Connect with us

Críticas

UM PRÍNCIPE EM NOVA YORK 2 | Crítica do Neófito

Publicado

em

Como costumo dizer, não me considero um “Crítico” de cinema, na acepção técnica da palavra. Falta-me conhecimento especializado e acadêmico para tanto. A experiência de vida como nerd, anos de cinéfilo e de estudos autodidatas são os elementos que me permitem atrever a escrever o que chamo de “comentários críticos” sobre produções audiovisuais.

Normalmente, escrevo em terceira pessoa, para conferir caráter mais distanciado e técnico aos comentários; mas, desta vez, opto pela primeira pessoa.

Isso porque, apesar de ter assistido a Um Príncipe em Nova York 2, logo na sua estreia no Brasil pela Amazon Prime – dia 5 de março de 2021 –, vi-me absolutamente bloqueado para escrever alguma coisa sobre o longa, que trouxe de volta do agora Rei Akeem Joffer (interpretado por um incrivelmente conservado Eddie Murphy), 33 anos depois das aventuras românticas do então Príncipe Akeem, que viajou do fictício bem-sucedido país africano Zamunda para a Nova York dos anos 1980, em busca do amor verdadeiro, mais precisamente em 1988, mesmo ano em que, na vida real, conheci a mulher com quem divido a vida até hoje (e espero até o fim da vida).

Além disso, o primeiro Um Príncipe em Nova York é legítimo exemplar de filme que marcou toda uma geração, sendo, juntamente com Gosthbusters, Caçadores da Arca Perdida, De Volta para o Futuro, Os Garotos Perdidos, A Hora do Espanto, Os Goonies, Um Lobisomem Americano em Londres, O Enigma da Pirâmide, e tantos outros, símbolos da chamada década perdida.

 Foto: Divulgação

Trata-se, portanto, de um filme emocionalmente caro para este reles colunista que lhes escreve, que viveu a efervescente adolescência nesse período.

Dito isso, preciso confessar que foi estranho ver os personagens que foram tão icônicos para minha geração – e incansavelmente revisitados nas inúmeras reprises do filme original – envelhecidos e quase deslocados, repetindo seus trejeitos de mais de 30 anos atrás.

Apesar da incrível aparente juventude de Eddie Murphy – com 59 anos, que parecem 40 ­– os demais personagens – como o escudeiro Semmi, vivido por Arsenio Hall (66 anos); a agora Rainha Lisa Joffer, novamente no corpo de Shari Headley (56 anos); o sogro Cleo McDowell de John Amos (81 anos); o Rei Jaffe Joffer, encarnado pela eterna voz de Darth Vader, James Earl Jones (90 anos) – demonstram no rosto e no corpo a idade que atingiram.

(detalhe: Eddie Murphy e Arsenio Hall voltam a interpretar os outros personagens a que deram corpo no filme de 1988, respectivamente, o barbeiro Clarence, o judeu Saul e o péssimo cantor Randy Watson; o barbeiro Morris, o reverendo Brown e o xamã Baba)

Foto: Divulgação (todas as encarnações de Murphy e Hall, à esquerda, no filme atual, à direita, no longa de 1988)

Mesmo com a notável vivacidade dos atores, é inegável a sensação de envelhecimento que a nova viagem de Akeem aos EUA – desta vez para achar um filho homem bastardo que, pela conservadora lei zamundiana, seria o  legítimo sucessor do reino – passa para o espectador.

Em contrapartida, o prazer de rever aquele riquíssimo universo concebido no primeiro longa do distante 1988 também é inegável.

Percebo, assim que me vi no conflito entre a alegria de assistir à continuação de um “clássico pop”, e a sensação desconfortável de ver todos os atores bem mais velhos, de que este colunista também havia cruzado mais da metade de sua vida.

Mas, deixando as cismas pessoais, passemos à análise do filme em si.

A produção é caprichada, não ficando nada a dever ao primeiro longa em termos de cenários, figurinos, efeitos visuais e especiais (com destaque para o incrível rejuvenescimento de Murphy e Hall, para uma essencial cena de flashback).

A fotografia é básica, sem muitas variações de luz e cor entre a mais suja e urbana Nova York e a solar e florestal Zamunda.

A direção de John Landis no longa de 1988 é mais leve e fluida, enquanto Craig Brewer – que trabalhou com Murphy no bom Dolemite é meu nome (2019) – busca manter o ritmo de seu antecessor, mas claramente não possui o ótimo timming de Landis, na condução dos atores ou cenas de humor.

