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Críticas

FREE GUY: ASSUMINDO O CONTROLE | Crítica do Neófito

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Definitivamente, Ryan Reynolds tem cara de bom sujeito; daquele amigo que, no churrasco de domingo, fica pagando mico e pregando peças nas demais pessoas, contando piada, rindo alto, falando sem parar e cantando a plenos pulmões as músicas tocadas ao violão.

Difícil desgostar do sujeito, principalmente depois de seu Deadpool  absolutamente iconoclasta (2016 e 2018), quebrando a quarta parede e se autoparodiando sem qualquer pudor.

Só pela sua presença em Free Guy: Assumindo o Controle, o filme dirigido por Shawn Levy (do ótimo Real Steel – Gigantes de Aço, de 2011) já ganha pontos com crítica (e certamente ganhará com o público).

Foto: Divulgação (como um simples par de óculos pode mudar toda sua visão de mundo…)

O personagem vivido pelo ator canadense de 44 anos (mas com corpinho e rosto de 30) – o “Guy” do título – também parece ter sido feito sob medida para ele mostrar suas caretas, humor verborrágico e físico, sorriso cativante e charmoso carisma.

Na trama fantástica, Guy é mero personagem coadjuvante NPC (Non-Player Character), do fictício maior jogo de realidade simulada já inventado, o Free City, de propriedade do inescrupuloso empresário Antwan (Taika Waititi, em todas atualmente), que teria, sem consentimento dos inventores – Millie Rusk (Jodie Comer, ótima) e Walter “Keys” McKeys (Joe Keery, de Stranger Things), que continua trabalhando para ele – usado o código fonte original dos criadores como base de seu game viciante, o que implica, sem que ele mesmo saiba, o desenvolvimento da primeira I.A. potencialmente evolutiva.

Foto: (Divulgação: tudo por dinheiro)

Utilizando o avatar Molotovgirl, Millie busca, de dentro do jogo, encontrar a prova de seu código fonte, o que a possibilitaria ganhar o processo que move contra Antwan. E, numa dessas imersões no game, ela topa com Guy no decorrer de sua repetitiva rotina de acordar, dar bom dia ao peixe “Dourado”, colocar a mesma combinação de roupa caqui e azul claro, comer cereais, tomar café na cafeteria, lamentar não ter dinheiro para comprar o par de tênis que tanto deseja, ir trabalhar como caixa no banco que sempre é assaltado, quando leva chutes e/ou tiros das “pessoas de óculos. A questão é que Guy, apesar de submerso na sua “programação”, sonha com a mulher ideal e amada, que teria que gostar de música pop. E não é que a Molotovgirl estava cantarolando Mariah Carey ao, por acaso, cruzar com ele nas ruas de Free City?

Foi o que bastou para que Guy acordasse e tomasse a iniciativa de sair do script de mero personagem coadjuvante, idealizado para apanhar e ser morto pelos jogadores do mundo real e começasse a correr atrás de seus sonhos românticos, primeiramente, confundido com um avatar.

Foto: Divulgação (brincadeiras com Matrix! Mas também tem com Vingadores!!!!)

Como a maior parte da ação ocorre dentro da realidade virtual de um game, Shawn Levy aproveita para apresentar um mundo realmente fantástico, no qual as ruas estão repletas de perseguição de carros, motos e helicópteros; em que há ladrões e assassinos a cada esquina; no qual robôs gigantes dividem espaço com pedestres e veículos; em que blindados atiram nos prédios; no qual há explosões, tiros e raios cruzando o ar o tempo todo e por aí vai.

O longa – bastante divertido e leve (não há sangue quase nenhum, apesar da pancadaria e tiroteios constantes) – lembra, em alguns pontos, A Origem (2010), de Christopher Nolan, e Jogador Nº 1 (2018), de Steven Spielberg, respectiva e concomitantemente, pelo fato de mostrarem um mundo com aparência real, mas cuja estrutura física pode ser alterada pela vontade humana (no caso, dos programadores), bem como pelo fascinante universo dos games, que possibilita uma porção de coisas visualmente belas, legais e até grandiosas.

