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G.I. JOE ORIGENS: SNAKE EYES – “É no Japão ou Chinatown?” | Crítica (tardia) do Neófito

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Logo de cara, um aviso: este texto conterá spoilers do filme a ser comentado!

Feito o aviso, sigamos em frente!

O sonho de dez entre dez garotos da minha época de juventude era ter um “boneco Falcon”, que vinha com 30 cm – ou seja, no tamanho de uma boneca Susie ou Barbie – em versão moreno ou loiro, com ou sem barba, normalmente portando revólver, bota e roupa militar.

Da mesma forma que as bonecas, o action figure produzido pela Hasbro – e vendido no Brasil pela Estrela – tinha toda uma linha de acessórios para complementar a brincadeira: mochilacóptero, armamentos diversos, jipe, roupa de mergulho, corda de escalada, escafandro etc.

Com o tempo, criaram o vilão Torak e o auxiliar Roboy, além de mais apetrechos bacanas. Pessoalmente, esperava o ano todo para poder ganhar, no Natal, alguma coisa referente aos bonecos.

Foto: exemplo de dois bonecos (action figure) do “boneco Falcon”

O que nós, pobres garotos da década de 1970-1980, não sabíamos, é que o Falcon, na verdade, era personagem de uma linha bem mais ampla, os Comandos em Ação, ou, no original norte-americano, os personagens da franquia G.I. Joe, grupo antiterrorista de soldados de elite estadunidense, voltados para combater a organização Cobra.

Já em plenos anos 80, os bonecos de 30cm foram trocados pelos de 10cm e toda a linha de personagens foi lançada.

Entre estes, havia um que se chamava Cobra Negra, o qual a garotada costumava usar como vilão nas brincadeiras, dado seu nome meio assustador, sua roupa toda preta, o rosto sempre oculto e espadas estilo ninja.

Tratava-se, porém, do personagem Snake Eyes, que, na verdade, integrava o time dos “mocinhos”, os G.I. Joe’s, sendo o especialista em invasões furtivas e combate corpo-a-corpo do grupo. O seu nêmesis era o temível Storm Shadow, que usava roupas brancas.

Mas foi só com o desenho animado, lançado pela Rede Globo, de 1986 a 1994, que todo mundo passou a conhecer mais a fundo a mitologia criada para o universo daqueles personagens.

A febre dos “Comandos em Ação” aqui no Brasil foi raleando com o tempo, ao contrário de seu país de origem, cuja cultura tinha tudo a ver para que se continuasse a adorar tais personagens belicosos e militarizados.

Chegou a surpreender que apenas em 2009 fosse lançado o primeiro live-action sobre os G.I. Joe’s, chamado G.I. Joe: A Origem de Cobra. Abusando do CGI e com uma trama rebuscada e até mesmo algo politizada, o filme acabou sendo um sucesso, faturando o dobro do que custou.

Quatro anos depois, veio a continuação – G.I. Joe: Retaliação – numa trama que dava sequência direta aos eventos mostrados no final do filme de 2009 e que chegava a impressionar no início, ao mostrar o grupo de heróis sendo praticamente dizimado pelas forças da Cobra. Mas, eis que surge Dwayne “The Rock” Johnson (como Roadblock) e Bruce “Duro de Matar” Willis (como General Joseph Colton) para salvar o dia (e estragar a franquia!).

Foto: Divulgação (daria uma coleção de action figure da hora!)

O filme também faturou o dobro de seu custo, mas foi – com justíssima razão – execrado pela audiência e crítica.

Achava-se, portanto, que os G.I. Joe’s finalmente iriam aposentar a metralhadora.

Até que se iniciou esta quase interminável crise de criatividade que se abateu sobre Hollywood. Sem conseguir conceber muita coisa nova, o melhor mesmo é recorrer ao terreno conhecido. E assim surge, neste ano ainda pandêmico, G.I. Joe Origens: Snake Eyes, contando a história do certamente mais universalmente carismático personagem do grupo, o ninja Snake Eyes.

Com passado misterioso, o personagem nunca tirava o capacete ou falava, sendo revelado, nas HQ’s dos G.I. Joe’s, que ele era assim em razão de ter ficado transfigurado e mudo quando salvou Scarlett de um helicóptero em chamas, graças aos estilhaços de uma janela explodida.

Nos filmes – em que o personagem foi interpretado pelo ótimo lutador e dublê Ray Parker (o Darth Maul de Star Wars: Episódio 1 – A Ameaça Fantasma) – deram-se mais pistas sobre o passado e a rivalidade entre Snake Eyes e Storm Shadow.

