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STAR TREK: PICARD | Análise crítica de “A Caixa Impossível”

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Mark Lenard como romulano. Paramount Pictures.

Desde que surgiram pela primeira vez na Série Clássica no episódio O Equilíbrio do Terror (The Balance of Terror, primeira temporada), os romulanos são considerados inimigos jurados da Federação. No referido episódio, temos um grande discurso sobre preconceito, pois uma vez que eles e os vulcanos compartilham a mesma ancestralidade e um tripulante da Enterprise começa a manifestar sua repulsa à Spock. Também aprendemos que romulanos tem um senso de honra ao dever muito grande, colocando suas ordens acima de suas ideias pessoais, característica que seria passada para os klingons no futuro. Este episódio é o primeiro em que Mark Lenard aparece. Embora ele interprete um comandante romulano, o mesmo ficaria famoso interpretando Sarek, o embaixador vulcano pai de Spock.

Romulano de A Nova Geração

Os romulanos apareceriam novamente em outros episódios da Série Clássica, mas dariam as caras (literal e metaforicamente falando) no último episódio da primeira temporada de A Nova Geração, A Zona Neutra (The Neutral Zone). No século XXIV os romulanos terão uma testa e um corte de cabelo diferenciado, para distingui-los dos vulcanos. Em Star Trek: Picard descobrimos que isso é uma característica física dos romulanos do Norte. É com A Nova Geração que o aspecto de inteligência militarista mais se evidenciaria nos romulanos. De posse de suas aves de rapina capazes de se camuflarem e desaparecerem no espaço, os romulanos se tornariam excelentes espiões, aparecendo em episódios cheios de intrigas e suspense. A suprema tecnologia romulana (e sua capacidade de disuasão e estratégia) são evidentes no (infelizmente fraco) filme Jornada nas Estrelas:Nêmesis (Star Trek: Nemesis), com uma nave mais moderna e uma ave de rapina bem mais letal em uma conspiração para derrubar o governo.

Há um ditado em Jornada nas Estrelas que é muito referenciado. Ele inclusive, se aplica muito bem a esse episódio: “Cuidado com romulanos que trazem presentes“.

ATENÇÃO TRIPULAÇÃO: ATIVAR ALERTA DE SPOILERS!

Esta é uma crítica baseada no enredo do episódio, portanto ele tem muitos detalhes da trama que podem estragar a surpresa caso não tenha visto ainda.

Episódio 06: A Caixa Impossível (The Impossible Box)

Jovem Soji, interpretada por Ella McKenzie Gross. CBS All Access

Assim como todos os episódios, esse também começa com um flashback. Mais especificamente, um sonho. É Soji que vemos, mas ela é apenas uma criança assustada, chamando pelo pai durante uma tempestade. Ela caminha pelo corredor até entrar em um cômodo específico, onde seu pai se enfurece com ela. Soji então desperta. Narek está ao seu lado e tenta entender o conteúdo do sonho, sugerindo que ela converse com sua mãe, revelando que já sabe que elas conversam entre si todos os dias. Também é dado a entender que apesar da dicussão no episódio Franqueza Total, Soji e Narek ainda estão juntos – o romulano não desistiu de descobrir o planeta natal de dela sem ativar suas defesas de andróide.

De volta à La Sirena, Dra Agnes e Picard estão conversando sobre Maddox no refeitório, cujo coração não resistiu as ferimentos, segundo a doutora. Elnor, que chega atrasado na conversa, percebe que o almirante não está confortável em voltar ao Artefato. Agnes diz saber que Picard foi assimilado, por que sua área exige um estudo sobre borgs. Quando ela sugere que os borgs possam ter mudado, Picard se irrita, retirando-se da conversa. Elnor também percebe que a doutora sente-se apreensiva, mas é repelido pela mesma antes de dizer qualquer coisa. Me pareceu que a dra Agnes esconde muito mais coisas que imaginamos. Será que o treinamento com o Qowat Milat permite a Elnor detectar mentiras?

Ao deixar a conversa, Picard retorna para seus aposentos. Ainda perturbado, ele faz uma pesquisa no computador. Essa é a primeira cena emblemática do episódio. Quando o computador termina sua pesquisa, exibe várias imagens, como a Enterprise-E e o Cubo Borg de Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato (Star Trek: First Contact); Hugh enquanto ainda drone borg no episódio Eu, Borg (I, Borg – quinta temporada de A Nova Geração); e é claro, ele mesmo como Locutus, no episódio O Melhor de Dois Mundos (The Best of Both World, terceita temporada). É nessa hora que o holograma e o rosto de Picard se encaixam e ele leva a mão à face, mostrando que seu trauma não foi totalmente superado e ainda lhe causa muita dor.

Picard e o holograma de Locutus. CBS All Access.

