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NOVOS ANIMES DUBLADOS | As empresas envolvidas precisam (definitivamente) conversar mais entre si

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            Lembro que uma vez estive conversando com um amigo meu, que mesmo sendo fã também de animes, nem sempre era informado de tudo que acontecia, sobre a chegada do anime Adventures of Sinbad (ou As Aventuras de Sinbad, se você, leitor, for um pouco avesso a estrangeirismos). Ele falava sobre o quanto o anime era legal, de como a dublagem realizada havia sido boa e sobretudo, se perguntava porque Sinbad, que era um spin-off de Magi, ganhou uma dublagem ao chegar na Netflix e a série principal não.

            Essa era talvez a dúvida que muita gente que gosta de ambas as séries tem até hoje, e que também até hoje segue sem a resposta, mas lá estava eu, compartilhando das informações que obtive sobre distribuição e licenciamento adquiridas em fóruns e comentários, um tanto quanto “obscuros” do meio otaku, comumente juvenil, com pessoas que eu nem mesmo sabia quem são, para esclarecer a esse meu amigo que, infelizmente, por um terrível “desencontro do destino”, Sinbad e Magi não pertenciam à mesma empresa distribuidora. Um chegou com o selo Original Netflix, e como quase tudo de alguns anos para cá que chegava à plataforma desse modo, ganhava uma dublagem própria, e outro, por uma empresa estrangeira que infelizmente não trabalhava com dublagens em português para seus produtos, liberando apenas legendas, áudio original e dublagens em outros idiomas que não o nosso.

   

Adventures of Sinbad (à esquerda) e Magi: Labyrinth of Magic (à direita), muitos não entendem por que um recebeu dublagem e outro não.

             Mas por que estou eu aqui comentando sobre isso? Porque, creio eu que, já passou (e muito) da hora de empresas que trabalham com o licenciamento e distribuição de animações nipônicas por aqui em nossas terras tupiniquins, dialogarem entre si e se entenderem, para adotar melhores estratégias a fim de popularizarem seus produtos entre seu público cativo de consumidores finais, e um possível público novo ainda não explorado. Não tenho intenção nesse texto, de “ensinar o padre a rezar a missa”, mas esclarecer a todos que estiverem lendo sobre porque muitos animes não chegam dublados em nosso idioma, e argumentar sobre alguns empecilhos que são cruciais para a ausência da dublagem como ferramenta de popularização dos animes por aqui.

              Para falar sobre isso, façamos agora uma pequena viagem ao passado, mais especificamente para o ano de 1994. Neste ano, um dos responsáveis por uma empresa chamada Samtoy, então representante oficial da fabricante japonesa de brinquedos Bandai no Brasil, bateu na porta de uma antiga emissora de TV aberta do país, conhecida de muitos que foram crianças na década de 80 e 90, a então famosa Rede Manchete. O representante dessa empresa, ofereceu a diretores de programação do canal, um tal Cavaleiros do Zodíaco, que vinha fazendo bastante sucesso na França e na Espanha, onde propunha um acordo de oferecer o desenho gratuitamente à emissora em troca de anúncios em horários variados para vender os produtos relacionados ao desenho: Bonecos de armaduras desmontáveis, exatamente como os personagens da TV.

   

Logotipo nacional da série Os Cavaleiros do Zodíaco, da empresa licenciadora dona do anime na época (Samtoy) e da emissora que o transmitiu.

Após certa resistência, o homem encarregado de dar a palavra final sobre a exibição da série e o acordo proposto, conhecido como Eduardo Miranda (chefe da divisão de cinema da emissora, na época), topa a ideia e o “desenho japonês” faz sua estreia em Setembro daquele ano, surpreendendo a rede de TV com índices de audiência que não eram vistos desde os fenômenos infantis oitentistas, e também nipônicos Jaspion e Changeman. Eis que então tivemos o grande boom de animes que todos bem conhecemos, com novas distribuidoras querendo pegar uma parte do novo “filão” instaurado, e sempre trazendo animes visando venda de produtos relacionados, mas nem sempre ajudados por quem deveriam ser seus principais parceiros no período: os canais de TV.

Guerreiras Mágicas de Rayearth, exemplo de anime que teve sua popularidade no Brasil prejudicada pelos horários ruins dados pelo SBT, nos anos 90.

