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Críticas

EXTERMINADOR DO FUTURO: DESTINO SOMBRIO | Crítica (tardia) do Neófito

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ALERTA DE SPOLIER

(alguns elementos da trama e história dos filmes serão abordados ao longo do texto)

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Lembro perfeitamente que, quando, em 30 de agosto de 1991, estreou no Brasil O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, matei, junto com alguns colegas da faculdade de design que fazia na época, as últimas aulas daquela sexta-feira, para assistir, sentado no corredor da sala de exibição (algo possível naquele tempo), ao inesquecível filme dirigido por James Cameron, no hoje extinto Cine Acaiaca, de Belo Horizonte.

Tratava-se da continuação de um “azarão” de 1984 (que estreou no Brasil em 1985), O Exterminador do Futuro, o qual, sem maiores pretensões, mas contando com efeitos especiais muito bons para o período e orçamento do longa, e estrelado por atores desconhecidos – Linda Hamilton (Sarah Connor) e Michael Biehn (Kyle Reese) – mais o ex-Mister Olympia e astro do filme Conan, o Bárbaro de 1982, Arnold Schwarzenegger, surpreendeu meio mundo com a história aterrorizante de um robô quase indestrutível enviado de um futuro distópico-pós-apocalíptico para matar, no passado, Sarah Connor, a mulher que viria a ser mãe de John Connor, o líder da humanidade contra as máquinas conscientes que quase conseguiriam destruir toda a vida humana do planeta, num futuro não muito distante!

Foto: Divulgação

(detalhe pitoresco: a premissa do filme, depois que ele se tornou um sucesso, foi acusada de se inspirar, sem dar os devidos créditos, na história em quadrinhos Dias de Um Futuro Esquecido, de 1981, concebida por Chris Claremont e Jonh Byrne em sua última parceria na aclamada saga dos X-Men da década de 1980 e cuja história é de fato muito similar e indubitavelmente anterior ao longa de James Cameron, o qual jura ter concebido sua trama a partir de um pesadelo pessoal)

O filme de 1984 contava com cenas de ação de tirar o fôlego, violência explícita e uma sequência final de perseguição sufocante. O final aberto, enigmático e pouco esperançoso tinha muito a ver com o próprio período histórico em que o mundo vivia, em pleno auge da Guerra Fria e a constante (e real) ameaça de um confronto nuclear iminente entre as duas potências mundiais polarizadas pelos EUA e a URSS (já dando sinais de agonia).

Exterminador do Futuro (1984) se tornou cult e, quando foi anunciada sua continuação, que viria com efeitos especiais inovadores e surpreendentes, a expectativa foi enorme e completamente correspondida. T2 – apelido “carinhoso” para o filme de 1991 – era um filme de ficção e aventura estupendo! Os efeitos especiais para conceber o robô assassino aprimorado T-1000 (interpretado por Robert Patrick) eram de cair o queixo! A cena do chão se tornando um homem ainda hoje impressiona! O longa – que por muitos anos se manteria como a 3ª maior bilheteria da história – tornou Schwarzenegger um astro absoluto, Cameron um diretor de prestígio inquestionável e virou referência para o cinema de ficção e ação.

Foto: Divulgação

O final do filme é irretocável: após uma longuíssima e angustiante cena de perseguição e um ápice emocional, segue-se uma sequência de encerramento que formava uma rima perfeita com o primeiro filme, só que, desta vez, apesar da estrada escura a indicar a incerteza, havia uma esperança real de que as coisas poderiam melhorar. A humanidade estava salva dos robôs e de uma guerra nuclear. De fato, em novembro daquele mesmo ano de 1991, ocorreria a icônica queda do Muro de Berlim, que simbolizava o fim de anos de Guerra Fria e ameaças constantes.

(detalhe pitoresco: há uma versão do final do filme, possível de ser assistida no Youtube, chamada de “Skynet Edition” ou “Director’s cut”, que termina o longa mostrando uma Sarah Connor envelhecida, no famoso parque de diversões onde ela tinha os pesadelos sobre o holocausto nuclear, abraçando seu neto, filho de John Connor. Certamente, um final bem mais otimista e definitivo para a franquia, mas que, obviamente, foi descartado para que se abrisse brecha para novas continuações)

Foto: Divulgação

Tudo estava bem, então.

Só que não!