Na sequencia, ainda na nave, vemos o capitão Cristóbal Rios jogando futebol. Embora algumas pessoas cogitaram o uso de dublê na cena onde o personagem faz umas embaixadinhas, descobri que o ator Santiago Cabrera não só é amante do esporte como também foi jogador de futebol semiprofissional antes de ser ator, chegando a ser capitão do time. É a primeira vez que o esporte é retratado na franquia. Rios é surpreendido pela dra Agnes, que se apresenta emocionalmente abalada e um tanto perdida. A cena e os diálogos são carregadas de uma tensão sexual óbvia e um tanto desnecessária, terminando com os dois se dirigindo aos aposentos do capitão. Agnes está tentando uma aproximação suspeita? Rios desconfia de algo e facilitou a abertura? Ou apenas um cena de afeto, quase que desnecessária? Fica o questionamento.

Tan Zhekran desmontado. Fonte: Memory Alpha.

No Artefato, Narissa espera pelo irmão Narek nos aposentos dele, brincando com um quebra-cabeça de madeira em formato de cubo, chamado tan zhekran. É o mais próximo de uma versão romulana do cubo mágico. Embora Narissa o trate como brinquedo, Narek diz que o vê como uma  ferramenta. Questionado por sua demora, Narek vê nos sonhos de Soji uma vulnerabilidade. Se ele conseguir descobrir a razão pela qual a andróide foi programada para sonhar, ele talvez possa forçá-la a falar sobre o sonho e com isso consiga a localização do planeta de origem da mesma.

No dia seguinte, La Sirena está prestes a sair do espaço da antiga Zona Neutra Romulana e romper o tratado, considerado uma infração extremamente grave. A dra Agnes sugere fingir serem cientistas, mas Picard alega que os borgs ou os romulanos podem reconhecê-lo. Eles resolvem conseguir credenciais diplomáticas para que o mesmo fale com o diretor do Projeto de Recuperação do Cubo Borg. Para tanto, Raffi mexe os pauzinhos com um contato na Frota Estelar para conseguir uma autorização, a custo de uma amizade desfeita. A cena termina com aplausos de Picard, que parecem desnecessários e fora de hora, mas é uma alegoria à importância de Raffi para aquela tripulação e missão, bem como um apoio nessa sua fase tão difícil. De fato, a interpretação de Michelle Hurd para sua Raffi bêbada e drogada, dialogando com argumentos afiados me fez aplaudir também. No Artefato, Soji liga para sua mãe e adormece durante a ligação, mesmo após cravar um estilete na própria mão. Isso confirma o que Narek lhe disse sobre suas ligações durarem apenas setenta segundos.

De posse da autorização conseguida com o contato de Raffi, Picard acessa o cubo borg via teletransporte, uma vez que os romulanos não permitem o aporte da nave. Lá dentro temos um show de interpretação de Patrick Stewart, retratando as emoções conflitantes de Jean-Luc Picard e o estresse de voltar para o cubo. As lembranças vem à tona, que o desestabiliza fisica e emocionalmente. Amparado por ex-borgs que o impedem de cair de uma amurada, Picard encontra Hugh, o diretor do Projeto de Recuperação Borg, que o recebe com um caloroso abraço. Picard e Hugh já pertenceram a Coletividade Borg e estão mais próximos um do outro do que podemos imaginar. É reconfortante ver um rosto amigo, finalmente alguém que o compreende.

Picard e Hugh se abraçam. CBS All Access.

Soji acorda e começa a desconfiar de sua vida. Ela escaneia todos os seus itens pessoais e descobre que todos tem 37 meses de existência, apenas alguns meses além de sua estadia no Artefato. Enquanto isso, Hugh e Picard caminham pelas instalações do cubo, comentando sobre o trabalho de recuperação dos “xBs”. A cena tem um peso emocional bem grande, sustentado pelo talento dos dois atores em cena.

Rios ajuda Raffi a se curar da bebedeira. No meio da conversa, Raffi se questiona por que a Tal Shiar deixaria Soji viva, sabendo onde ela está. No cubo, Soji e Narek chegam a uma sala de meditação romulana, o Zhal Makh, uma jornada para o centro do espaço mais íntimo da mente. Enquanto orienta Soji a falar dos seus sonhos, Narek vai movimentando o tan zhekran. É incrível como nesse episódio temos uma boa demonstração de como é rica cultura romulana. Picard e Hugh chegam aos aposentos de Soji e por causa da bagunça o almirante prevê que ela pode estar em perigo. Hugh usa os senores do cubo, mas ela está indetectável.

Câmara do Zhal Makh. CBS All Access.

