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Críticas

DRUK | Crítica do Neófito

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Nos recentes comentários críticos acerca de Um Príncipe em Nova York 2, destacamos o efeito do passar do tempo tanto para os personagens da obra, quanto para a geração de espectadores que vibraram com o longa de 1988. Todavia, trata-se de uma constatação subjacente aos objetivos do filme atual que, claramente, tem por meta simples e direta fazer sucesso a partir da nostalgia e do sucesso da produção antecessora.

Mal sabíamos que, praticamente no mesmo dia, seríamos incumbidos de resenhar outra obra cinematográfica que, esta sim, aborda de forma muito direta a questão do envelhecimento ou da chamada “meia idade”, além de algumas reflexões sobre motivação para a vida, mesmo que o diretor do filme – o dinamarquês Thomas Vinterberg (do impactante A Caça, 2012) – tenha dito em entrevistas que não faz “filmes com mensagens” ou com “lição de moral”. Mas não há como não estabelecer paralelo entre a cena de abertura, que mostra a animada maratona alcoólica de jovens estudantes e a cena em seguida, que foca o rosto desanimado de homens envelhecidos e sem entusiasmo.

Foto: Divulgação

Desse modo, Druk: Mais Uma Rodada (“Druk”: sem tradução certa, mas algo como grande bebedeira) acompanha a saga etílica de quatro homens dinamarqueses de meia idade, bastante ordinários, suburbanos, brancos, héteros, de classe média e todos professores na mesma escola de ensino fundamental e médio. Além do emprego em comum, os quatro também compartilham uma espécie de crise pessoal, desmotivados pessoal e profissionalmente, presos a rotinas que consideram tediosas e frustrantes.

Na comemoração do aniversário de 40 anos de um deles, Nikolaj (Magnus Millang), os 4 homens – muito bem interpretados, além de Millang, por Mads Mikkelsen (Martin), Thomas Bo Larsen (Tommy) e Lars Ranthe (Peter) – deparam com a teoria bastante heterodoxa (para dizer o mínimo) do (real) psiquiatra norueguês Finn Skårderud, o qual propõe (de verdade!) que o ser humano possui um déficit de 0,05% de álcool no sangue. Após um porre divertido no final dessa noite, o quarteto resolve se tornar autocobaia para testagem da teoria de Skårderud, passando a ingerir, ao longo do dia, a quantidade alcoólica necessária para compensar a suposta deficiência genética.

 Foto: Divulgação

A princípio, tudo parece de fato melhorar na vida daqueles homens, principalmente na do professor de História Martin (vivido pelo versátil dinamarquês Mads Mikkelsen, o Hannibal Lecter da extinta série Hannibal, exibida de 2013 a 2015) que, após uma tensa reunião de reclamação sobre suas aulas promovida pelos pais e alunos do colégio, vê sua motivação docente retornar à medida em que consome bebida alcóolica regularmente, bem como seu relacionamento parental e o casamento com Trine (Maria Bonnevie), que passa todas as noites fora de casa, supostamente em razão de plantões noturnos. Além disso, o professor de Música Peter consegue inflamar seu coral; o professor de Educação Física Tommy faz do esporte escolar um elemento de integração; e o professor de Psicologia Nikolaj passa a conviver melhor com a paternidade tripla de 3 crianças pequenas e noites insones sem fim.

Foto: Divulgação

O experimento parece ser um sucesso, o que motiva os 4 professores a dobrarem a aposta, aumentando a dose diária de álcool até a experiência de beberem o máximo que conseguirem num só dia, o que se mostra um desastre.

As consequências menos positivas da embriaguez regular se fazem presentes, indo desde situações irônicas (o homem que vivia reclamando do xixi dos filhos na cama, acaba padecendo do mesmo problema), até ao alcoolismo propriamente dito. Por outro lado, os benefícios da alteração alcóolica – maior relaxamento e soltura, mais motivação, alegria e interação social – também são reais. E é nisso que reside o mérito de Druk, que não se define como drama ou comédia e não propõe julgamento moral sobre o ato de beber, mas, talvez, no excesso.

Foto: Divulgação

Mas essa isenção total não é de fato atingida, ao ponto de completa neutralidade da câmera. Afinal, Martin encontra na bebida não apenas a forma de “se soltar”, mas também como gritar por socorro diante das angústias pessoais, conjugais e profissionais que vivia. Em certo diálogo, ele ressalta ainda “ter muito tempo”, mesmo que não se trate do tempo cronológico propriamente dito, mas muito mais a perspectiva de haver como aproveitar melhor o tempo que lhe resta.

Foto: Divulgação

Na verdade, Druk parece a exposição visual das teorias epicuristas, que pregavam a obtenção do prazer – físico e anímico – como sentido da vida. Não por coincidência, Epicuro (pai do epicurismo), usava justamente o ato de beber como exemplo de que a fruição desse prazer não pode chegar ao nível de gerar uma consequência tal – como a ressaca – que seja tão ruim a ponto de minar o prazer obtido. Assim, beba moderadamente, ao ponto de se tornar mais sociável, afável, divertido, lúdico, solto; porém, não permita que o álcool tome conta de você a ponto de não se lembrar do que tenha feito ou deixado de fazer no dia seguinte. Como diria Lulu Santos, “pode acabar sendo fatal”.

Em termos técnicos, Druk tem, obviamente, ritmo mais lento do que blockbusters e até mesmo alguns dramas norte-americanos, mas nunca é entediante ou repetitivo. A direção é segura e sensível (não sentimental), com ótimos atores, boa fotografia e cenografia. A direção de atores, aliás – essencial à obra – é primorosa. Possuindo tema semelhante, o filme dinamarquês pode até remeter a obras como Despedida em Las Vegas (1995) ou Sideways: Entre Umas e Outras (2004), mas possui proposta e abordagem bastante distintas das mencionadas.

Assista a Druk: Mais Uma Rodada – forte candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro este ano e com Mikkelsen indicado a melhor ator – se for em casa, com uma taça de vinho ou copo de cerveja na mão, desde que você não tenha problemas de verdade com a bebida, claro. Mas mesmo com água e refrigerante, pode-se garantir que o filme não dá ressaca.

Foto: Divulgação

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Nota: 4 / 5 (ótimo)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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