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STAR TREK:PICARD | Análise crítica do primeiro episódio

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Logotipo da série

Quando foi lançada em 2017, Star Trek:Discovery, criada em 2016 para a plataforma de streaming da CBS (a CBS All Access), muitos trekkers (os fãs de Jornada nas Estrelas) torceram o nariz. Embora na minha modesta opinião a série tenha mais acertado que errado, protestos de “Discovery não é Star Trek!” repercutiram longe na internet brasileira. Exibida no Brasil pela Netflix, um dos problemas que os fãs apontavam era que a série tentava se manter mais como um show de ficção científica do que trazer toda carga filosófica, política e social que já estamos acostumados. Não era “cerebral” (eu acho que estavam todos exagerando, mas enfim…). Isso sem falar dos uniformes não condizentes com a época, tecnologia avançada em relação ao resto da Frota Estelar e uma justificativa não muito fácil de digerir para a Seção 31.

Mas o que Discovery (que está indo para a terceira temporada) tem a ver com Star Trek:Picard? Por que as expectativas para a série flutuaram mais que ações na bolsa após uma especulação. De fato, ver um dos capitães mais icônicos –e talvez mais importantes– da franquia (fama disputada até hoje com o capitão James T. Kirk da Série Clássica), de volta à ação deixa o coração de qualquer trekker mais acelerado. Mas ao mesmo tempo, como evitar que a série caísse nos mesmos percalços que sua antecessora? E os boatos de que Patrick Stewart teria aceitado voltar ao personagem unicamente por dinheiro (como se todo ator tivesse a obrigação de ser altruísta)?

Talvez as preocupações sejam infundadas. Neste texto, vamos nos aprofundar no primeiro episódio e saber por que a série vem ganhando tanto destaque a ponto de impulsionar o serviço Amazon Prime Vídeo aqui no Brasil…

ATENÇÃO TRIPULAÇÃO: ATIVAR ALERTA DE SPOILERS!

Esta é uma crítica baseada no enredo do episódio, portanto ele tem muitos detalhes da trama que podem estragar a surpresa caso não tenha visto ainda. Você pode ver uma crítica sem spoiler do primeiro episódio aqui, que  também foi escrita por mim.

 

 

Episódio 01: Recordações (Remembrance)

Enterprise-D na cena de abertura do episódio Remembrance

ST:Picard começa com imagens reais do espaço cedidas pela NASA, ao som de Blue Sky, cantada por Bing Crosby. Aliás, Bing Crosby é o avô de Denise Crosby, que interpretou Tasha Yar na primeira temporada de A Nova Geração. É nesse embalo que vemos a Enterprise-D, que consagrou Jean-Luc Picard (e consequentemente Patrick Stewart) como seu capitão por sete temporadas. É apenas um sonho, é claro, mas a participação de Data (interpretado sempre por Brent Spiner) e os detalhes da cenografia do Bar Panorâmico mostram um profundo respeito pela Nova Geração.

Dizem que abertura de um filme diz muito sobre como ele será conduzido e até sobre seu conteúdo. A fotografia é mais cinematográfica que televisiva, e o respeito ao protagonista não é exagerado. Os primeiros minutos, que vamos do sonho ao despertar trazem a mensagem que muitos fãs gostariam de ver: “você não está sonhando, estamos mesmo em Jornada nas Estrelas“. Ou, nas palavras do próprio capitão, “Eu não quero que o jogo acabe“.

O debochado Zhaban e a precavida Laris, em cena do episódio.

Picard, agora almirante, está aposentado e vivendo no Chateau Picard, uma propriedade de sua família na França. É o mesmo vinhedo citado no episódio O Melhor de Dois Mundos (que embora seja na França, foi filmado em um vinhedo da Califórina). Ele é auxiliado por um casal de romulanos (sim, isso mesmo) chamados de Laris e Zhaban, e a história de ambos entrelaça-se com a história de Romulus, como veremos adiante. Sua companhia é o pitbull Number One (Imediato), suas lembranças e sua desistência da Frota Estelar o fizeram um homem ressentido e depressivo. O tom da série volta a ser firmado na entrevista que Jean-Luc Picard concede a uma rede de notícias da Federação, no dia do aniversário da supernova de Romulus. Exatamente – o evento citados em Star Trek (2009 – J.J. Abrams) realmente aconteceu, pelo bem ou pelo mal.