Com a supervisão oculta de sua irmã Narissa, o romulano espião conduz Soji em seu processo de meditação, até que ela se relembre de seu sonho. Aqui descobrimos que os romulanos tem três nomes: um pra ser dito à sociedade, um pra sua família e outro mais íntimo a ser dito aqueles que ama – Narek diz se chamar Hrai Yan. Seria este realmente o nome dele? Soji acaba se lembrando do sonho, onde ela adentra o laboratório de seu pai e vê a si mesma como uma boneca para um molde. O medo a afasta da cena, mas Narek insiste e pergunta o que ela vê além disso. Soji responde “duas luas vermelhas, escuras como sangue e relâmpagos“. Narissa diz que isso é suficiente pra procurar pelo planeta e Narek concorda em encerrar o processo. O romulano que diz a Soji que ela não é real, nunca foi.

Molde para Soji. CBS All Access.

Ele sai da sala e a tranca lá dentro com seu tan zhekran, que se abre para revelar um dispositivo emissor de gás radioativo, uma técnica de assassinato parecida com a que foi utilizada em Jornada nas Estrelas: Nêmesis (Star Trek:Nemesis). Esse é outro ponto importante do episódio. Narek chora, como se lamentasse pela sua ação. Talvez ele realmente amasse Soji, mas como um bom romulano, cumpre sua missão até o final. Eu disse em outra postagem que ele parecia um vilão de James Bond, mas devemos lembrar que 007 teve alguns vilões muito bons. Narek é o perfeito espião romulano nesse tempo todo e Harry Treadaway é muito bom demonstrando isso. Com as defesas de androide ativadas, Soji arrebenta o solo de madeira, escapando por um buraco até o espaço entre os andares. Ela finalmente aparece nos sensores de Hugh e, juntamente com Picard, corre encontrá-la. Quando a localizam, Picard usa o colar de Dahj para indicar que ele é confiável. Uma facilidade de roteiro aqui, uma vez que Soji nunca o viu e não tem motivos pra confiar nele, ainda mais quando está sendo perseguida.

Para se esconder dos romulanos, Hugh leva todos a uma sala secreta, que Picard reconhece instantaneamente como os aposentos da da Rainha, mesmo nunca tendo pisado nele. Hugh diz que isso é um reflexo latente da coletividade dentro da mente do almirante. A rainha borg aparece como o centro da coletividade no filme Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato (Star Trek: First Contact). Ela é intepretada por Alice Krige, que retorna para este mesmo papel no episódio final de Voyager, Fim de Jogo (Endgame, sétima temporada).

Alice Krige como Rainha Borg. Paramount Pictures.

Hugh aciona o trajetor espacial, um tipo de teletransporte que os borgs adquiriram após assimilarem os sikarianos e que tem alcance de 40 mil anos luz. O trajetor espacial e os skarianos aparece pela primeira vez em Voyager, no episódio Princípios (Prime Factors, logo na primeira temporada). Em Voyager, ninguém conseguia fazer o trajetor funcionar e os sikarianos se recuavam a compartilhar conhecimento. Com a assimilação, os borgs agora usam esta tecnologia para permitir que a rainha escape ilesa. Picard pede que Rios trace curso para Nepenthe, para ir buscá-los. O momento vergonha do episódio é a materialização de Elnor no cubo, contra a vontade de Picard, salvando-o do ataque de três romulanos. O rapaz decide ficar para garantir a fuga de Picard e Soji.

A Caixa Impossível é o episódio mais longo de Star Trek: Picard até agora, com 54 minutos. Mesmo assim, é um dos melhores da série até agora. Todas as referências utilizadas funcionam, não servindo apenas como fan service (embora muitas vezes funcionando como Deus ex Machina). A trama deu um salto, ao invés de uma caminhada, mas duvido que venhamos conhecer o final da saga de Soji e dos sintéticos ainda nesta temporada (a série já foi renovada para uma segunda temporada). Fazendo analogia ao cubo romulano, usado por Narek  passando pelo Cubo Borg que Picard tem que enfrentar, A Caixa Impossível nos mantém presos na trama e nos entrega, sem enrolar, parte da história que ansiávamos por conhecer. Agora resta saber o que Picard fará em Nepenthe, mas o trailer já deu uma indicação: falar com William Riker!

Star Trek: Picard vai ao ar semanalmente, aqui no Brasil através do serviço de streaming da Amazon, o Prime Vídeo.

Nota: 4/5. É muito bom!

 

 

 

 

 

Anteriormente, em Star Trek: Picard…:

STAR TREK:PICARD | Análise crítica do primeiro episódio

STAR TREK: PICARD | Análise Crítica de “Mapas e Lendas”

STAR TREK:PICARD | Análise crítica de “O Fim é o Princípio”

STAR TREK: PICARD | Análise crítica de “Franqueza Total”

STAR TREK: PICARD | Análise crítica de “Encrencas em Stardust City”


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Desenvolvedor de sistemas, escritor, jogador de RPG, fanático por jogos de tabuleiro, leitor voraz. Tento salvar o mundo nas horas vagas, mas é difícil por que nunca tenho horas vagas...

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