Críticas
PIG: A VINGANÇA – A Vingança é um prato que se come quente! | Crítica (tardia) do Neófito
O adjetivo “ A Vingança”, que acompanha a versão em português do singelo título “Pig”, deste filme dirigido por Michael Sarnoski e estrelado por Nicolas Cage, pode, a princípio, levar o espectador a achar que se trata de mais um daqueles ‘filmecos’ que o oscarizado sobrinho de Francis Ford Copolla vem acumulando ao longo de sua irregular carreira cinematográfica, muitas vezes marcada por interpretações caricatas e histriônicas; ou, então, a pensar que se estaria de frente a mais um clássico filme B de ação, onde homem com passado obscuro e violento sai em busca de retaliação contra inimigos variados.
Mas não é esse o caso.
Pig: A Vingança, até tem um pequeno ato que se poderia chamar de “vingança”, mas não é um filme que trate de perseguição ou de revanche. É, ao contrário, uma história de “jornada”. A “jornada” de um herói diferente, pouco glamouroso, que não busca glória ou grandes realizações, mas a tranquilidade do anonimato e do esquecimento.
A busca física e real pela sua raptada porca de estimação – especialista em farejar trufas raras para a alta gastronomia – é a que menos importa. A verdadeira jornada do complexo personagem Robin Feld – vivido brilhantemente por Nicolas Cage em sua melhor forma dramatúrgica – é eminentemente íntima e subjetiva.
Vivendo como ermitão nas florestas dos arredores da mística Portland, “Rob” passa os dias com sua porca, caçando trufas, cozinhando com esmero, comendo e dormindo. Ele está em aparente paz com a natureza ao seu redor. Sua aparência e modo de vida são condizentes com o local onde mora e a forma como vai existindo. O único elemento a destoar do cenário idílico-selvagem é uma antiga fita cassete com seu nome escrito, que obviamente causa desconforto no eremita. Até que, numa noite, sem qualquer chance de defesa, ele é atacado e sua porca raptada; fato que o obriga a sair de seu autoimposto exílio para retornar à folclórica cidade estadunidense, aparentemente repleta de confortos externos, mas claramente muito mais ameaçadora que a floresta, em busca de seu pet querido.
É lá em Portland que se revela que Rob Feld era grande artista da culinária local; um dos maiores chefs contemporâneos, que optou por largar tudo para viver isolado, após alguma tragédia pessoal, que o fez perceber que já não agia mais movido pelo amor, mas certamente pelo nome, pelo glamour e pela aparência.
É na metrópole que a verdadeira selvageria – a humana – mostra-se mais perigosa e cruel do que os coiotes que uivam à noite na floresta. Para se ter direito à informação, faz-se necessário se submeter a uma sádica competição de resistência ao espancamento, levada a efeito nos porões de luxuosos hotéis e restaurantes da cidade, e cujas cicatrizes e sangue derramado devem ser exibidos como credencial de passagem.
É em luxuosa e rica mansão que o verdadeiro perigo – o humano – apresenta-se incontestável, na figura do rico Darius (Adam Arkin), capaz de, como na metáfora contada pelo profeta Natã ao Rei Davi para conscientizá-lo de seu pecado ao enviar Urias para a morte com o fim de ficar com sua viúva Betsabá, matar o pobre camponês de uma única ovelha para acrescentá-la ao seu já vasto rebanho.
Nessa perigosa jornada – que envolve reencontrar o doloroso passado deixado para trás, metaforizado na ausência de um pequizeiro e esperançosamente simbolizado na criança que toca um handpan – o único guia com que Rob pode contar é Amir (Alex Wolff, ótimo), para quem vende suas trufas raras, além de ser o filho ingênuo de Darius, iludido ao pensar controlar sua vida, por exibir sinais de sucesso, como o imponente Camaro amarelo, o loft com vista panorâmica e roupas de marca. Amir também realiza uma dura “jornada do herói”, de conscientização e mudança física e interior.
Forçado a reencontrar o passado, a única forma de Rob conseguir o que quer – recuperar sua porca – é também fazer com que aqueles ao seu redor se lembrem dos seus passados. Essa é a sua “vingança”. Mas seria melhor chamar de estratégia. Para alguém que abriu mão de tudo no presente e futuro, só a bagagem do que já se viveu pode servir de alguma coisa, sugerido pelo sangue coagulado no rosto e na barba.
Ao final, percebe-se que a porca era, não apenas objeto de amor de Rob, mas, principalmente, o cataplasma com que ele buscava estancar a dor que o passado carrega. Com sua ausência, era necessário mergulhar nesse cancro doloroso, espremer o pus acumulado, por mais que doesse, sendo essa a única forma de realmente poder se harmonizar com a natureza ao seu redor. Não há presente ou futuro sem o passado. Não dá para apagar tudo. Pode-se deixar de lado o que realmente não importa – e a conversa de Rob com o chef Derek Finway (David Knell, breve e marcante) deixa isso muito claro – mas algumas coisas – como o amor – não têm como não serem carregadas como cicatrizes do rosto e da alma.
Foto: Divulgação (o futuro, o presente e o passado…)
Vê-se, portanto, que Pig, não tem nada a ver com “vingança”, como os infelizes tituladores brasileiros tentaram induzir. Tem a ver com lembranças, que só podem ser boas, porque também há as ruins.
Com fotografia melancólica, produção modesta e correta, direção sensível, trilha sonora sutil e marcante e a fantástica performance de Cage, Pig é um filme que merece muito ser assistido, correndo o risco de ficar na memória, como aquele inesquecível prato que um dia se teve o prazer de experimentar.
Foto: Divulgação (quando só nos resta viver…)
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Nota: 4,5 / 5 (excelente)
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