Connect with us

Séries

STAR TREK: PICARD | Análise crítica de “Franqueza Total”

Publicado

em

Como vimos na matéria anterior (você pode acessá-la mais abaixo), em 1987 inicia na TV o primeiro spin-off (série derivada) de Jornada nas Estrelas (Star Trek), conhecida por Jornada nas Estrelas: A Nova Geração (Star Trek: The Next Generation). A Nova Geração trazia uma nova tripulação, desta vez no século XXIV, para uma das mais modernas naves da Federação, a Enterprise-D. Capitaneada por Jean-Luc Picard, um capitão que arrebataria uma legião própria de fãs, a nave trazia o Primeiro Oficial Willian Riker (posteriormente recebendo a alcunha de Imediato – Number One, no original); o andróide Data, um misto de navegador e oficial de ciências que não entendia muito bem as emoções humanas (qualquer semelhança com uma certa espécie alienígena não é mera coincidencia); o piloto Geordi LaForge (que mais tarde se tornaria o engenheiro-chefe da nave) e a oficial de segurança a humana filha de refugiados Tasha Yar.

Assim como sua antecessora, que inovou na tripulação, essa série também trouxe o klingon Worf para a ponte da Enterprise-D. Outrora inimigos, os klingons fizeram um acordo de paz com a Federação, pontapé dado inicialmente no filme Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida. Contava ainda com a meia betazóide empata a conselheira Deanna Troi. Por fim, ainda teríamos o cadete Wesley Crusher e sua mãe, a doutora Beverly Crusher.

Tripulação de A Nova Geração. Foto de by Paramount Television/Kobal/REX/Shutterstock

A Nova Geração foi transmitida por sindication, tal como as reprises da Série Clássica. E por falar em reprises, o canal SYFY ainda exibe alguns episódios de tempos em tempos. A série venceu dezenove Emmy Awards, tendo sido nomeada algumas vezes para para o Emmy de Melhor Série Dramática. Venceu dois Hugo Awards e seis Saturn Awards, prêmios importantes da ficção científica. Até Janeiro de 2013, a tripulação da Enterprise-D recebeu indicação total de 85 premiações diferentes, tendo vencido 31 delas. Mesmo tendo terminado suas exibições em 1994, o programa continuou no rol de premiações devido ao reconhecimento da obra de seus atores, produtores e escritores, além dos lançamentos em DVD e mídia digital. A série originou os filmes VII a X da franquia, sendo o oitavo filme, Jornada nas Estrelas – Primeiro Contato (Star Trek: First Contact), considerado por muitos um dos melhores (se não o melhor) filme de toda franquia.

Star Trek: Picard evoca os mesmos sentimentos e ideais de A Nova Geração, mas talvez desta vez comece a cometer alguns erros…

ATENÇÃO TRIPULAÇÃO: ATIVAR ALERTA DE SPOILERS!

Esta é uma crítica baseada no enredo do episódio, portanto ele tem muitos detalhes da trama que podem estragar a surpresa caso não tenha visto ainda.

Episódio 04: Franqueza Total (Absolute Candor)

Jean-Luc Picard e os habitantes de Vashti. Imagem da CBS All Access

O episódio começa novamente com um flahsback, dessa vez recuando um pouco mais além do episódio anterior. Picard é teleportado para Vashti, uma colônia de refugiados. Esse planeta é um local estratégico onde os romulanos são deixados antes de saberem para onde serão realocados. Veremos depois que esta é uma das poucas colônias que ele conseguiu salvar antes da Frota Estelar desistir da missão de resgate. Picard veste roupas de veraneio, o que me parece muito estranho para um almirante da Frota Estelar em missão, sendo que o mesmo nem precisaria esconder dos habitantes seu real propósito. Aqui os romulanos são exibidos como pobres coitados, com vestes muito semelhantes à da Idade Média humana. Mas isso não é, de forma alguma, um erro. Ao contrário – mostra que Picard e sua missão de resgate não só salvou primeiro os mais humildes e necessitados, mas que as condições ali não são muito satisfatórias. Picard é bem recebido, mas ainda assim não é bem visto.

