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Memória Tokusatsu

LUPINRANGER VS. PATRANGER | O Super Sentai de dois esquadrões que dividirão sua preferência

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Brincando de polícia e ladrão à moda tokusatsu.

Se você acha que séries japonesas de tokusatsu estacionaram nos hoje distantes anos 80 ou 90, e que ChangemanFlashman e mesmo o não tão lembrado Maskman, exibidos na antiga TV Manchete são hoje os “vovôs” dos Power Rangers, que acabaram vindo para ficar e que não se produzem mais boas séries japonesas de super herois como antigamente, esse resgate de uma série um pouco mais recente da nossa sessão Memória Tokusatsu servirá como uma pequena indicação de nós aqui do Nerdtrip sobre uma boa série recente para você, que queira se atualizar sobre novas séries do tipo, que quem sabe sejam tão empolgantes quanto algumas que marcaram sua infância, desde que você ainda mantenha o interesse por “herois japoneses” e não tenha preconceito com novidades, se contentando apenas com as horas de nostalgia proporcionadas pela TV Bandeirantes/Band aos Domingos ou com parte do catálogo da Sato Company no Amazon Prime Video.

Apesar de muitos acharem que não, as séries de Super Sentai, comumente adaptadas para alguma variação de Power Rangers no resto do ocidente desde os anos 90 sempre tentam inovar de alguma forma a cada ano, e a cada nova série. Por vezes essas inovações nem sempre são tão percebidas para o telespectador menos acostumado, pois a velha fórmula, existente desde meados da década de 70 ainda mantém a mesma essência e o mesmo formato de 51 episódios (isso só desde os anos 80, com Denjiman): Um quinteto colorido (por vezes um trio) combatendo monstros “emborrachados” que ao ficarem gigantes são derrotados com a combinação de forças dos guerreiros que formam um robô gigante de combate (vulgo “Mega Zord” se você só estiver acostumado a Power Rangers).

No entanto, os mais diversos tipos de temáticas (estampadas desde os uniformes dos herois aos acessórios de combate e à própria trama) já foram exploradas por tais séries ao longo de seus quase 45 anos de existência em território japonês. Certos temas utilizados mais de uma vez, como animais, dinossauros, ninjas, espaço, polícia veículos automobilísticos, e outros que embora façam parte do imaginário da cultura pop japonesa (e também mundial) como samurais, viagens no tempo e piratas apenas uma única vez, fora alguns um tanto quanto extravagantes para o público ocidental em geral como… trens que certamente não seria algo estranho para nossos leitores mineiros.

  

Todo o elenco de membros de Super Sentai até Kyuuranger (série de 2017 que antecedeu a que trataremos na matéria).

Um ponto a se destacar sobre o entendimento de como funciona a inovação em séries do tipo, onde nunca se foge da fórmula padrão é que, esses programas são destinados principalmente a um público infantil, e séries de Super Sentai costumam ser um dos primeiros programas que japoneses assistem em suas vidas, assim como o primeiro contato deles também com a cultura pop de seu próprio país. Logo, temas delicados para esse tipo de audiência como morte, sexualidade e mesmo dilemas típicos da idade adulta dos próprios personagens, dificilmente são abordados de maneira que não sejam puramente sutis, o que não impede que esse tipo de programa possa ser assistido por pessoas de qualquer idade, sendo portanto algo “livre para todos os públicos“.

Enquanto uma criança se diverte com os trajes de visuais chamativos e coloridos dos herois acompanhados de excelentes coreografias de luta e acessórios de combate feitos sob medida para vender brinquedos em lojas, um jovem ou adulto de qualquer idade pode simplesmente apreciar melhor as referências a outras séries clássicas ou que já assistiu, ou até mesmo à cultura pop em geral embutidas em algumas dessas séries, além dos dramas e relações entre os personagens, e até, quem sabe, abstrair melhor as mensagens expressadas em cada trama episódica, para assim extrair de um simples “programa infantil” algo significativo para sua vida, que em algum momento possa ter sido assimilado em outras produções, mas se perdido na transição entre a inocência da infância e a responsabilidade da vida adulta.

Dito isso, vamos à série.

Kaitou Sentai Lupinranger Vs. Keisatsu Sentai Patranger (algo como Esquadrão de Ladrões-Fantasma Lupinranger Vs. Esquadrão Policial Patranger) é nada mais, nada menos que a 42ª série da tradicional franquia Super Sentai da produtora japonesa Toei Company. Produzida no ano de 2018 e tendo dividido espaço com as também séries de tokusatsu Kamen Rider Build e Kamen Rider Zi-O, no bloco Super Hero Time da TV Asahi (um também tradicional bloco infantil que vai ao ar nas manhãs de Domingo da tv japonesa). A série surpreendeu o público por trazer não apenas um, mas dois esquadrões dividindo tempo de tela e a preferência dos telespectadores no combate a vilões.

Os dois times de herois no entanto não tem exatamente os mesmos objetivos, e embora combatam os mesmos inimigos, tem suas próprias noções de justiça, por vezes se confrontando entre si, mesmo enquanto combatem o “monstro da semana”, sendo esse o aspecto mais chamativo da série a princípio.

