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Críticas

VELOZES E FURIOSOS 9 – “Truco!!!!” | Crítica (tardia) do Neófito

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Logo de cara, um aviso: este texto conterá spoilers do filme a ser comentado!

Segundo aviso: apesar disso, o texto manterá o tom “família”.

Feitos os avisos, sigamos em frente!

Quando estreou, em setembro de 2001, Velozes e Furiosos era um filme claramente de orçamento baixo (38 milhões de dólares), quase indie, meio fora do mainstream, cuja temática flertava com a contracultura. Estrelado por Paul Walker (interpretando o agente do FBI infiltrado, Brian O’Conner) e Vin Diesel (vivendo o boa-gente e muito “família”, corredor de rua e ladrão de cargas Dominic Toretto, ou simplesmente “Dom”), a história mostrava a marginalizada comunidade latina norte-americana em busca do tão anunciado “sonho americano”, mesmo que, para isso, fosse necessário recorrer a roubos performáticos em alta velocidade.

A premissa, todavia, nem era muito original, bastante parecida, aliás, com o longa realizado dez anos antes, o Caçadores de Emoção, estrelado pelos ainda jovens Keanu Reeves (no papel do agente do FBI infiltrado, Johnny) e Patrick Swayze (vivendo o boa-gente e muito “família”, surfista-ladrão de bancos, Bodhi), só que, nesse caso, trocam-se os latinos pelos ‘ripongas’ à caça de ‘ondas maneiras’ e carros tunados por pranchas de surf (sem falar a cabeleira estilosa de Swayze pela careca lustrosa de Vin Diesel).

Ainda assim, a combinação de corridas de carros envenenados pelas ruas de Los Angeles, roubos espetaculares, romance e bromance renderam mais de 200 milhões aos cofres da Universal que, empolgada e a partir de seu inesperado sucesso, resolveu, em 2003, criar a franquia da marca Velozes e Furiosos, que provaria ser uma das mais lucrativas da história do cinema.

+Velozes+Furiosos, mesmo mais bem orçado e contando com a beleza em alta de Eva Mendes, é ruim de doer a retina! Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio (2006), é puro estilo, introduz os personagens Han Lue (Sung Kang), Roman Pearce (Tyrese Gibson) e Tej (Ludacris), mas é completamente esquecível.

Todavia, acreditando no potencial de sua galinha dos ovos de ouro, o estúdio, em 2009, resolve trazer todo o elenco principal do primeiro filme de volta – Paul Walker, Vin Diesel, Michelle Rodriguez (Letty Ortiz), Jordana Brewster (Mia Toreto) – e reinicia a franquia de vez com Velozes e Furiosos 4, injetando dinheiro na produção, inflando a ação e roteiro.

Daí para frente se iniciou o nada sutil processo de inflacionamento da inverossimilhança dos roteiros, a cada filme mais necessariamente mirabolantes e grandiosos, tanto em termos de história, quanto de elenco. Velozes e Furiosos 5: Operação Rio (2011) introduziu Dwayne “The Rock” Johnson como o agente Hobbs; Velozes e Furiosos 6 trouxe Jason Statham na pele do ex-agente e atual mercenário Shaw; Velozes e Furiosos 7 – último filme a contar com seu galã Paul Walker, morto (irônica e tragicamente) em acidente de carro – apresentou o Mr. Nobody (Kurt Russel) e Megan (Nathalie Emmanuel); Velozes e Furiosos 8 estabeleceu a grande nêmesis da “família Toretto”, a ardilosa Cipher – que nome criativo! – de Charlize Theron. Isso tudo sem contar com as participações luxuosas, como a de Helen Mirren no papel de Magdalene Shaw, mãe de Shaw.

Mas nem a morte de um dos atores principais esmoreceu o ânimo dos responsáveis pelas produções, como pôde ser visto acima. Aliás, até antes pelo contrário! A franquia Velozes e Furiosos, à medida que ultrapassava a fronteira do bilhão de dólares em arrecadação – esquecendo, há muito, seu caráter indie inicial – também passava a ser completamente comandada pela figura histriônica de Vin Diesel, o que a permitiu cada vez mais se tornar irrealista e fantasiosa a ponto desta última e recém-lançada sequência – Velozes e Furiosos 9 – conseguir o “mérito” de tornar críveis as loucuras da franquia Missão Impossível!

Olha, até carro sendo dirigido na órbita da Terra tem. Sério!!!!!

Mas, se você achar isso até aceitável – por ter visto algo parecido nos filmes setentistas de 007 – o que dizer do carro dirigido em alta velocidade por Dom – sob fogo pesado de vários outros veículos – simplesmente saltar de um penhasco, utilizando a corda de uma ponte recém destruída como cipó para fazer tirolesa e atravessar um precipício? Tudo plenamente possível, apesar de no improviso, né?