Ficamos sabendo que Picard abre mão da cadeira de capitão da Enterprise para chefiar pessoalmente a operação de resgate de todos os romulanos possíveis. Mas no meio do resgate, os seres sintéticos destroem o estaleiro Utopia Planitia em Marte, inviabilizando o resgate e matando mais de 90 mil pessoas. É nesse ponto que vemos que a sociedade utópica do futuro mudou, assim como a nossa sociedade está sempre mudando. A entrevistadora mostra total preconceito às vidas romulanas, e praticamente um desrespeito à vida e memória do velho almirante. Que tipo de pessoas nos tornamos quando ignoramos a nossa própria historia e aceitamos fatos sem questionar? A entrevistadora e o almirante representam, respectivamente, a sociedade em que podemos nos tornar e a sociedade que gostaríamos de nos tornar. Mais uma vez, a série vai além do show de ficção científica.

 

Picard sendo entrevistado pela rede de notícias da Federação. Fonte: Trek Brasilis @ Instagram

 

Dahj ferida em seu apartamento

Se essa primeira parte parece letárgica e introspectiva, o surgimento de Dahj muda tudo; até a palheta de cores, que vai do alegre dos vinhedos à vida azul escura da Boston do futuro. Após ser vítima de uma tentativa de sequestro e ter o namorado morto, a menina “é ativada“, como dizem seus pretensos captores. Dahj é uma sintética e possivelmente construída por Data (ou como vemos depois, com base nele). Ela procura por Picard e na metade final é morta após ter sua origem parcialmente elucidada, mesmo que a contragosto. Dahj é o impulso que Picard precisava pra começar a se movimentar e começar a corrigir as coisas. “Não tenho vivido. Tenho esperado morrer.” é a máxima do personagem que cai em si ao perceber que, se quer que as coisas mudem, precisa mudá-las ele mesmo. Ainda que já não tenha tanta idade assim para tal fato.

Picard não desiste da sua busca. Ele vai até Okinawa no Instituto Daystrom, o maior e mais especializado instituto sobre robótica, computação e inteligência artificial da Federação. É a primeira vez que vemos o Instituto na tela, embora ele seja uma referencia antiga (iniciado com o Dr. Daystrom, na Série Clássica, no episódio O Computador Supremo). Nota importante: Recordações se passa na Terra, sendo este o episódio que mais exibiu a Terra do futuro em toda franquia. Paris, Boston, São Francisco, Okinawa são refletidas de forma futurista, mas ao mesmo tempo muito realista. A sensação é a de que essas cidades, tais como exibidas, existirão exatamente daquela forma daqui 300 anos. 

 

Conversa de Picard com a dra Agnes no Instituto Daystrom

Lá, ao conversar com a Dra Agnes, Picard começa ver a relação entre Dahj e Data de modo mais estreito e descobre a relação de ambos com Bruce Madox, que é o engenheiro da frota que pretendia desmontar Data ainda na longínqua segunda temporada de A Nova Geração (mais especificamente no episódio A Medida de um Homem). Além disso, descobrimos que o corpo de B-4 (o “irmão caçula” de Data, tecnologicamente ultrapassado e descoberto no filme Nêmesis).está em posse do Instituto. Aliás, nesse mesmo filme a rede neural de Data foi baixada para B-4, e considerando que o engenheiro e que Data ainda mantivessem contato, Picard soma dois mais dois e assume que Dahj tenha sido feita de fragmentos da rede neural de Data.

É interessante como a explicação da Dra Agnes sobre a produção de sintéticos (incluindo a existência da irmã gemea de Dahj) é feita de modo lento. Primeiro, ela amplia o cenário de que está, de fato, explicando tudo aquilo para um idoso. Picard é um explorador e um homem inteligente, mas a idade avançada já lhe cobra muita coisa. E é uma ferramenta perfeita para explicar para o expectador sobre o que pode vir a acontecer. Só de curiosidade, essa é a parte do episódio mais carregada de tecnobobeira, mas ainda assim, totalmente útil à trama. A série termina envolvendo romulanos e borgs, lembrando aquela velha teoria da nave Narada (de Star Trek de 2009) ser uma nave romulana com tencologia borg. Afinal, desde quando estão explorando aquele cubo?

Visão do Cubo Borg abandonado, sendo explorado pelos romulanos

Confesso que esse primeiro episódio me deixou muito empolgado com a série. Sim, eu sei que já fui enganado por “primeiros episódios“, mas tem tanto potencial nesse que sem dúvidas será uma excelente representação de Jornada nas Estrelas! Enredo envolvente, cultura filosófica e social, ST:Picard tem tudo para dar um bom fôlego à franquia! Bem vindo de volta, capitão!

Star Trek:Picard é transmitido ao Brasil pelo serviço de streaming da Amazon (o Prime Vídeo), com episódios semanais.

Nota 5/5. Sim, achei excelente mesmo!

Nota 5-5 Excelente


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Desenvolvedor de sistemas, escritor, jogador de RPG, fanático por jogos de tabuleiro, leitor voraz. Tento salvar o mundo nas horas vagas, mas é difícil por que nunca tenho horas vagas...

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