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Críticas

I AM NOT OK WITH THIS | Crítica do Neófito

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O canal de streaming Netflix continua – acertadamente – apostando em tramas diferenciadas para compor o seu catálogo de produções próprias, tanto de filmes, quanto de séries.

Algumas produções (em termos de séries), tais como Stranger Things, Black Mirror e La Casa de Papel, tornaram-se verdadeiros fenômenos da cultura pop; outras, como Ragnarok, 3% e Sempre Bruxa, perderam-se num mar de boas premissas e pretensões, mas realização abaixo do esperado; algumas eram uma bomba sem tamanho (I-Land); cite-se as séries às quais ainda se espera que mostrem todo seu potencial (The Witcher); além daquelas que, sem muito alarde, revelaram-se ótimas surpresas, destacando-se, por exemplo, As Telefonistas.

Foto: Divulgação

Os gêneros, no entanto, como se vê, são diversificados, indo do drama histórico à ficção científica mais pura, perpassando pelo terror.

Na onda pop atual, o Netflix não deixou de se dedicar ao gênero adaptações de revista em quadrinhos. Falar do sucesso e importância de Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage, Justiceiro (Punho de Ferro, bom, melhor pular…) é chover no molhado, tamanho impacto e alcance que tais séries obtiveram frente ao público e crítica.

Foto: Divulgação

Essa liberdade criativa permite, inclusive, experimentações interessantes, como o caso de The End Of The F***ing World e sua premissa quase fantástica (também baseada numa revista em quadrinhos) que, apesar de não ser propriamente uma produção original do canal, ganhou notoriedade graças aos seus mais de cento e trinta milhões de assinantes pelo mundo afora.

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Não à toa, o Netflix convocou Jonathan Entwistle – criador e produtor de The End Of The F***ing World – para comandar outra adaptação de quadrinhos para seu catálogo de séries, surgindo a inesperadamente boa e instigante I Am Not Ok With This, estrelada pela talentosíssima Sophia Lillis (It), no papel de Sidney, uma garota de 17 anos extremamente “aborrecida” e “comum” – como ela mesma se define no primeiro episódio da série – que, em meio aos normais traumas familiares, explosões hormonais da puberdade e problemas escolares comuns a todos os jovens de sua faixa etária, descobre-se detentora de perigosos poderes telecinéticos.

Foto: Divulgação

A assinatura do showrunner da série britânica está presente na contraparte norte-americana até mesmo no layout do nome da série, escrito em letra cursiva, apresentado no meio da ação do episódio, sem abertura e contando com poucos episódios curtos e objetivos (7 episódios de 20 minutos cada). A similaridade entre os dois produtos concebidos por Entwistle é tanta, que dá para imaginar um universo compartilhado ou um crossover entre as duas séries!

No tocante ao programa em si, o bacana de I Am Not Ok With This é abordar o despertar dos poderes de Sidney como algo a mais em meio a tudo o que ocorre com ela (ou com qualquer jovem da idade dela), realmente se focando numa jornada de autoconhecimento bastante realista do ponto de vista subjetivo. Para estabelecer uma comparação, a já extinta série Manto e Adaga, por exemplo, inicia bastante “pé no chão”, caminhando lentamente de forma a mostrar os impactos que realmente uma habilidade extranormal teria na vida de duas pessoas no fim da adolescência, com ótimo desenvolvimento de personagens. Contudo, no final da primeira temporada, abraça-se o fantasioso, caminhando rumo às tramas episódicas de sempre (lembrando o universo CW), descambando de vez na segunda e derradeira temporada, quase um pastiche do que foi o primeiro ano.

Em I Am Not Ok With This – pelo menos até o seu final com gosto de quero mais – os poderes de Sidney representam um problema real naquele universo altamente factível e verossímil.

Muito disso se deve ao fato de a série claramente buscar inspiração em obras também icônicas, sendo a mais evidente, Carrie, A Estranha (falo do filme original de 1976, dirigido pelo mestre Brian De Palma, e não a versão Nutella, concebida por Kimberly Peirce, em 2013). Mas a estética, o clima e tramas também remetem facilmente a Clube dos Cinco (1985), Gatinhas e Gatões (1984), Curtindo a Vida Adoidado (1986), Negócio Arriscado (1983), A Garota de Rosa Shocking (1986), e até Conta Comigo (1986). Tudo em forma de homenagem, o que torna a experiência de telespectador mais saborosa.

Foto: Divulgação

A escolha por uma ambientação temporal ambígua ajuda muito na construção dessas referências, afinal, apesar dos personagens usarem pendrive, smartphones e redes sociais (como Instagram), ao mesmo tempo vê-se fitas K7 e VHS, discos de vinil e muita música dos anos 1980. É como se a pequena e interiorana cidade de Brownsville, Pensilvânia, onde se passa a história (como pouco mais de 5 mil habitantes), fosse um lugar perdido no tempo, um amálgama de eras concomitantes, mas que, surpreendentemente, funciona muito bem.

A interpretação extremamente segura e visceral de Sophia Lillis – presente em quase todas as tomadas (afinal, a narrativa e o ponto de vista são as de seu personagem) – é precisa, convertendo-se no verdadeiro alicerce de toda a série, praticamente ofuscando seus colegas de cena, incluindo o simpaticíssimo Wyatt Oleff (também de It), no papel de Stanley, o único a ter mais do que uma cena própria em tela (outro que tem um momento solo é Richard Ellis, no papel do arquetípico capitão do time de futebol americano da escola, Brad Lewis, também namorado de Dina, a melhor amiga da protagonista, defendida pela bela Sofia Bryant).

Foto: Divulgação

A naturalidade que Lillis emprega nos diálogos e pensamentos de Sidney torna a personagem cativante, mesmo e apesar de seu temperamento irascível e complicado, até meio antipático, às vezes. Minha expectativa, todavia, é que a atriz comece a diversificar seus personagens, para que não fique estigmatizada como uma atriz de filmes de terror, algo, por exemplo, que começo a verificar na carreira de Finn Wolfhard (Mike, de Stranger Things; Richie Tozier, de It; Miles Fairchild, de Órfãos) o qual parece preso a filmes com premissas sobrenaturais e sombrias.

O episódio final de I Am Not Ok With This, apesar de mais ou menos anunciado desde a primeira cena do primeiro episódio, é verdadeiramente surpreendente, pela crueza divertida de uma cena que marca uma possível reviravolta no próprio tom do programa (qualquer semelhança com Scanners: Sua Mente Pode Destruir “não” é mera coincidência). A agilidade dos episódios agrada, porque não enrola nem enche linguiça com nada que não seja essencial à trama e, ao mesmo tempo, deixa espaço para o desenvolvimento eficaz dos personagens.

Como não conheço o material de origem (a graphic novel homônima) não posso emitir juízo algum sobre a fidelidade da adaptação, mas, o produto final a que assisti agradou bastante.

Uma bela surpresa escondida no catálogo Netflix, I Am Not Ok With This merece ser vista e ganhar uma continuação à altura de sua primeira investida.

Foto: Divulgação

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Nota: 4 / 5 (ótima)

Confira também a opinião de outros redatores nossos: I Am Not Okay With This | Impressões por Konno

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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