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STAR TREK: PICARD | Análise crítica de “Encrencas em Stardust City”

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Capa do Bluray de Primeiro Contato. Paramount Pictures

Em 1996 estreava nos cinemas o filme Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato (Star Trek: First Contact). Uma vez que naquela época (olha eu entregando a idade) as produções demoravam para rodar o globo, o filme só veio ser exibido no Brasil em fevereiro do ano seguinte. É o oitavo filme da franquia Jornada nas Estrelas e o segundo a ser estrelado pela tripulação de A Nova Geração, desta vez sem a participação do elenco da Série Clássica. Depois da recusa de dois diretores, Jonathan Frakes foi o encarregado da direção. Ele já havia dirigido alguns episódios da série, sendo este seu primeiro filme.

Também foi o debut da USS Enterprise-E, nave que precisou ser construída devido aos eventos do filme anterior onde – alerta de spoiler! – a Enterprise-D fora destruída. A Enterprise-E é uma nave mais elegante, maior e mais bonita e recém comissionada nesse filme. Diferente das Enterprises anteriores, a Enterprise-E não possui nenhuma outra igual a ela, sendo a única de sua classe. A nave ainda apareceria em Jornada nas Estrelas: Insurreição (Star Trek: Insurection) e Jornada nas Estrelas: Nêmesis (Star Trek: Nêmesis), sendo que neste último ela fica extremamente avariada e necessita de reparos.

Enterprise-E. Imagem de divulgação da Aztec.

Na trama de Primeiro Contato, os Borgs (alienígenas cibernéticos que aparecem na segunda temporada de A Nova Geração) atacam o Setor 001, tentando vencer as defesas da Terra cuja localização foi descoberta depois da assimilação de Picard pelos mesmos(conforme visto no episódio O Melhor de Dois Mundos (The Best of Both Worlds), da terceira temporada de A Nova Geração). A Enterprise e sua tripulação desobedecem ordens de se manter patrulhando a Zona Neutra Romulana e partem para ajudar as naves da Federação. No local da luta, a nave ajuda a destruir um Cubo Borg, que lança uma esfera em direção à terra, criando um fluxo descontínuo de tempo. Em segundos, a Terra foi assimilada, não pelos Borgs atuais, mas pelos mesmos no passado. Decididos a impedir isso, a Enterprise adentra no mesmo fluxo de tempo que a esfera, caindo em uma trama onde seus adversários tentam evitar o Primeiro Contato dos humanos com uma espécie alienígena.

Este contexto é relevante por que os borgs são um importante plano de fundo do quinto episódio de Star Trek: Picard. Um plano de fundo bem interessante.

ATENÇÃO TRIPULAÇÃO: ATIVAR ALERTA DE SPOILERS!

Esta é uma crítica baseada no enredo do episódio, portanto ele tem muitos detalhes da trama que podem estragar a surpresa caso não tenha visto ainda.

Episódio 05: Encrencas em Stardust City (Stardust City Rag)

Icheb ferido. Imagem de divulgação.

Assim como todos os outros episódios, começamos com um flashback, de treze anos antes. Estamos no sistema Hipatia, no planeta Vergessen. Temos a visão de um jovem com implantes borgs pertencente à Frota Estelar. Ele está amarrado em uma maca e seus implantes são retirados à sangue frio, sem piedade ou anestesia. A cirurgiã (ou torturadora) procura pelo nódulo cortical e como não encontra, alega que irá desmontar o ex-borg totalmente se for necessário. A tortura é terminada com o som de uma luta. A cirugiã observa Sete de Nove invadir o local e disparar contra os torturadores.

O jovem é Icheb (interpretado por Casey King). Da espécie brunali, ele foi o único das quatro crianças assimiladas pelos borgs e resgatadas pela Voyager que retornou ao Quadrante Alfa. Ele foi separado da coletividade borg no episódio Coletividade (Collective), da sexta temporada de Voyager, onde aparece pela primeira vez. O nódulo cortical ausente em Icheb está, na verdade, com Sete de Nove. O mesmo doou essa peça para ela no episódio Imperfeição (Imperfection), após Sete correr o risco de morte devido a uma falha no seu próprio nódulo. Na série, Icheb é interpretado por Manu Intiraymi. Segundo os rumores, o mesmo não retornou ao papel devido à postagens na internet denegrido o ator Anthony Rapp (o Stamets de Star Trek: Discovery). A cena é carregada de emoção quando Sete de Nove tenta levá-lo para um médico, mas Icheb nega ser ajudado. É tarde demais para ele, que passou por muito sofrimento – não só nesta mesa de cirurgia, mas talvez na vida inteira devido ao estigma de ex-borg. Com pena, Sete de Nove o mata com um tiro de feiser.