O almirante espera receber o apoio das freiras da Ordem do Qowat Milat, um grupo de freiras assassinas (!!), cujo principal crença é na comunicação da emoção sem nenhum filtro entre pensamento e palavra (aquilo que chamamos de sincericídio). Por esta vida sem segredos, o Qowat Milat é o oposto completo da Tal Shiar (e consequentemente do Zat Vash). A líder do Qowat Milat no planeta é a freira Zani (Amirah Vann). Somos apresentados ao jovem Elnor (interpretado por Ian Nunney), alguém que implicitamente perdeu os pais e foi acolhido pelas freiras. Picard alega que irá levar o jovem para um lugar melhor que não ali com as mulheres. Prefiro pensar que Jean-Luc Picard tenha uma ideia de onde estejam os pais dele, ou alguém responsável que possa ficar com o garoto. Caso contrário, dizer “que entre mulheres não é um bom lugar para um menino” é sexista demais para o comportamento de vanguarda do então almirante (ou de qualquer outro no século XXIV).

Picard conversa com Zani. Imagem de divulgação.

O almirante passa bastante tempo com o jovem Elnor, lendo para ele ou praticando esgrima. De fato, Picard se torna o mais perto possível de uma figura paterna, mesmo deixando claro no começo do episódio que ele e crianças não se dão bem. Estranho é que vemos os tempo de Picard sendo gasto com o garoto, mas não com outros da população (me recuso a crer que somente Elnor tenha se tornado orfão no meio dessa bagunça toda). Também não vemos ele e Zani lidar com a questão dos assentamentos no planeta (ou em outras colônias), que era o objetivo principal dele no planeta. A construção da cena acaba se passando de forma incompleta. De fato, percebemos que o objetivo desta construção é criar um vínculo emotivo com a criança (talvez algo parecido com o que foi feito com Worf), mas que não acontece.

Picard e Elnor praticam esgrima. Imagem de divulgação

Picard recebe a notícia de que os sintéticos atacaram Marte e simplesmente dá no pé, sem maiores satisfações, simplesmente abandonando as pessoas no planeta. E o resto é história. Quando voltamos ao presente, descobrimos que a situação do local ficou bastante complicada. Sem a Federação para impor ordem e o Império Romulano desmantelado, o local ficou a mercê de arruaceiros e mercenários. As defesas planetárias são intensas e o nome do protagonista, mais uma vez, é mal recebido. Dada obviedade, Picard pretende desembarcar no planeta, o qual Raffi é de opinião totalmente contrária. Ela pretende partir para Freecloud o mais rápido possível, como vimos no episódio anterior. Ele ouve toda tripulação, num momento muito parecido com as reuniões que ele fazia na Enterprise-D, mas é irredutível na sua decisão.

Óbvio que Vashti mudou e a placa no bar local, “Apenas Romulanos” é só mais uma prova disso. A situação de pobreza, ignorância e medo ao qual o povo romulano foi deixado é bem parecido com a dos refugiados que não eram aceitos em lugar nenhum ou que simplesmente eram “assentados” em qualquer lugar, sem nenhuma infraestrutura. Um povo que perdeu seu lar e ainda por cima foi largado por aqueles que prometeram ajudar não está mesmo bem. Picard não é bem recebido pelo público geral, mas Zani aceita vê-lo e eles conversam. Em um momento são interrompidos por um espadachim elfico, digo… romulano. Elnor adulto (Evan Evagora) está formado nas técnicas do Qowat Milat, mas jamais poderá ser um deles por ser homem. Diferente do momento anterior, este sexismo tem uma certa coerência, se pensarmos na sociedade atual e em quais papéis são negados às mulheres por pura questão de gênero. Elnor conhece as técnicas e as tradições, mas jamais será alguém como Zani. Picard tenta falar com o duelista, mas os quatorze anos de ausência fazem muita diferença – ou melhor, indiferença. Elnor mostra-se bastante magoado por ter sido abandonado e faz o mesmo, abandonando o velho almirante à sua sorte.

Picard sai sem alternativas. No bar local, ele arranca e pisa sobre a placa de “Apenas Romulanos”. Um ato imprudente, vindo de uma pessoa de certa idade, num local onde não é bem quisto. O ato, é um desafio. De fato, quando as hostilidades começam, Picard faz mais uma vez seu discurso de desculpas. Certo, cara. Nós entendemos. Você tá muito amargurado e com muita vontade de corrigir as coisas. Mas acho que esta sua postura, ao menos, poderia mudar. O personagem costumava ser mais centrado e menos emotivo.