A ganância hollywoodiana não deixaria uma mina de ouro como a franquia de O Exterminador quieta e bem encerrada. Era preciso arrumar uma (ou várias) sequência(s) de qualquer forma e, sendo assim, em julho de 2003 estreia O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas (ou simplesmente T3), novamente com Arnold Schwarzenegger interpretando um robô assassino tornado “bonzinho” para proteger um John Connor mais velho (e bem chatinho, na intepretação de Nick Stahl) e enfrentando uma máquina mais aprimorada ainda do que o T-1000, o T-X, desta vez numa persona feminina (papel que coube a Kristanna Loken). Detalhe: James Cameron deixou de participar completamente da franquia, graças à falência da detentora inicial dos diretos dos filmes, a Carolco Pictures, e muito também em razão de seu envolvimento com a complicada produção de Titanic e constantes boatos e receios de que o filme seria um fracasso retumbante (se eles pudessem prever o futuro…).

Foto: Divulgação

A queda de qualidade da direção, das cenas de ação, da coerência narrativa etc. era evidente. O filme, em resumo, era fraco, devendo seu relativo sucesso à mitologia estabelecida nos dois filmes anteriores, principalmente ainda na esteira do estrondoso sucesso de T2, cuja história e final, todavia, tiveram que ser totalmente desconsiderados para que a franquia continuasse.

E a coisa não parou por aí.

Em 2009 estreia O Exterminador do Futuro: A Salvação, ambientado no futuro pós-apocalíptico que Sarah e John Connor tanto lutaram (em vão) para evitar. Christian Bale dá vida ao já cansado e ainda não líder da resistência humana do futuro, numa produção que ficou mais famosa pelo corte que o estúdio promoveu numa cena de topless da atriz Moon Bloodgood, e nos áudios vazados com rompantes de palavrões promovidos pelo astro do filme contra a direção.

Foto: Divulgação

Finalmente, em 2015, chega aos cinemas O Exterminador do Futuro: Gênesis, contando com o retorno físico de Schwarzenegger (no filme anterior ele apenas cedeu seus direitos de imagem para serem reproduzidos digitalmente) e a introdução de Emilia Clarke (a eterna Daenerys de GoT) como uma renovada Sarah Connor e Jai Courtney como a nova cara de Kyle Reese, numa tentativa de consertar a linha temporal da história, a partir de uma revisita e releitura do filme de 1984. Claro que surge um robô mais mortal ainda do que o T-1000 e a T-X, cenas de ação sequenciais, uma luta final desesperadora etc. e tal.

Foto: Divulgação

Esperava-se um grande sucesso, mas o filme, apesar de ter sido lucrativo, esteve longe de corresponder às expectativas do estúdio. Podia ser um final nobre para a franquia. Afinal, Arnold já contava com 68 anos de idade na época da produção do filme e, indubitavelmente, muito do charme e sucesso da franquia Terminator se deve ao carisma do ator.

Podia, mas não foi.

Em 2019, com James Cameron de volta à produção (a direção ficou a cargo de Tim Miller), Linda Hamilton renascida das cinzas do ostracismo hollywoodiano, e do veterano Schwarzenegger (então com 71 anos de idade!) repetindo mais uma vez o T-800, é anunciada uma nova sequência para a franquia – a sexta – chamada de O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio, planejada, na verdade, para ser a primeira parte de uma nova trilogia.

Foto: Divulgação

Na primeira cena do filme, tudo o que foi feito a partir das sequências de T2 é literalmente jogado na latrina! Mas, não só isso. O próprio final de T2 é completamente desconstruído, ao mostrar que (SPOILER), finalmente, um dos exterminadores consegue realizar o objetivo de assassinar John Connor.

Para mim, foi um choque! Todo o esforço e luta levados a efeito em T2 não valeram absolutamente nada! A humanidade foi salva da guerra nuclear e aparentemente a ameaça da Skynet (a máquina que se tornaria consciente) estava eliminada definitivamente. A morte de John seria apenas a cumprimento de uma máquina que já havia sido enviada de um futuro que não existiria mais.

Foto: Divulgação

Bom, mas, se não havia mais ameaça, como a história prosseguiria?

Surge uma nova Inteligência Artificial de guerra a se tornar consciente e decidida a acabar com a vida biológica no planeta, chamada Legião. Surge uma nova hecatombe nuclear, um novo futuro distópico com uma nova líder humana contra as máquinas chamada Daniella Ramos (Natalia Reyes), que precisa, obviamente, ser morta no passado para que não ofereça resistência no futuro. Para isso, a Legião envia o Exterminador Rev-9 (Gabriel Luna), e a resistência escala Grace (Mackenzie Davis), uma soldada humana “aprimorada”, para proteger sua líder em potencial. No auge da perseguição inicial do exterminador contra “Dani” e uma Grace já debilitada, aparece Sarah “bad ass” Connor (Linda Hamilton) para salvar o dia (pelo menos temporariamente).