Bruce Maddox. Imagem de divulgação.

O flahback avança um pouco no tempo, e vemos Bruce Maddox conversando com Bjayzl (Necar Zadegan, irreconhecível), claramente a mandante de um império criminoso em Freecloud. Aqui Maddox é interpretado por John Ales, diferente de A Nova Geração onde é interpretado por Brian Brophy. A razão pela troca de atores não foi comentada, mas supõe-se que Brophy tenha se aposentado, trabalhando agora apenas como produtor. Bruce Maddox revela que seus projetos foram banidos e que alguém, provavelmente a Tal Shiar (a polícia secreta romulana) usou solvente molecular para se livrar de tudo. Ele está enrascado, principalmente por não ter condições de pagar seu empréstimo. O que me faz pensar: por que um cientista a serviço da Federação precisaria de um empréstimo? O que ele emprestou que torna sua dívida tão complicada? E por que ele o fez com uma criminosa? Será que as especulações da internet sobre Dahj e Soji utilizarem tecnologia borg é real? Bjayzl decide mantê-lo prisioneiro, o que aumentam as dúvidas: o que ela ganhou, mantendo-o por perto todo esse tempo?

Bjayzl negociando.

 

Bem vindo à Freecloud!

Nos tempos atuais, Picard conversa com Sete de Nove. Ela abandonou a Frota Estelar, juntando-se aos Rangers de Fenris, uma organização bilateral de manutenção da lei e ordem em mundos não controlados pela Federação. Picard contesta os métodos dos Rangers, chamando-os de vigilantes, mas Sete defende-se dizendo que esses vigilantes são muitas vezes o que resta às pessoas quando não há mais ninguém a recorrer. Contrariado, o almirante concorda e pede ajuda à Sete para encontrar Soji. Sete ouve a história e concorda em ajudar. Enquanto isso, Raffi conversa com Rios sobre o passado borg de Picard e como isso se relaciona com Sete de Nove, enquanto a Dra Agnes assiste um vídeo em seus aposentos ao qual ela e Maddox se beijam, justificando seu interesse nesta missão. Quando chegam em Freecloud, o spam do século XXIV aparece na forma de vários hologramas dentro da nave, mostrando a cada um dos passageiros um assunto de relevância pessoal. Por nunca ter saído de Vashti, Elnor é o único livre dos mesmos.

Capitão Rios como intermediário. Imagem de divulgação.

Raffi localiza Bruce Maddox com Bjayzl, que está à procura de um intermediário para entregá-lo ao Tal Shiar. Sete a reconhece como uma contrabandista de peças borgs no mercado negro. Raffi alerta que a segurança em torno da criminosa é imensa, contando inclusive com um beta annari, um lagarto sensciente capaz de sentir o cheiro de mentiras entre outras coisas. Ela também avisa que Maddox está sendo ofertado à Tal Shiar e que provavelmente não terão dinheiro suficiente para cobrir a oferta. Então Sete de Nove argumenta que podem usá-la como isca. O plano então se desenrola ao mesmo tempo em que é explicado: Rios será um extravagante intermediário, que conversará com o sr. Vup, o beta annaris sobre uma nova oferta referente a Bruce Maddox. Picard será o contrabandista, cuja mercadoria será Sete de Nove. Em troca da ex-borg repleta de peças até os ossos, eles irão pedir por Bruce Maddox. Quando obtiverem Maddox, Sete irá acionar um dispositivo de transporte que levará todos para a nave.

Nesse ínterim, Raffi vasculha a superfície do planeta e descobre quem ela veio encontrar. Ela vai de encontro a Gabriel, seu filho, que abandonou há 14 anos. Ele está em um centro de reprodução assistida. Raffi diz a ele que está limpa (uma alusão ao seu uso de drogas) e que gostaria de corrigir as coisas, mas Gabriel não acredita que ela tenha abandonado sua obsessão sobre o ataque à Marte e o tal “Conclave dos Oito”. Infelizmente, a cena não tem o peso que deveria, por que os argumentos de Raffi são fracos e o diálogo não se sustenta. Tanto que ela falha em seu intento e o filho vai embora sem perdoá-la. Pra mim, foi mais uma amarração de roteiro ruim – dar uma motivação para o personagem seguir Picard originalmente e então tirá-la uma vez que a presença dela está garantida na “trupe”. Um “quiprocó” sem sentido.

