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Críticas

MOONFALL – Emmerich destrói a Terra (de novo!) | Crítica do Neófito

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Na mesma linha de Martin Scorsese e Ridley Scott, o roteirista, produtor e diretor alemão, radicado nos Estados Unidos, Roland Emmerich, em recente entrevista ao site Den of Geek, disse que os filmes de super-heróis – particularmente Marvel, DC e Star Wars – estariam “aos poucos, arruinando a indústria (cinematográfica), porque ninguém mais faz qualquer coisa original”.

No tocante a eclética filmografia sólida de Scorsese (apesar da inclinação aos filmes de máfia) e a irregular de Scott (com queda para ficção científica), até se entende a crítica à franquia dos filmes do MCU, os quais, integrados ao mesmo universo – portanto, interligados – de certa forma, limitam mesmo a originalidade dos cineastas envolvidos nos longas individuais, em prol da narrativa maior que permeia todos os filmes, séries e animações. No entanto, por mais sofisticada que seja a crítica, não dá para deixar de perceber alguma dose de despeito nas declarações desses dois grandes diretores hollywoodianos, além de certa falta de visão, pois, obviamente, a era dos streamings tirou muito da disposição do espectador de sair de casa para gastar uma boa grana nas salas de cinema. Para valer à pena dirigir até o shopping center e pagar ingresso, estacionamento, lanche, pipoca e refrigerante para a família toda ou o(a) companheiro(a) é preciso que o filme seja verdadeiro espetáculo visual, requisito que os filmes de super-heróis (mas não só eles) atendem com folga.

O endosso a esse coro por parte de Emmerich, porém, soa bastante estranho, afinal, o cineasta se firmou como o grande diretor de “filmes catástrofes”, começando pelo ainda impactante Independence Day (1996), depois o fraquíssimo Godzilla (1998), o bom O Dia Depois de Amanhã (2004), o totalmente vazio 2012 (2009), e o horroroso Independence Day: O Ressurgimento (2016). Nesse meio tempo, o cineasta ainda brincou com a independência norte-americana, no exagerado O Patriota (2000); com a pré-história, em  10.000 A.C. (2008); reimaginou a lenda em torno de William Shakespeare com Anônimo (2011); e destruiu (pela décima sexta vez) a Casa Branca, no divertido O Ataque, (2013).

Apesar de alguns longas “diferentes”, foi claramente com sua obsessão em mostrar a destruição do planeta – com efeitos especiais de tirar o fôlego – que Emmerich se tornou o diretor europeu mais lucrativo de Hollywood (seus filmes catástrofes arrecadaram, juntos, mais de 3 bilhões de dólares).

Todavia, para chegar a tais cifras, o cineasta alemão, bem ao estilo MCU, também adotou uma estrutura bem característica para seus filmes de destruição em massa, qual seja, o herói da trama como o sujeito comum, meio fracassado, hábil em alguma área específica (clima, política, pilotagem etc.), normalmente cis-hétero (apesar de Emmerich ser assumidamente gay e militante da causa LGBTQIA+), enfrentando problemas afetivo-familiares (separado da esposa, brigado com o filho etc.), vê-se diante de alguma grande ameaça de proporções globais (ET’s nada amigáveis, monstro gigante, reversão climática, segunda pangeia etc.), o que o obriga a enfrentar, além da própria destruição mundial, questões domésticas e pequenos perigos mais imediatos. Tem o coadjuvante-rival/aliado do protagonista, que normalmente vai tomar alguma atitude nobre e sacrificial. Tem a criança a ser salva. Todas as possíveis adversidades da situação limite vão acontecer com os protagonistas. E, apesar de se estar diante do caos absoluto com milhões e mortos, sempre há espaço para alívios cômicos.

Dito isso, pode-se entender a espinha dorsal do novo projeto de Roland Emmerich, o grandiloquente Moofall (literalmente, “queda da lua”), no qual o cineasta vai mais uma vez ameaça a Terra de destruição/extinção, desta vez, por meio do choque com seu satélite natural (a lua) que, “inexplicavelmente”, entra em órbita centrípeta para colidir com o planeta, no prazo de 2 semanas.

Todos os elementos da filmografia de Emmerich estão presentes em Moonfall. Até mesmo as surpresas referentes à verdadeira natureza da lua e da causa por trás da catástrofe são temas familiares do diretor alemão.

