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Críticas

SEX EDUCATION S02 | Crítica do Neófito

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ALERTA DE SPOLIER’S

(alguns elementos da trama e história serão abordados ao longo do texto)

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Sex Education – série televisiva britânica criada por Laurie Nunn e produzida pelo Netflix – estreou discretamente em janeiro de 2019 (exatamente um ano atrás), sem contar com grandes nomes no elenco, além da eterna agente Scully, Gillian Anderson e de Asa Butterfield (A Invenção de Hugo Cabret).

Foto: Divulgação

Focada nas desventuras em série da vida sexual da puberdade, a série, todavia, repleta de artistas iniciantes, mostrou-se um daqueles acertos inesperados, sucesso de crítica e público (inclusive no Brasil, em que é a 5ª série mais assistida do famoso canal de streaming), gerando enorme expectativa sobre sua continuidade.

Eis que, no dia 17 de janeiro de 2020, estreou a aguardada segunda temporada, que, pelo que mostrou, conseguiu manter o alto nível do programa.

Mas, para quem esteve fora do planeta, do que a série trata?

Como o nome adianta – e o segundo parágrafo acima antecipa – a série é focada na educação sexual de adolescentes – principalmente dos que estudam na fictícia escola Moordale – tratada de forma respeitosa, inteligente e até mesmo profunda, mas sem nunca perder a capacidade de ser leve e muito bem humorada. Problemas bem reais – como “a primeira vez”, masturbação, homossexualidade (feminina e masculina), bissexualidade, vaginismo, doenças sexualmente transmissíveis, submissão, gravidez adolescente, aborto, pílula do dia seguinte, assédio etc., ainda que dramatizados, episódicos e até um pouco maniqueístas, conforme o formato do programa – são abordados sem maiores tabus, com forte embasamento científico e de maneira bastante esclarecedora. E tudo isso sem precisar apelar para cenas de nudez e sexo gratuitos.

Foto: Divulgação (foto panorâmica da fictícia escola secundária Moordale)

A figura da terapeuta sexual Jean Milburn (Gillian Anderson), não por acaso mãe do protagonista Otis Milburn (Asa Butterfield), justifica o tom expositivo acerca das muitas questões de ordem sexual da série, bem como o enredo dela, na qual Otis, crescido em meio a uma constante exposição a informações sobre sexualidade, associa-se à rebelde (com causa) Maeve Wiley (Emma Mackey, sósia mais nova de Margot Robbie), para tornar-se uma espécie de terapeuta sexual juvenil de seus colegas (o “garoto do sexo”), mediante pagamento, claro!

Foto: Divulgação (à esquerda, Emma Mackey; à direita, Margot Robbie! Sim! São duas pessoas diferentes!!!)

Tal premissa abre espaço para uma série de transtornos e dúvidas sexuais, que se mostram bastante pertinentes e educativos. O bacana é ver o vasto conhecimento teórico de Otis acerca da sexualidade e sua absoluta inexperiência prática com a mesma, o que o leva a tentar desastrosamente algumas experiências ao mesmo tempo que se apaixona e não nota a recíproca de sua linda e super inteligente “sócia” Maeve, sempre envolta em situações emocionais muito intensas, o que explica seu visual e postura outsider, para se proteger de novos dissabores afetivos.

Nesse sentido, a primeira temporada terminou de forma bastante satisfatória, deixando vários ganchos, como a paixão não verbalizada e repleta de desencontros entre Otis e Maeve (o principal motor dramático da série), o destino aparentemente cruel de Adam Groff (Connor Swindells) e a mudança inesperada na vida de Jean, apaixonada – contra a vontade – pelo “ogro” sensível Jakob Nyman (Mikael Persbrandt), pai da nova namorada de Otis, Ola Nyman (Patricia Allison).