 

 

Vamos parar com essa briga e ficar amiguinhos galera!?

De um lado, temos o esquadrão de ladrões fantasmas ou kaitous*, composto pelo audacioso Kairi (como o “ranger” vermelho), o sério Touma (azul) e a graciosa Umika (amarela), que são orientados pelo enigmático mordomo Kogure, um senhorzinho que surge e desaparece do nada na sede do grupo de herois, enquanto por vezes dá conselhos e os orienta sobre as ações a serem tomadas no melhor estilo “Mestre dos Magos” de ser, para combater os inimigos do dia e obter as suas peças especiais. A fim de “brincar” com o que envolve a temática de ladrões e polícia, a equipe de roteiristas da Toei teve a divertida ideia de embutir cofres nos vilões da produção, batizados como Ganglers. Cada monstro combatido pelo grupo de herois possui em seus respectivos “cofres” peças de uma coleção de ítens mágicos pertencentes ao lendário ladrão fantasma e francês Arsene Lupin. As peças da coleção de Lupin dão aos monstros poderes adicionais aos que eles já tem, enquanto estão embutidas nos seus cofres, dificultando assim a vida dos herois nos combates, que antes mesmo de destruí-los com algum tiro especial finalizador (que nada mais é do que uma variação da tradicional “Power Bazuca“, presente em séries do tipo desde Changeman) devem retirar as peças da coleção dos cofres dos inimigos, através de acessórios que também servem como ítens de transformação e armas de combate além de brinquedos para as lojas japas.

 

   

Os ladrões de quem todos bem que deveriam falar estão falando.

Do outro lado, temos um trio de jovens policiais pertencentes à filial japonesa de uma unidade especial da polícia, conhecida como polícia global, composto pelo dedicado e esquentadinho Keichiro (o Patren Nº 01/Vermelho), o espalhafatoso e ingênuo Sakuya (Patren Nº 02/Verde) e à competente Tsukasa (Patren Nº 03/Rosa), que são auxiliados pelo seu chefe, Hilltop (interpretado aqui pelo atorcomediante afro-americano Ike Nwala, para os entusiastas de representatividade) e pelo robô Jim (uma versão modernizada do Alpha 5 dos Power Rangers, que conta com a mesma seiyuu de Alphonse Elric de Fullmetal Alchemist, Rie Kugimiya). Munidos de peças modificadas da coleção de Lupin entregues pela corporação policial a eles, o trio passa a compor o time dos Patrangers, que tem o dever não só de destruir Ganglers que ameaçem a ordem no mundo humano como também de capturar os ladrões fantasmas, que tem roubado peças preciosas de certos lugares para realizarem seus próprios objetivos.

 

   

Polícia chegando para pôr ordem na bagaça

Comandando o lado dos vilões temos o chefão gangler Dogranio Yabun, com seu visual parcialmente inspirado em Al Capone e outros líderes mafiosos de filmes do gênero em Hollywood. Desejoso de um “sucessor” à sua altura, o monstrengo orquesta o ataque de ganglers ao mundo humano para todos os monstros que almejem o seu título de nobreza e sua fortuna. Junto a ele, estão o forte e bruto guardacostas Destra e a cientista geniosa Gauche, que modifica ganglers e faz também o papel de “Gyodai” da série, possuindo inclusive um pequeno tema sonoro característico, que toca ao fundo em cada uma de suas aparições. Completando o clube vilanesco, temos por fim o misterioso e individualista vilão Zamigo, com seu visual que mescla foras da lei do velho oeste americano, e o estereótipo de mexicanos que o mundo assimilou, junto a poderes baseados em gelo, com direito ao vilão sempre se despedindo ao sair de cena com um “adiós“.

 

  

O líder gangler Dogranio Yabun ao lado de seus comparsas Destra e Gauche com o terrível Zamigo (sozinho e em destaque)

 

E para deixar a trama da série ainda mais interessante, temos por último a aparição do mascote aliado Good Striker, um pequeno robozinho cheio de personalidade que é responsável pela montagem de ambos os robôs gigantes de cada um dos herois, que combatem os monstros em sua segunda forma agigantada. O pequeno robô escolhe de qual lado vai ficar de acordo com a situação e seu próprio humor durante os combates, mantendo sempre nossa curiosidade sobre que robô gigante será utilizado para conter a ameaça do dia. Já em episódios posteriores, somos apresentados ao não menos imprevisível Noel Takao. Vindo da matriz francesa da polícia global em uma missão secreta, e na condição de membro extra de ambos os esquadrões de herois, o charmoso rapaz ora aparece como o ladrão fantasma prateado Lupin X e ora como o policial de elite dourado Patren X, alternando seus uniformes durante as próprias lutas, conforme a situação exige. Noel desenvolve também uma instigante relação com os ladrões fantasmas e os agentes da lei, que ora confiam e ora desconfiam da idoneidade do personagem e seus planos, tentando omitir por vezes algumas de suas estratégias para adquirir peças da coleção para si e rendendo inúmeras situações inusitadas e interessantes.