E tome show de efeitos especiais para mostrar a devastação planetária originada da aproximação da lua com a Terra, que vão dos oceanos invadindo as cidades litorâneas do planeta; pedaços da lua caindo como mísseis gigantescos; lindas tomadas do espaço; águas e objetos diversos sendo alterados e sugados pela gravidade lunar. Não há como não reconhecer o excelente time que concebeu os efeitos do filme, bem como a competente direção de fotografia de Robby Baumgartner.

Outro ponto positivo foi a escalação bem diversificada para os protagonistas. John Bradley-West (o Samwell Tarly de GoT) empresta seu corpo fora de padrão para o astrônomo amador e nerd K. C. Houseman; Patrick Wilson vive o habilidosíssimo astronauta decadente Brian Harper; e Halle Berry, provando que o tempo literalmente parou para ela, vive a também astronauta Jocinda. Ou seja, há um gordo e uma mulher negra formando o trio de protagonistas junto ao homem cis-hétero branco de olhos verdes, além da intercambista chinesa Michelle (Kelly Yu), do general preto Doug Davidson (Eme Ikwuakor), do latino bem-sucedido Tom Lopez (Michael Peña). Bom exercício de inclusão para uma Hollywood acostumada até mesmo ao cometimento do “Whitewashing”.

Foto: Divulgação (trio parada dura!)

Mas os pontos positivos param por aí.

As interpretações são caricaturais, haja vista a bidimensionalidade dos personagens e diálogos muitas vezes sofríveis. O K. C. vivido por Bradley possui todos os trejeitos do “gordinho desastrado” ou do “nerd desengonçado”, conseguindo ser ao mesmo tempo genial o suficiente para calcular – usando régua de cálculo – as diferentes variações a órbita e gravidade lunares em tempo real, quanto ser estúpido ao ponto de deixar de perceber que seu aparelho celular era claro perigo frente ao inimigo que enfrentavam. Halle Berry tem pouco a oferecer além de alguma emoção ao se despedir do filho no que poderia ser uma missão claramente suicida. Patrick Wilson consegue até conferir algum charme ao seu personagem, mas nada que seja digno de nota especial. O resto do elenco – como Charlie Plummer, no papel de Sonny Harper (filho de Brian) – preenche a tela com arcos simplórios, cujo único objetivo é espichar o filme e mostrar a destruição do planeta por dentro ou, então, de estarem ali apenas para morrerem mais tarde.

Mas o que chama a atenção mesmo é o roteiro com mais buracos que as estradas brasileiras depois da temporada de chuva e férias. Apesar da trama ficcional e naturalmente absurda, as explicações sobre os porquês da ameaça são bastante primários, bem como a incoerência de se dizer que a aproximação da lua com a Terra vai fazer com que o satélite desprenda e lance pedaços seus “do tamanho de cidades” sobre o planeta – o que de fato acontece – sem que um único pedaço destrua a Terra por completo, como dizem os cientistas a respeito do perigo dos meteoros. Personagens dizem numa cena que irão tomar certo tipo de transporte para, na sequência imediata, pegarem outro completamente diferente! Claro, também, que o personagem que gosta de dirigir perigosamente vai ter a chance de mostrar suas habilidades numa perseguição por bandidos em meio ao caos da aproximação cada vez mais fatal da lua à superfície planetária. Mas a lista de incoerências e não-coesões são muito grandes para serem listadas uma a uma.

Com tudo isso, pode-se dizer que Moonfall é o típico cinema-pipoca, a seguir uma receita pronta, testada e reproduzida um sem-número de vezes anteriormente e até mesmo com direito a cena pós créditos (olha o MCU fazendo escola até para seus críticos! rsrs…).

Buscando ser leve, o filme não faz sequer uma menção aos milhões de mortos que a catástrofe escatológica deveria estar causando, inserindo, ao contrário, piadinhas aqui e ali, mesmo nas horas de maior tensão e perigo de morte. Tenta-se até inserir alguma crítica à postura dos governantes, mas, de tão sutil, nem cosquinha faz. E, claro, os EUA sempre são os salvadores de pátria!

Ao final, Moonfall diverte, se você conseguir abstrair da análise mais técnica e simplesmente comprar os argumentos apresentados pelo filme, além de fechar os olhos para o roteiro cheio de furos.

É, simplesmente, mais do mesmo e, para piorar, tira da lua e do espaço toda a “poesia do céu de Ícaro”, como certamente lamentaria Herbert Vianna.

Foto: Divulgação (lua sem qualquer romantismo)

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Nota: 2,5 / 5 (regular)

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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