Foto: Divulgação

Momento de respiro, interação e aprofundamento dos personagens, até a aparição do T-800 que matou John Connor, novamente na pele de Schwarzenegger. Só que se trata, agora, de um robô “evoluído”, também consciente, dotado de moralidade (gancho deixado em T2) e “envelhecido” em seu revestimento biológica (conceito desenvolvido em Genesis).

A interação de Linda Hamilton e Arnold é nostálgica e ótima; a Grace de Mackenzie é bem desenvolvida e a Dani Ramos de Natalia Reyes demonstra carisma e potencial. Gabriel Luna e seu Rev-9 pouco acrescenta ao que Robert Patrick já havia feito tão bem em T2, mas não compromete. Os efeitos especiais convencem, apesar de não impressionarem. As cenas de ação são boas de verdade e o clímax é bem construído.

Foto: Divulgação

Mesmo assim – e recebendo boas críticas especializadas – o público não comprou a ideia e o longa foi um fracasso comercial, custando 100 milhões para ser produzido, mas faturando pouco mais de 260 milhões nos cinemas.

Por que?

Porque o filme apenas repete o que já se havia visto antes, aliás, de forma mais bem feita, diga-se de passagem.

Mesmo desprezando os filmes 3, 4 e 5, Destino Sombrio paradoxalmente utiliza conceitos desenvolvidos pelos mesmos (o aprimoramento humano para enfrentar as máquinas, mostrado em Salvação; o envelhecimento da aparência do T-800 etc.); e desfaz tudo o que foi conseguido em T2 em termos de história (toda a luta dos Connor’s foi absolutamente vã, pois John foi assassinado e uma nova IA surge no lugar da Skynet, promovendo o tão temido cataclisma nuclear). Em verdade, este episódio 6 apenas repete a premissa. Nada de novo. Na Hollywood atual, nada se cria, tudo se copia (ou se recicla)!

A idade avançada de Arnold também conta. A imponência física do ator austríaco sempre foi um dos componentes mais chamativos da franquia. Agora, apesar do seu volume muscular ainda impor respeito, logicamente que o artista precisa ficar encoberto por jaquetas o tempo todo; seu rosto mostra as marcas profundas dos 72 anos e o vigor físico, por mais que ainda não decepcione, está longe de ser o mesmo de 30 anos atrás. Linda Hamilton também explicita um rosto profundamente marcado pela passagem do tempo, soando meio incoerente que uma mulher tão fragilizada pela idade possa ser tão durona e capaz de enfrentar sozinha máquinas de matar tão poderosas.

Foto: Divulgação

Ou seja, Destino Sombrio, tecnicamente impecável, por mais que beba na fonte dos melhores exemplares da franquia O Exterminado do Futuro, mostra, tristemente, que a história e seus personagens envelheceram, bem como o seu público.

E ninguém quer ser lembrado o tempo todo que o futuro é, como a história do filme repete a cada nova sequência, inexoravelmente destruidor, fadado ao ocaso. Toda a luta para evitá-lo, contê-lo ou atrasado é inútil. Ver a história se reciclando incansavelmente e os protagonistas ficando velhos incomoda aquele público que vibrou tanto com eles nas décadas de 80 e 90 do século passado e não empolga essa geração mais nova. Paga-se para ver a mesma história com pequenas variantes e o relógio do tempo avançando implacavelmente.

Parece que Hollywood é que é a Skynet ou a Legião, retornando ao passado constantemente para tentar repetir e manter seu sucesso no futuro, esquecida de que T2 disse tudo o que poderia ter sido dito sobre o universo de Terminator.

Está na hora de – como numa fala dita pelo próprio T-800 em Destino Sombrio – “não mais voltar” (“I will not come back”). Chega! Deixem que nosso “carro” corra pela estrada escura enquanto ainda restar combustível, pelos caminhos ainda passíveis de serem trilhados e pelas surpresas que a vida ainda nos reserva. Voltar ao passado deve ser como olhar para o retrovisor: ver o que vem e ficou atrás, mas a atenção deve estar na frente, sob pena da viagem se interromper forçosamente antes da hora possível. Deixem a esperança vencer, finalmente, ainda que, no final, o destino de todos seja, inevitavelmente, meio sombrio!

A franquia Exterminador do Futuro tem um lugar especial no coração dos fãs e continuará como uma das melhores do gênero (em especial por causa de T2). Mas já deu o que tinha que dar. Não há nada de novo a ser contado.

Foto: Divulgação

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Nota: 3 / 5 (bom)

Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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