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Críticas

GLORIA BELL | Crítica do Neófito

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É notoriamente sabido que os norte-americanos não gostam de assistir a filmes com legenda (hábito que, infelizmente, parece estar ganhando força no Brasil, o qual tem cada vez mais diminuído a oferta de filmes legendados…).

Assim, sempre que alguma obra cinematográfica estrangeira consiga, por seus méritos, destacar-se dentre toda a poderosa produção cinematográfica estadunidense, ao invés de se trabalhar a cultura da resistência à legenda, Hollywood prefere refilmar a tal obra de destaque.

Em algumas raras oportunidades, a “releitura” é bem-sucedida e até melhor do que o material de inspiração – Cidade dos Anjos (EUA, 1998) e Asas do Desejo (Alemanha, 1987).

Outras vezes, a versão hollywoodiana é cópia praticamente exata e não acrescenta nada à versão original – Quarentena (EUA, 2008) e REC (Espanha, 2007).

Na maioria dos casos, a adaptação piora (em muito) a obra principal, como o caso do execrável Olhos da justiça (EUA, 2015), que tentou, sem sucesso algum, reler o belíssimo e irretocável O Segredo dos Seus Olhos (Argentina, 2009), com resultado desastroso! Prefira o filme original, por favor!!

Foto: Divulgação

O filme Gloria Bell oscila entre os casos de refilmagens tão reverentes à obra original que têm muito pouco a acrescentar ao material de origem, e os raros casos em que se tornam mais “palatáveis” (para não dizer “melhores”) que o filme que as inspirou.

Sendo uma refilmagem do longa chileno Gloria, de 2013 (que rendeu o Urso de Prata de melhor atriz para Paulina García em 2014), Gloria Bell – dirigido em sua visão hollywoodiana pelo mesmo Sebastián Lelio da versão chilena – traz a versátil e mega-atriz Julianne Moore no papel principal da mulher na casa dos 50 anos, divorciada há pouco mais de uma década, filhos criados, avó amorosa, financeiramente independente, sexualmente bem resolvida e “baladeira”.

Foto: Divulgação

A descrição acima pode parecer extremamente prosaica e, na verdade, o é! E isso, para quem pretenda assistir a qualquer uma das versões do filme, é onde reside seu grande trunfo e encanto.

Gloria Bell não apresenta grandes reviravoltas de roteiro; não descreve conflitos hiper-dramáticos; não tem explosões (sejam pirotécnicas ou emocionais); é centrado no dia-a-dia de uma mulher bastante comum e absolutamente “encontrável” ao nosso lado, seja em casa, no trabalho, na rua ou na vizinhança; não traz uma ode ao erotismo, nem narrativa inovadora; ou seja, é absurdamente comum e cotidiano. E mesmo assim absolutamente envolvente e belo.

Trata-se, porém, de um filme que, infelizmente, será bem mais apreciado e emocionalmente compreendido  para as pessoas acima dos 40 anos de idade. Os mais novos até poderão gostar do longa, da interpretação de Moore ou da história em si, mas certamente não compreenderão a profundidade de alguns temas abordados e da dor sutil e subjacente que impregna certas expressões e acontecimentos da vida da protagonista.

A Gloria Bell de Julianne Moore é adorável. Está presente em todos os frames do longa (que praticamente reproduz quadro a quadro a obra original), com mudanças que, para a cultura brasileira, por exemplo, irão fazer muito mais sentido, como no caso  das músicas que Gloria escuta em seu carro para ir e voltar ao trabalho, que são e traduzem uma época específica e de profundo significado afetivo para a personagem em seu processo de envelhecimento (e para o espectador que com ela se identificar).

Enquanto na versão chilena – cujo país fica muito mais próximo física e culturalmente do Brasil – as músicas utilizadas dificilmente serão conhecidas ou terão maior relevância para o espectador brasileiro, as canções usadas na versão norte-americana – como A Little More Love (1978) de Olivia Newton-John – ressoarão na mente de quem assiste ao filme, estabelecendo o clima de nostalgia e até de certa melancolia.

Merece destaque John Turturro, no papel de Arnold (Sergio Hernández / Rodolfo na versão chilena), o inconstante e indeciso interesse amoroso de Gloria, numa composição minimalista e bastante diferente dos tipos caricatos que o tornaram mais conhecido (como o Agente Seymour Simmons, da saga Transformers ou o Fatoush ‘The Phantom’ Hakbarah, de Zohan: Um Agente Bom de Corte).

O sumido Michael Cera (Scott Pilgrim Contra o Mundo) surge como o amorosamente desiludido filho de Gloria e Sean Astin (Senhor dos Anéis) que faz uma participação especial.

Foto: divulgação

Mas, sem qualquer dúvida, quem carrega o filme nas costas é Julianne Moore, que se entrega de corpo e alma a sua encantadora personagem, sem pudores com relação à nudez, à fragilidade, à alegria e à tristeza com igual despojamento e honestidade.

Pode-se fazer a crítica de que Moore seria um pouco mais “nova” ou “bonita” do que o papel pediria, mas não há como não se envolver com sua composição da personagem.

Foto: Divulgação

O enredo, como já dito acima, faz um recorte da vida de Gloria, num momento em que ela não vê muitas perspectivas pela frente.

A grande lição do filme pode estar na aceitação da finitude da vida e de suas etapas. Uma dor (como um glaucoma) pode fazer com que encaremos a vida de forma diferente (ou a enxerguemos diferente). Não adianta também ficar tentando se fechar para as coisas que o destino e o passar do tempo nos trazem (que pode ser um gato ou mais uma decepção amorosa), pois a beleza de viver está aí, em crescer mesmo quando achamos que temos tudo sob controle e que já “havíamos chegado lá”.

Gloria Bell não é perfeito enquanto “filme”; mas é um respiro muito bem-vindo no meio de tantas obras com roteiro mirabolante e milhões de efeitos especiais.

Uma obra pungente, a que se merece assistir.

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Nota: 4 em 5 (ótimo)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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