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Críticas

QUERIDO MENINO | Crítica (tardia) do Neófito

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Alerta de SPOILER

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Vive-se, atualmente, uma epidemia não divulgada de suicídio de adolescentes pelo mundo afora.

Não à toa, estabeleceu-se, aqui no Brasil, após a criação global do dia 10 de setembro como o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, o “setembro amarelo”, como um período específico de prevenção mais ostensiva ao ato de se matar, numa iniciativa do  CVV – Centro de Valorização da Vida, do CFM – Conselho Federal de Medicina  e da ABP – Associação Brasileira de Psiquiatria.

Ocupando a 3ª causa de mortes entre jovens de 15 a 29 anos no país, contabilizam-se mais de 30 suicídios/dia ocorrem no Brasil.

O mhGAP (Mental Health Gap Action Programme), da Organização Mundial de Saúde (OMS), estabeleceu a triste relação entre o consumo de álcool e/ou substâncias psicoativas com o suicídio, chegando ao índice de 2 terços das pessoas que se mataram terem algum tipo de dependência dessas drogas.

Apesar da estatística de que até 90% dos casos de suicídio seriam passíveis de prevenção, o fato é que as causas que levam jovens a entrarem nessa ciranda de consumo de drogas e álcool e por conseguinte se matarem ainda se encontram envoltas em muita especulação e poucas certezas.

  Foto: Divulgação

Fala-se do “mal dos tempos”; culpa-se a informática, a correria, a busca desenfreada por resultados financeiros no seio da família, que estaria fazendo com que os pais – principalmente as mães – se distanciem cada vez mais do lar e, consequentemente, dos filhos; responsabiliza-se o hedonismo (o prazer como bem supremo da vida) e/ou o niilismo (ceticismo, falta de sentido) modernos, além da falta de religiosidade.

Seja qual for o motivo, o certo é que quem sofre com esses males de forma direta e concreta, sabe que nenhuma resposta é simples.

Um amigo meu, juiz togado de carreira, resolveu dedicar-se à publicação de vídeos de autoajuda na internet após uma estagiária de sua secretaria de juízo ter se suicidado sem que ninguém ali tivesse percebido qualquer sinal.

Um rapaz que conseguiu largar as drogas de forma heroica e solitária, confessou-me que não há, no mundo, prazer físico maior do que aquele proporcionado pela substância química em seu organismo, não havendo comida, passeio, sexo ou qualquer outra coisa que se compare à euforia que um “pico” é capaz de provocar.

Uma mãe, muito pobre, após o filho ter sido assassinado por dívidas com o tráfico da favela de sua região, confidenciou-me o quanto se sentia “aliviada” pela morte do filho e pela paz que isso havia trazido para a vida da família.

São casos variados, não atrelados à classe social, ao nível de estrutura educacional disponível e até mesmo, em alguns casos, à criação familiar ou ao amor encontrado em casa e nos pais.

Toda essa triste introdução é perfeitamente cabível para a análise do filme Querido Menino (Beautiful Boy), que retrata o drama real do jornalista David Sheff com seu filho dependente químico, Nic Sheff, baseado no premiado livro homônimo.

Foram anos de internação, recaídas, apoio, tentativas, até que, duas overdoses depois, Nic finalmente conseguiu se tratar de forma adequada, encontrando-se sóbrio até hoje.

A montanha russa de emoções a que a família se via submetida com a simples presença ou ausência de Nic Sheff é perfeitamente retratada no filme do diretor belga Felix Van Groeningen, o qual demonstrou uma sensibilidade incrível na condução de Steve Carell (esplêndido) no papel do pai angustiado; dos irretorquíveis garotos Jack Dylan Grazer (It: A Coisa / Shazam) e Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome), na pele do dependente em suas diferentes idades; bem como do elenco de apoio: Kaitlyn Dever (Professora Sem Classe) interpretando Lauren, a namorada também viciada de Nic; e Maura Tierney (The Affair), dando corpo a Karen Barbour, a compreensiva e dedicada madrasta da família Sheff.

Foto: Divulgação

A fotografia aberta, solar e aproveitando vários pontos turísticos de São Francisco é acertada para fugir dos estereótipos amarelados ou acinzentados na caracterização do vício. As belas cores das casas, da faculdade, dos bares e das ruas onde as tramas se desenvolvem querem indicar que o ambiente externo pode mascarar os problemas internos de pessoas e grupos familiares e, ao mesmo tempo, que ele é neutro – podendo ser um dos motivos, mas não “o” motivo determinante – com relação ao vício, o qual, de fato, é uma doença desenvolvida pelo organismo.

Não faltava amor – em seu sentido mais profundo: afeto, apoio, conversa, presença – na vida de Nic Sheff, nem condição financeira ou capacidade cognitiva (ele é aprovado em seis universidades). Mas, ainda assim, o vazio interior o levava a procurar consolo nas substâncias químicas, até chegar à metanfetamina.

Foto: Divulgação

Após anos de vai-e-vem emocional, de ciclos pequenos de recuperação alternados com recaídas violentas, David Sheff – que em determinado momento decide experimentar drogas para saber o que isso causava em seu filho – resolve, com visível dor e esforço, não mais apoiar Nic, até ele cair semi-morto em sua segunda overdose, no banheiro de um bar de São Francisco. Por sorte, a decisão se mostrou dolorosamente correta (ao contrário de inúmeras outras histórias similares), pois, a partir desse episódio, inicia-se verdadeiramente a recuperação de Nic Sheff.

Tudo isso mostrado através de interpretações irrepreensíveis de Carell, Grazer  e Chalamet, os quais transmitem várias camadas aos personagens reais, que nunca soam artificiais ou exageradas.

Aliás, Steve Carell, após seu careteiro início como artista humorístico, cada vez mais se destaca como um dos melhores e mais completos atores de sua geração, em momento algum lembrando papeis como A Volta do Todo Poderoso (2007). Sua composição sofrida, introspectiva e amorosa impressiona, trazendo lágrimas aos olhos de qualquer pai que realmente se interesse pela vida de seus filhos.

Foto: Divulgação

Por mais que se possa acusar o longa de retratar o ponto de vista do pai – que poderia estar sendo parcial quanto ao seu papel no drama, aumentando a dose de amor e compreensão que era ofertada ao filho – o minimalismo das interpretações e das situações retratadas em tela transmitem um grau de sinceridade genuína, capaz de sensibilizar o espectador e de fazer pensar.

Ao final do filme, Chalamet (ou seria o próprio Nic Sheff?) declama o forte poema Let It Enfold You (Deixe-me Envolver Você), de autoria do “marginal” (e genial) Charles Bukowski.

Um filme belíssimo e necessário para os dias atuais.

Foto: Divulgação

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Nota: 4 / 5 (ótimo)

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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