Raffi, Gabriel e sua esposa romulana Pel.

De volta às negociações, o capitão Rios conversa com o annaris beta Vup, utilizando-se de vários hormônios para disfarçar seu cheiro e passar pela avaliação do criminoso. Ele introduz a figura de Picard, usando um horrendo tapa-olho e um sotaque de pirata francês beirando o ridículo e tentam vender a ex-borg Sete. Bjayzl aparece e reconhece Sete de Nove, chamando-a pelo seu nome de nascimento, Annika. Os capangas apontam armas para todos. Segue um diálogo entre Sete e a criminosa, sobre os encontros que tiveram no passado e como Sete pode ser enganada facilmente por tentar ser altruísta. Picard não entende o que está acontecendo e, ao pedir uma explicação, ouve de Sete que ela talvez não tenha sido honesta com ele nisso tudo. Maddox reconhece a voz do almirante e o chama pelo nome. Bjayzl surpreende-se de ver Picard ali e conta como ele foi manipulado por Sete de Nove, que escondeu o relacionamento “íntimo e pessoal” que elas tiveram no passado.

Aqui eu gostaria de fazer uma pausa para uma argumentação pessoal de três pontos muito importantes.

Montagem para comparação de Sete de Nove na série Voyager e na série Picard.

É muito comum que eu pesquise em vários sites, americanos ou brasileiros, para buscar todas as informações e referências dos elementos que compõe os episódios (vocês não achavam que eu sabia tudo isso de cabeça, não é mesmo?). Vi em vários destes sites comentários sobre “terem estragado a personagem”, referindo-se a Sete de Nove como lésbica ou homossexual, exatamente por causa da frase acima dita por Bjayzl. É sobre isso que gostaria de falar. Primeiro, muitas coisas podem ser “íntimas e pessoais”, não apenas sexo (embora sim, há uma certa insinuação por parte da vilã). Tortura é íntima e pessoal. Abuso, moral e físico (além do sexual) também é. Confiança e amizade, são outros exemplos benéficos do mesmo sentido. Então, ser “íntima e pessoal” podem ter inúmeras conotações. Em segundo lugar, é importante notar que a orientação sexual de Sete de Nove não muda em absolutamente nada na trama. E em terceiro lugar, as personagens femininas estão saindo cada vez mais do estereótipo de objeto sexualizado. Elas são fortes, independentes, protagonistas de sua própria história. Jornada nas Estrelas já teve inúmeros casos de mulheres altamente sexualizadas (a Série Clássica que o diga!) e Sete de Nove está incluída entre elas. Mas isso vem sendo derrubado cada vez mais. O próprio visual de Sete já diz muito sobre isso. As mulheres estão deixando pra trás a “responsabilidade” (com muitas aspas aqui) de serem apenas sensuais, com suas roupas colantes e decotadas. Então é importante nos conscientizarmos cada vez mais dessa mudança. 

Passado o desabafo, voltamos à nossa programação normal.

Sete de Nove abandona o plano e torna tudo pessoal, sequestrando Bjayzl. Ela entrega o dispositivo de teleporte para Picard fugir por que está disposta a matar sua adversária. Picard tenta desmotivá-la de sua vingança, dizendo que ela não traz consolo. Sete conta como se uniu aos Rangers de Fenris e como uma armadilha foi montada por Bjayzl para que Icheb fosse desmontado. Vup tenta ativar uma arma escondida, mas Rios intervém, matando-o. Ele diz que entende o sentimento de vingança, mas que a partir do momento em que Bjayzl for morta, haverá uma recompensa por Picard e Elnor em Freecloud e eles não teriam a menor chance de sobrevivência. Bjayzl propõe trocar sua própria vida por Bruce Maddox, e Sete aceita, mesmo contrariada. Eles ativam o teleporte de emergência e Dra Agnes os leva para La Sirena, junto com Bruce Maddox, que vai imediatamente para a enfermaria.

Picard agradece Sete pelo que ela fez e oferece uma carona. Ela responde que os Rangers já enviaram alguém para buscá-la, mas que antes precisaria de dois feisers emprestados. Picard entende o que ela pretende fazer, deixa que ela leve as armas. Ela pega o dispositivo de teletransporte de forma discreta e antes de descer, pergunta ao almirante se ele recuperou toda a sua humanidade após ser desligado da coletividade. Picard reconhece que não, mas garante que ambos – ele e Sete – estão trabalhando nessa situação. Sete de Nove então teleporta-se novamente para Freecloud, chega atirando e acabando com qualquer segurança que Bjayzl tenha. Antes que a vilã possa se desculpar ou iniciar uma negociação, a mesma é vaporizada.