E tome CGI de primeira qualidade em praticamente todas as tomadas do longa! Realmente não dá para saber o que se utilizou de cenários reais ou o que foi concebido sobre a tela verde do chroma-key.

E essa brincadeira entre o real e fictício se estende na participação de celebridades do mundo midiático televisivo e das redes sociais, em participações hilárias nas quais comentam notícias jornalísticas ou debates de Youtube, como Alex Trebek e Pokimane.

Também por isso, o roteiro não é lá aquelas grandes coisas. É bem estruturadinho, dividido em arcos bem nítidos e repleto de ação e humor, que não deixam a peteca cair em momento algum da projeção. Mas as qualidades do filme estão muito mais na forma com que o roteiro foi apresentado do que em termos de conteúdo. Isto é, há claras concessões e liberdades para que a história funcione minimamente, além de certos clichês clássicos de filmes que envolvem gênios da programação, os quais, todos – como o Clark Kent de Superman: O Filme (1978) na máquina de escrever – conseguem digitar numa velocidade absurda e sem errar!  Ainda assim, Levy demonstra domínio técnico (fotografia, cenografia, coreografia, planos sequências, tomadas em 360º, figurinos, direção de arte, montagem etc.), bem como de sua trama e de seus personagens, que realmente são carismáticos. A ingenuidade dos NPC’s, obviamente limitados à sua programação, torna-os tolamente simpáticos, como no caso de Buddy (Lil Rel Howery), que vive o segurança de banco e melhor amigo de Guy. Mas tem também a Senhora que perdeu o gatinho (Phyllss, vivida por Anabel Graetz); a moça da cafeteria (Missy, vivida por Britne Oldford); a “gostosona” (Soonamy Tech, vivida por Kayla Caulfield); o homem assaltado, que nunca abaixa os braços para facilitar sua vida de sempre ser roubado etc. e tal.

Foto: Divulgação

Todavia, por incrível que pareça, a linearidade desses personagens – presos a papeis sociais definidos e estanques – acaba por provocar certas reflexões de cunho existencial real na audiência. Nada que vá mudar a vida de ninguém, claro, mas há uma mensagem embutida de que é possível viver vidas repletas de significado e até de impacto na sociedade, desde que se faça o que se quer, não no sentido de se “fazer o que dá na telha”; mas no de se lutar por algo que faça sentido subjetivo; no de encontrar o seu lugar na vida. Por mais que haja ecos do ideário do “sonho americano” – de que com trabalho árduo é possível se “chegar lá” (mesmo que esse “lá” seja normalmente limitado ao sucesso financeiro) – Free Guy busca, em tom de fábula, defender nova visão acerca do conceito de liberdade, aliás, constante de seu título: ou seja, o verdadeiro sentido da vida está em batalhar por alguma coisa em que você acredite, mas que englobe as pessoas que você ama e a comunidade em que você vive. Assim, ao mesmo tempo que Guy luta para que todos os NPC’s adquiram autonomia igual à que ele conquistou – e, com isso, livrem-se da violência constante a que são submetidos – ele também luta pela sobrevivência de seu mundo e pela causa da mulher que ama. Nisso tudo, ele está se realizando enquanto ser vivo, mesmo que composto de “zero e um”. Claro que, no mundo real, não dá para vencer sempre e em tudo, de modo que Guy, conscientemente, terá que sacrificar algumas (ou muitas) coisas para ser bem-sucedido em sua jornada (assim como Millie e Keys).

Só de um típico “filme-pipoca” – em meios a tiros, efeitos especiais e muita comédia – conseguir levantar tais questões, já o torna digno de uma olhada.

Mas se você está à procura apenas de diversão, o filme também é uma ótima pedida.

Foto: Divulgação (Ryan Reynolds anabolizado!)

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Nota: 4 / 5 (ótimo)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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