Soji e Narek. Imagem da CBS All Access.

Enquanto isso, no Cubo Borg conhecido como Artefato, Narek é pressionado para que o mesmo descubra mais sobre Soji e revele onde está “o ninho das aberrações”. Narek e Soji tem um momento a sós para patinar de meias dentro do Cubo Borg. Essa cena é tão desnecessária que fico pensando se deveria ter entrado na edição final. E por falar em espaço, Capitão Rios, Dra Agnes e Raffi, que estavam todo esse tempo olhando pro teto morrendo de tédio enquanto Picard bancava o pai pródigo, começam a ter problemas com uma nave romulana, no melhor estilo Ave de Rapina da Série Clássica.

Abaixo deles, no planeta, a tensão aumenta. Picard é confrontado por um antigo senador romulano, agora nada mais que um mercenário, este alegando que viu os discursos do velho almirante, acreditando neles. No entanto, sente-se enganado, pois o planeta é a prova de que não se deve confiar na Federação ou na Frota Estelar. Picard é obrigado a lutar. Elnor aparece e intervém a favor dele, decapitando seu adversário e colocando o almirante sob sua proteção oficial. Ambos são teleportados para a nave em momento propício (como La Sirena sabia que tinha que levar os dois e não apenas Picard?). Ambos descobrem estar em uma batalha espacial entre La Sirena e a Ave de Rapina Romulana. Temos mais um holograma de Rios aparecendo (o oficial tático), para deleite dos fãs que adoram o trabalho de Santiago Cabrera. Por fim, uma nova nave aparece, ajuda La Sirena a destruir a nave romulana, mas se despedaça no processo. O ocupante é trazido a bordo e é ninguém mesmo que Sete de Nove, a ex-borg muito conhecida pela série Voyager.

Sete-de-Nove.

Jonathan Frakes dirige esse episódio. Ele é um velho conhecido dos trekkers, tendo interpretado o Primeiro Oficial Riker em A Nova Geração, dirigiu o filme Primeiro Contato e um inúmeros outros episódios de séries de Jornada nas Estrelas, além da série Orville. Acredito ser dele a honra deste episódio funcionar, simplesmente tirando leite de pedra. Tanto Franqueza Total quanto seu antecessor, o episódio O Fim é o Princípio são episódios fracos, com pouca relevância. Ambos se sustentam apenas pela força do protagonista e a história não avança muito neles, ainda se prestem a contar muito do passado de Picard.

Ambos os episódios poderiam, de forma fácil e tranquila, serem condensados num único episódio com os mesmos 45 minutos em média. Seria possível até mesmo mostrar o sofrimento do povo romulano de forma mais criativa. A recusa da Frota na missão de resgate, a demissão de Picard, o abandono de Elnor – nada disso justifica a produção desses dois episódios em separado, uma vez que eles, de certa forma, derrubam a força da série. Resta esperar que a mesma empolgação do primeiro e segundo episódios volte a aparecer e Star Trek:Picard continue um sucesso.

Nota: 3/5. Razoável.

Anteriormente, em Star Trek: Picard

STAR TREK:PICARD | Análise crítica do primeiro episódio

STAR TREK: PICARD | Análise Crítica de “Mapas e Lendas”

STAR TREK:PICARD | Análise crítica de “O Fim é o Princípio”


SIGA-NOS nas redes sociais:

FACEBOOK: facebook.com/nerdtripoficial

TWITTER: https://twitter.com/Nerdtripoficia3

INSTAGRAM: https://www.instagram.com/nerdtripoficial/

VISITE NOSSO SITE: www.nerdtrip.com.br


Leia também:

TOKUSATSUS NA BAND | O que esperar disso afinal???

I AM NOT OKAY WITH THIS | Nova Série Original Netflix Ganha Trailer

THE OUTSIDER | SE NÃO TEM LÓGICA, ACEITE O INEXPLICÁVEL!

Nerdtrip Lista | 11 Filmes Não Americanos para conferir!

Crítica Literária | O Feiticeiro de Terramar

Desenvolvedor de sistemas, escritor, jogador de RPG, fanático por jogos de tabuleiro, leitor voraz. Tento salvar o mundo nas horas vagas, mas é difícil por que nunca tenho horas vagas...

Comente aqui!

Mais lidos da semana