Sete de Nove disparando feiser.

Sete então começa a disparar em cada um dos guardas que chegam ao local e não temos mais notícias dela até o final do episódio. Ela foi o recurso empregado para nos mostrar o que acontece quando a Federação dá as costas ao espaço romulano, bem como aos refugiados. A disputa pelo poder é bastante evidente e a questão de sobrevivência é urgente. De fato, Sete brilha muito nesse segmento da série, trazendo informações sobre os ex-borgs e sobre a humanidade de Picard, nunca antes discutida.

Voltando ao espaço, o doutor Bruce Maddox está a bordo da La Sirena, mais especificamente na enfermaria. Ele revela detalhes sobre as irmãs Dahj e Soji bem como o paradeiro de Soji. Ele avisa que ambas foram criadas para descobrir a verdade, mais especificamente sobre a proibição dos sintéticos. Para Maddox, não só os romulanos estavam envolvidos, mas também gente da Terra, dando a entender que a Federação possa estar por trás disso. Cansado, o homem é deixado por Picard aos cuidados da dra Agnes. Na ponte, ele conversa com Rios sobre irem ao espaço romulano e depois descobrimos que Raffi está de volta à bordo.

Bruce Maddox morto.

Na cena final, voltamos à enfermaria. Maddox ainda está muito ferido e diz que finalmente conseguiu fazer o mesmo que o doutor Soon, criar uma vida artificial perfeitamente imperfeita. Agnes altera os comandos da enfermaria e deixa Maddox para morrer, dizendo que não consegue conviver com o que sabe e o que viu. O holograma médico tenta intervir, mas ela o desativa. Bruce Maddox está morto.

Confesso que esse é um recurso que eu não entendi. Bruce Maddox foi o tempo todo a chave para muitas perguntas do próprio Picard, mas quando aparece, sua função é revelar que a dra Agnes pode ser uma traidora (ou alguém foi muito bem coagida, talvez com um elo mental da Comodoro Oh?) e dizer o que nós já sabíamos, a localização de Soji. Fica uma sensação de que todo esse esforço foi feito para nada. E como o holograma médico aceitou ser desativado diante de uma emergência visível? Algo me diz que essa história ainda não acabou (por favor, que não tenha acabado mesmo, seria muito sem sentido!).

Chegamos no meio da temporada, com a trama avançando um pouco mais agora. Esse episódio teria sido bem regular, ainda que melhor que o anterior. Porém, juntando com o histórico dos episódios passados, (este também dirigido por Jonathan Frakes) temos um panorama bem mais amplo e muito diferente do que estamos acostumados com Jornada nas Estrelas. Aqui conseguimos ver como é o mundo fora da visão das naves estelares e do mundo perfeito da Federação. Aprendemos que um povo inteiro não pode ser classificado como mau ou bom – de fato, a esposa de Gabriel é romulana, uma prova de que houve uma aproximação entre os povos outrora inimigos. Ou seja, cai o véu da construção maniqueísta que vem sendo Jornada nas Estrelas e adentramos numa área cinza, onde o mundo recebe uma mistura fria e preconceituosa. Esse é um pedaço distópico dentro de um futuro utópico e bem mais realista. Esse é o grande trunfo da série e a razão pela qual a nota do episódio sobe um pouquinho. Esperamos que o restante mantenha esse mesmo pique e continue nos levando onde Jornada nas Estrelas jamais esteve.

Trívia rápida: O planeta Freecloud do quinto episódio faz uma homenagem à canção Wild Eyed Boy from Freecloud, do músico David Bowie (de 1969).

Nota: 4/5. Muito bom!

Anteriormente, em Star Trek: Picard

STAR TREK:PICARD | Análise crítica do primeiro episódio

STAR TREK: PICARD | Análise Crítica de “Mapas e Lendas”

STAR TREK:PICARD | Análise crítica de “O Fim é o Princípio”

STAR TREK: PICARD | Análise crítica de “Franqueza Total”


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Desenvolvedor de sistemas, escritor, jogador de RPG, fanático por jogos de tabuleiro, leitor voraz. Tento salvar o mundo nas horas vagas, mas é difícil por que nunca tenho horas vagas...

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