Nesses momentos, ao invés da cena de perseguição causar tensão e emoção, o que acaba gerando são sonoras gargalhadas, pelo absurdo e nonsense. O filme vira comédia!

E o pastelão advém não apenas desses exageros irrealistas, mas também na composição dos personagens, sempre com testosterona (incluindo as mulheres) em picos à beira da overdose de macheza! Com a totalmente ilógica introdução do personagem do irmão de Dom, Jackob Toretto (John Cena) – um ex-espião e atual mercenário – as obrigatórias cenas de porradaria entre Dom e qualquer outro brutamontes recém trazido à franquia, trazem os personagens trocando socos capazes de destroçar pilastras de concreto, portas, paredes e qualquer outra barreira imaginável! Ou seja, são super-homens ou mutantes, com certeza!! (não por menos, no derivado Hobbs & Shaw, de 2019, o personagem Hobbs, segura, “na unha”, de cima de uma caminhonete reboque em alta velocidade, um helicóptero, igual ao Capitão América em Guerra Civil – 2016 – e sem precisar do soro do supersoldado!!)

Coerência de roteiro? Para que? Se, no filme anterior, Dom foi capaz de trair sua “família” e matar quem fosse necessário para proteger seu recém-descoberto “filho bastardo”, aqui a criança aparece no início para logo depois ser defenestrada da produção como se nem existisse e, isso, porque Dom viu, num print de tela de vídeo, o que poderia ser o crucifixo de seu irmão mais novo, desaparecido há mais de 20 anos! Nenhuma menção de com quem essa criança ficou, enquanto seus pais se lançavam numa aventura suicida!

E o que dizer do MacGuffin criado pelos roteiristas? Uma bola dividida em duas partes, de conhecimento da Cipher, que, uma vez unida, é capaz de – sozinha! – controlar todos os dispositivos eletrônicos do planeta, usando, como chave de acesso, o DNA da filha dos criadores do aparelho que – olha a coincidência – é protegida pelo aparentemente morto Han Lue. Ah, e quem foi contratado para reunir as peças? Jackob Toretto, claro, como ótima justificativa para unir toda a “família” de uma vez só.

Foto: Divulgação (dois momentos em que Vin Diesel nos brinda com sua incrível técnica interpretativa! Na esquerda, demonstrando raiva; na da direita, surpresa!)

Aliás, incrível como a família Toretto cresce a cada filme, ganhando mais e mais integrantes! Família, esta, que serve de desculpa para que o grupo de Dom destrua uma centena de carros, propriedades e outras famílias (que não a dos Torettos) pelo caminho, e tudo, claro, em nome da família!! Todos os inimigos se tornam parentes! Estou esperando, no próximo longa, Cipher se juntar a todos no já tradicional churrasco final!

No tocante as interpretações, putz! Vin Diesel se superou! Suas duas únicas expressões faciais – a do biquinho de raiva do macho-alfa furioso e a do sorrisinho de meia boca do pai de família, estão mais presentes e especializadas do que nunca! O ator Vinnie Bennett, que vive o personagem quando jovem é muuuuuuuuiiito mais expressivo que o astro da franquia! Se cuida, Diesel!!

O resto do elenco leva tudo no automático e caricato, óbvio, com destaque para o rosto ossudo e super marcado da brasileira naturalizada norte-americana Jordana Brewster, que nem precisaria de muita maquiagem para interpretar um zumbi, uma múmia, vampira ou coisa parecida!

Méritos do filme? Passar rápido, não enrolar e rechear a tela de cenas de ação absurdas e grandiloquentes para evitar que os espectadores pensem muito no que estão vendo; efeitos especiais e visuais dignos do orçamento generoso da produção e só. Agora, não gosto nem de pensar no que os criadores estão imaginando para a edição 10 da franquia…

Mas, por fim, a última pergunta: vale à pena assistir ao filme?

Bom, independentemente do que se fale aqui, a franquia tem sua legião fanática de fãs, para os quais nenhuma crítica fará diferença. É preciso admitir, também, que o filme representa escapismo puro, algo até necessário para esses dias, de modo que, se você gosta de filmes de ação acéfalos e frenéticos, Velozes e Furiosos 9 é, definitivamente, sua praia! Se não gosta tanto, pode vê-lo como se fosse uma comédia/paródia involuntária. Agora, se você detesta, não vai perder seu tempo mesmo.

Para os fãs brasileiros, ao final do filme (que tem cena pós-crédito!), ainda há o risco de para além da trilha que embala os letreiros, escutar-se os acordes clássicos semanais da tv brasileira que, embalados pela voz de Dudu Nobre, diziam: “essa família é muito unida! E também muito ouriçada! Brigam por qualquer razão! Mas acabam pedindo perdão!”

Foto: Divulgação (“ao infinito e além”! É possível que, no próximo filme, a “família Toretto” enfrente a família Skywalker…)

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Nota: 2 / 5 (fraco)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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