O filme não chega a ser ruim. Como comédia, ele nos apresenta alguns momentos de risadas. Mas está longe de ser um grande acerto da Netflix. A história se perde no meio do caminho, e o que era pra ser uma comédia de humor negro, termina como mais uma história sentimental, onde o amor (literalmente, escrito e escancarado na tela) é a chave para todos os problemas.
Os personagens, com exceção do pequeno Owen Atlas, que nos faz lembrar, na primeira parte do filme, a presença marcante e incomoda de Harvey Stephens, o tinhosinho do A Profecia original, e de Adam Scott, como o protagonista que tenta encontrar alguma lógica em tudo que sua vida está se tornando, são rasos, confusos e sem nada que nos chame a atenção. O roteiro também não ajuda muito. Do nada uma personagem que a mãe do Anticristo acabou de conhecer se torna sua melhor amiga; Gary é encaminhado à um grupo de apoio para padrasto, e de repente todos os homens lá estão dispostos a arriscarem sua vida para matarem uma criança, pois se convenceram que ela é o mal encarnado. A demais os personagens são unidimensionais, rasos e com os quais quase você não se importa em momento algum do filme. As motivações são extremamente forçadas, os twist preguiçosos, e sem contar que todos acreditam cegamente que Lucas é o anticristo e que deve morrer! Não existe dúvidas, questionamentos, nada.’
Já a conclusão é a mais preguiçosa, previsível e clichê possível. Se você chegar até o final esperando uma subversão, uma plot twist ou qualquer coisa que não seja uma historia melosa e fraca, se arrependerá amargamente de ter começado a assistir.
Produções como esta nos deixa com a dúvida: teria a Netflix perdido o frescor e a coragem? Resta esperar para ver se o rumo das produções originais do serviço de streaming se perdeu de vez (Punho de Ferro e Os Defensores também estão seguindo a ladeira a baixo!) ou se ainda há esperanças de que a Netflix volte a surpreender.
NOTA