A segunda temporada, assim, começa com o início de um novo ano letivo em Moordale, em paralelo à recém descoberta “capacidade masturbatória” de Otis (hilária, ainda que exagerada), o destino de Adam, Maeve e Eric Effoing (Ncuti Gatwa), bem como um surto de clamídia na escola e a chegada de um novo “aluno-sensação”, Rahim (Sami Outalbali). Os personagens principais estão separados por questões sérias e aparentemente de difícil solução, todavia, não passam 3 episódios para que todos estejam novamente reunidos dentro ou ao redor do colégio. E, talvez, essa seja a grande falha do programa nesta segunda temporada, no sentido de resolver de forma muito rápida os problemas que ao final do último episódio do ano passado pareciam quase insolúveis.

Tirando isso, as novas reviravoltas do roteiro são, como no primeiro ano, muito inteligentes, verossímeis e os novos personagens cativantes. O retorno de Erin (Anne-Marie Duff), mãe da Maeve, e o novo vizinho cadeirante dela, Isaac (George Robinson) se mostram pertinentes e enriquecedoras para  trama, bem como o já citado Rahim e sua simpatia quase ingênua. A Viv interpretada por Chinenye Ezeudu também se destaca, importante ressaltar. O arco sobre os aconselhamentos sexuais ganham uma nova dimensão também, já que Jane acaba se tornando consultora da escola nos assuntos de educação sexual do corpo docente, estabelecendo uma competição oculta com o próprio filho.

Foto: Divulgação

Por mais que algumas situações possam soar repetidas (afinal, trata-se de uma série continuada), os roteiristas são ágeis o suficiente para não deixarem a peteca cair, envolvendo o telespectador com piadas e dramas na medida certa. Os personagens estão envelhecendo e isso é levado em consideração, o que é um ótimo indicativo de que a história evolui e, acertadamente, a tensão sexual entre Otis e Maeve é mantida. Aliás, um certo rebuliço tomou conta da internet sobre o final do segundo ano, quando são mostradas certas ações de Isaac – o cadeirante – bastante questionáveis do ponto de vista ético; o que considero uma atitude corajosa e muito interessante dramaturgicamente, por não associar o sofrimento oriundo de uma condição física limitante a um vitimismo ou ao um bom-caratismo automático. Somos passionais diante de uma paixão, seja qual for a nossa condição física. Vai dar pano pra manga na terceira temporada!

Foto: Divulgação (o dramático retorno de Erin, mãe de Maeve, vivida por Anne-Marie Duff)

Há, também, um naturalismo que pode soar meio excessivo para a (mais do que nunca) conservadora cultura brasileira, no que se refere à forma como casais homoafetivos se tocam em público e são aceitos em seus círculos sociofamiliares, principalmente neste segundo ano do programa, já que o bullying de gênero e sexual foram bem mais presentes na primeira temporada. Mas isso é outra coisa bem vinda, para que o público vá se acostumando aos novos tempos de maior tolerância, aceitação e, principalmente, inclusão.

Foto: Divulgação

O “polêmico” final tem potencial para gerar muitas reviravoltas na já aguardada (e ainda não confirmada) 3ª temporada, que certamente virá, desde que os roteiristas não sucumbam à tentação de resolver tudo novamente nos dois primeiros episódios do novo ano, como ocorreu nesta 2ª temporada. Será interessante observar como Isaac irá levar à frente sua paixão por Maeve, como ela e Otis irão interagir, reaproximarem-se ou se afastarem mais ainda.

Foto: Divulgação

Sex Education, enfim, acaba se mostrando um programa quase obrigatório para pais de adolescentes, bem como para estes, no sentido de pelo menos estimular alguma conversa sobre o tema do sexo, que ainda é tão difícil para muita gente, que sofre sozinha com suas dúvidas e questionamentos, desde o primeiro desabrochar hormonal. Inteligente, instigante, divertida e cativante, a série tem bastante potencial ainda e será prazeroso acompanhar “voyeuristicamente” as aventuras cotidianas e amorosas dessa turminha que vive ao redor da escola Moodale.

Foto: Divulgação

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Nota: 4 / 5 (ótima)

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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