            Não são raros os incidentes onde a exibição malfeita de algum canal aberto, ou mesmo pago, prejudicou o sucesso de uma nova série animada que chegasse ao país, além da venda de produtos que à medida que davam prejuízo a empresas investidoras, foram sumindo aos poucos de lojas, até praticamente desaparecerem. Atualmente, com a expansão da internet e o quase abandono da TV, o único produto oficial que um novo anime que chega ao país, por meios oficiais, impulsiona a venda, é o mangá que inspirou sua animação, e isso quando as próprias editoras que o publicam colaboram de algum modo para que esses produtos estejam a um alcance mínimo de seu público alvo. Ou mesmo quando o colocam no mercado em um timing ideal, como quando uma série está em plena exibição no Japão, e fazendo um sucesso absurdo na internet, conduzindo ao surgimento de grupos de fãs, que atuam como divulgadores quase que voluntários através da circulação de discussões, cosplays, artes, memes e etc.

            Para uma geração com cada vez mais acesso a informação, animes há muito tempo não são nenhuma grande novidade, e esperar fenômenos como foram Cavaleiros do Zodíaco nos anos 90 e Pokémon no início dos anos 2000, é uma grande ingenuidade e burrice por parte das empresas. Os consumidores desejam o produto chegando por vias oficiais cada vez mais rápido, e diferenciais significativos para que optem pelos meios oficiais de consumo ao invés dos “alternativos” (eufemismo para pirataria). A dublagem, tem sido uma dessas formas de dar um ar de “novidade” a produções que chegam hoje muito mais facilmente ao público alvo em potencial das empresas. É sabido que há algum tempo, ela não é unânime entre os fãs de animes, mas por vezes ajuda a chamar a atenção de gente não tão entusiasta da leitura de legendas, e muito menos das vozes originais japonesas. Mas se hoje, a adesão dos fãs já não é tanto o maior obstáculo para sua consolidação, existem outros que estão sendo ainda mais difíceis de lidar: distribuidoras estrangeiras sem representantes em nosso país.

 

 

Aniplex of America e Funimation, empresas sem representantes no Brasil, que portanto não investem em dublagens nacionais.

 

            Grandes empresas como Aniplex of America (filial americana da japonesa Aniplex) e Funimation, frequentemente tem adquirido os direitos de exibição para animes famosos do Japão em quase todo o ocidente, como Boku No Hero Academia e Kimetsu No Yaiba. Mas infelizmente sua atuação abrangente em todo o continente americano, não é exatamente direta e específica para cada país, fator que dificulta a chegada de dublagens para países onde essas instituições não possuem representantes oficiais, limitando o público apenas a legendas. Para variar, hoje no Brasil, praticamente inexistem empresas distribuidoras que lidem especificamente com animes, e o público brasileiro tem dependido bastante da boa vontade de serviços de streaming como Netflix e mais recentemente Crunchyroll para ver novos conteúdos dublados, isso quando pequenas distribuidoras só conseguem no máximo ter acesso a filmes, e não às séries inteiras como o caso do filme de Boku No Hero Academia pela Sato Company. Isso acaba por gerar confusão em uma parcela do público menos informada sobre as entrelinhas do mercado, que simplesmente não entende porque esses serviços optam por séries não tão populares quanto outras na hora de fornecer uma dublagem, ou porque chega o filme, mas não chega o anime todo, e impede que produções com considerável potencial de mercado, atinjam um público ainda mais amplo do que já atingem só com o advento da internet.

            Empresas como Disney/Marvel e Warner/DC são exemplos de empresas consolidadas com a circulação de produtos baseados em suas franquias, não por sempre terem sido gigantes do entretenimento, mas pela maneira bem articulada como integram suas produções a todos os tipos de apetrechos vendáveis relacionados, e o fato é que se licenciantes de animes querem mesmo fazer seu produto realmente render algum lucro, precisam conversar mais entre si para que boa parte do público não tenha mais tantos estranhamentos, quanto o do amigo o qual me referi no início desse texto, pois tudo que qualquer fã deseja, é ter produtos e informações relacionadas ao que gosta a fácil acesso, e não ter que pagar caro em eventos ou lojas fora do país por produtos importados ou escavar as profundezas da web para ter acesso apenas a informações nem sempre muito claras, e tampouco satisfatórias sobre o aparente descaso de serviços com suas produções favoritas.


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29 anos, psicólogo de formação e fã de animes, mangás, dublagem e jogos por essência, além de cosplayer (só quando o financeiro permite).

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