 

O agente duplo

Uma das particularidades mais interessantes dessa série, além do escancarado conflito entre polícia e “bandido” já mencionado na matéria, é perceber como o grupo de ladrões e policiais, que se detestam e se degladiam ferozmente enquanto uniformizados, se dão bem em suas “formas civis” e demonstram uma química boa em suas relações. O time de ladrões fantasmas precisa preservar suas identidades secretas, e para isso assumem o papel de funcionários de um pequeno restaurante especializado em comida francesa (chamado de Bistrô), que acaba sendo frequentado pelos jovens policiais ao longo da produção em seus intervalos de trabalho. Ironicamente, os mesmos policiais vão ficando mais próximos aos ladrões disfarçados, mal desconfiando por vários episódios sobre seu grande segredo.

Apesar de uma visível preferência dos roteiristas da Toei por privilegiar o esquadrão de ladrões em vários episódios, os policiais ainda mostram bastante carisma, e são capazes de conquistar o telespectador de sua própria maneira. Acredito que em histórias onde há um confronto entre um ladrão (ou grupo de ladrões) que se destaca e um policial ou policiais competentes, que tem como objetivo pôr um fim na fama de seus rivais, é natural que a polícia por vezes pareça estar um passo atrás pois, no momento em que conseguir igualar os passos ou estar a frente do fora-da-lei que é motivo de dor de cabeça para seu trabalho, será o momento em que o criminoso será subjugado e não parecerá a terrível ameaça que fez jus à fama que construiu.

 

       

Comissário Hilltop, o robô Jim Carter e o mordomo Kogure, os personagens secundários que dão um tempero ainda mais especial à série.

Vários episódios com tramas fechadas, que não engatam sequências diretas aos rumos da história, tem execuções incríveis, com destaque para o episódio 12, com um foco em drama que foi um dos melhores que já assisti em séries de tokusatsu. Mesmo alguns mais focados em comédia, com vilões “galhofas” e conflitos que sequer dão para o telespectador levar a sério, como o “especial natalino” presente no episódio 45, ainda contam com acontecimentos interessantes “que não deixam a peteca da série cair” e não causam um constrangimento demasiado a quem está assistindo o episódio, como outras séries do tipo.

Referências a aspectos da cultura francesa e norte-americana respingam à tela, de forma por vezes bastante estereotipada, onde o que é francês é muitas vezes visto como algo “chique” ou sofisticado, e até com uma hilária cena em um episódio onde o comissário Hilltop imita o “Robocop” com um “cospobre” improvisado, para os risos voluntários e até involuntários de quem estiver assistindo.  

Apesar de pequenas “escorregadas” de roteiro próximas a seu desfecho, e não evoluindo tanto alguns elementos próprios de seu universo que poderiam render a série spin-offs desenvolvendo ainda melhor todos os seus interessantes elementos, Lupinranger Vs Patranger é uma série muito divertida e empolgante que merece muito ser conferida

Mesmo sendo uma boa e velha série de Super Sentai, com todos os elementos tradicionais que consagraram séries do gênero, mas que parecem para muitos repetitivos e infantiloides, essa série é interessante sobretudo pela maneira imprevisível como se desenrola. O que motiva os ladrões a serem ladrões?? Quem vencerá o confronto de herois entre o esquadrão de ladrões e policiais?? Quem é Noel, e porque consegue transitar tão livremente entre o grupo de ladrões e policiais?? Os herois serão capazes de se unir para derrotar algum inimigo poderoso ao longo da trama?? Assista esse tokusatsu incrível para ter cada uma de suas perguntas após ler essa resenha respondida, catch me if you can! 

 

Aquela criança que na hora da brincadeira, às vezes quer brincar de ser bandido, e ora de polícia.


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PÓS-CRÉDITOS

*KAITOU: Figura recorrente em produções de cultura pop japonesa e “importada” de algum modo da França, Kaitous (ou Kaitos) são ladrões com visual refinado, comportamento “cavalheiresco” e que fazem uso de técnicas e acessórios sofisticados para realizarem seus furtos. São fortemente inspirados no personagem Arséne Lupin, protagonista de vários contos do escritor francês Maurice LeBlanc que teve origem ainda no século 19. Personagens do tipo costumam se destacar pelo charme, pela teatralidade e pela mística em torno de seu modus operandi, onde por vezes são exímios mestres dos disfarces, sedutores e até dotados de poderes sobrenaturais que os ajudam em suas fugas ou a lidar com autoridades em seu encalço. Em algumas obras, muitos kaitous parecem privilegiar mais a adrenalina de roubar e o risco de serem capturados do que o objeto alvo de seus “assaltos”, muitas vezes inclusive avisando que roubarão uma coisa e passando por todos os obstáculos e armadilhas preparados mesmo assim.  

  

   

29 anos, psicólogo de formação e fã de animes, mangás, dublagem e jogos por essência, além de cosplayer (só quando o financeiro permite).

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