Os atores conduzem seus personagens de forma a irem da habitual competência a certo constrangimento. Nesse sentido, Eddie Murphy oscila entre a naturalidade meio ingênua do “príncipe” Akeem e a natural maturidade que o “rei” Akeem deveria ter desenvolvido após 3 décadas dos eventos do primeiro filme. Arsenio Hall faz o possível para se mostrar à vontade com Semmi, mas não há como não sentir que algo não se encaixou na retomada do personagem. Nas horas em que surge pesadamente maquiado como a persona dos demais personagens que interpreta – o xamã Baba, o barbeiro Morris e o Reverendo Brown – ele parece muito mais confortável.

Foto: Divulgação

A outrora belíssima Shari Headley ostenta as marcas da idade que lhe tiraram o brilho do magnífico sorriso dos vinte e poucos anos, mas denota a elegância e presença necessárias para ser a rainha zamundiana e mãe das princesas Meeka Joffer (Kili Layne, muito boa no papel), Omma Joffer (Bella Murphy) e Tinashe Joffer (Akiley Love).

Foto: Divulgação

John Amos se sai bem na figura do patriarca McDowell, ainda plagiando o McDonald’s em tudo o que for possível. James Earl Jones fica pouco em cena, mas sua performance como o rei vivo e presente no próprio funeral é impagável.

Foto: Divulgação (os veteranos John Amos e James Earl Jones)

Da turma antiga, os únicos não presentes são Madge Sinclair, a bela Rainha Aoleon Joffer – que faleceu em 1995, em razão de leucemia –, a espevitada personagem Patrice McDowell – nem mencionada em todo o filme – vivida pela aposentada atriz Allison Dean, e o canastrão Darryl Jenks (Eriq La Salle), que provavelmente não apareceu por ter terminado o filme de 1988 como provável par romântico de Patrice.        

Com relação aos novos personagens, Wesley Snipes vive o General Izzi, estereótipo de chefe guerrilheiro africano, que ambiciona o trono de Zamunda por fome de poder, por complexo de inferioridade e por vingança, já que ele se revela como irmão de Imani Izzi, a ex-noiva politicamente escolhida de Akeem, no primeiro filme, cujo destino hilário deve ser conferido.

Foto: Divulgação

Segue-se o candidato a filho de Akeem, Lavelle, vivido por Jermaine Fowler, que mostra bom timming cômico, apesar de algum exagero na composição. A talentosa Leslie Jones vive a mãe de Lavelle, destacando-se no estereótipo da mulher negra independente, sexualmente liberada. O resto da família norte-americana de Lavelle está ali apenas para a produção de gags, sem nenhum destaque.

Foto: Divulgação

Por fim, participações especialíssimas, como Morgan Freeman e Gladys Knight e John Legend – vivendo a si mesmos – dão um toque especial ao longa.

O roteiro ralíssimo e com furos enormes – como um reinado trilionário não faz teste de DNA para comprovar a relação de paternidade de Akeem e Lavelle? – serve apenas para criar situações engraçadas com os personagens clássicos e consolidados no imaginário popular. Algumas bem-vindas críticas sociais com relação ao preconceito racial de de gênero têm lugar aqui e acolá, bem como uma divertida brincadeira sarcástica com a Wakanda do MCU, que não foi a primeira afrofuturista nação africana rica e próspera do cinema norte-americano. O roteiro também se adere a uma configuração mais politicamente correta, de modo que nada de topless!

Com tudo isso, o longa acaba com uma cara de telefilme, esbarrando em algumas atrozes continuações feitas diretamente para telinha (na época, “direto para vídeo”) como a horrorosa sequência de Splash: Uma Sereia em Minha Vida. A diferença é que, com os atores originais e o capricho da produção, Um Príncipe em Nova York 2 apela para a nostalgia, sem pretensões de ser nada além do que uma comédia divertida com personagens conhecidos em nova situação (mas nem tanto).

Ao final do filme, fica-se com uma agradável sensação de leveza, mas rapidamente esquecível.

Ainda assim, foi bom rever os velhos amigos Akeem e Sammi, provavelmente pela última vez!

Foto: Divulgação

_______________________________________________________________________________________________________________________________________

Nota: 3,5 / 5 (muito bom)


SIGA-NOS nas redes sociais:

FACEBOOK: facebook.com/nerdtripoficial

TWITTER: https://twitter.com/Nerdtripoficia3

INSTAGRAM: https://www.instagram.com/nerdtripoficial/

VISITE NOSSO SITE: www.nerdtrip.com.br


TOP GUN: MAVERICK | Paramount Pictures anuncia nova data da estreia nacional (será?)

AMÉRICA ARMADA | Crítica do Neófito

NERDTRIP PODCAST #1 | Mulheres feministas em comunidades gamers

WANDAVISION | O destino dos gêmeos, Mephisto e o paradoxo do navio de Teseu – Crítica em vídeo

Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

Comente aqui!

Mais lidos da semana