Mas, esqueçam tudo o que havia sido mostrado! No filme de origem do personagem, ele não apenas mantém o rosto, como é lindo, interpretado pelo galã de comédias e draminhas românticos Henry Golding (Podres de Rico, Uma Segunda Chance para Amar) e fala muito bem. Além disso, Snake Eys não ganhou seu nome nem foi treinado desde menino pelo clã Arashikage – como mostrado nos filmes live action – mas já era um lutador adulto clandestino de rua, pouco treinando com os mestres ninjas do referido clã, após se unir a Tommy Arashikage (Andrew Koji, de Warrior), o futuro Storm Shadow, primeiro como amigo-irmão e posteriormente como inimigo mortal.

Foto: Divulgação (isso e pose de luta ou ele está pedindo silêncio?)

Henry Golding, de fato, treinou muito e se esforça bastante para parecer convincente como lutador de artes-marciais, mas, ao contrário de Koji – mais experiente – dá para perceber sua dificuldade e pouca elasticidade para um personagem que deveria ser uma “arma viva”. Muitas cenas claramente utilizam dublês, ficando nítida a diferença entre as sequências realizadas pelo ator e quando substituído.

Aliás, para um filme de ação envolvendo ninjas, salvam-se algumas poucas boas sequências de combate, com melhor coreografia, nitidez e até com câmera lenta (destaque para a cena de perseguição de motos e caminhão cegonheira); mas, no geral, o diretor Robert Schwentke (do execrável R.I.P.D.: Agentes do Além, de 2013; e o fraquíssimo Convergente, último exemplar da trilogia Divergente) não denota grande domínio do misancene, abusando dos cortes rápidos, da profusão de muitos personagens se enfrentando ao mesmo tempo, da aceleração das lutas, tornando tudo confuso e genérico. As espadas cortam o ar, fazem barulho, mas é difícil acompanhar em quem elas de fato acertaram, além de – graças à necessidade de ampliar a classificação indicativa – não haver quase sangue algum saindo de tais corpos cortados (saudades de Tarantino e seu Kill Bill…).

Foto: Divulgação (roupa branca para um ninja é como usar moletom na praia)

Essa opção de filmagem ajuda aos atores menos hábeis, ocultando suas deficiências atléticas, mas tira o mais legal das sequências de artes-marciais, que é ver o confronto dos lutadores, com seus chutes, socos e movimentos plásticos.

Essa decisão artística também prejudica um pouco da narrativa, afinal, não dá para entender a enorme habilidade que Snake Eyes apresentará depois, haja vista ele não ter passado nem dois meses sendo treinado pelos Arashikage.

A motivação de Snake Eyes para, primeiro se aproximar e depois rivalizar com Tommy, traindo-o, reside num irracional desejo de vingança devido ao fato dele ter visto o pai (que não sabia ser um G.I. Joe) ser morto por um cruel assassino (que também desconhecia ser da Cobra), quando criança. Mas, ao invés de se chamar “olhos de cobra” ele devia, mesmo, é ser chamado de “olhos obtusos”, por não sacar a manipulação óbvia e escancarada de que estava sendo objeto por parte dos vilões mais caricaturais possíveis, Kenta e Baronesa, respectivamente vividos por Takehiro Hira e Úrsula “Tokio” Corberó (de La Casa de Papel, arriscando-se em Hollywood).

Foto: Divulgação (a Tóquio assumiu o lugar do Professor!)

Outra coisa tremendamente incômoda é ver um filme sendo passado no Japão e todo mundo – até a matriarca do Clã Arashikage – falando o tempo todo em inglês, inclusive em conversas particulares! Porque não colocaram a sede do clã lá em Chinatown, conhecido bairro novaiorquino pela enorme comunidade oriental? Soaria mais verossímil e respeitoso com a cultura nipônica, além de forçar os preguiçosos estadunidenses a lerem um pouco mais, ainda que legendas!

Os efeitos especiais, em algumas situações, soa artificial – como no caso das três “Anacondas Gigantes” e a trilha sonora não apresenta nada de especial, sendo facilmente esquecível! O nível de interpretação varia entre o exagerado e o caricatural, sem destaque para ninguém em especial.

Em resumo, trata-se de filme bem produzido e até bem fotografado, mas extremamente genérico, infantilizado e pensado, não para contar uma história de fato, mas para gerar produtos derivados.

Creio que meu brinquedo de infância merecia um tratamento melhor e mais coerente com a própria franquia que ele integra.

Foto: Divulgação (pulando de ponta à cabeça pela bilheteria!)

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Nota: 2,5 / 5 (regular)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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