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Críticas

SEX EDUCATION S03 | Crítica do Neófito

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Creio ser absolutamente desnecessário reapresentar a série Sex Education, da Netflix.

A série idealizada por Laurie Nunn ganhou o mundo com sua temática atrativa (sexualidade), sua ambientação nostálgica (ambiente escolar / adolescência), e elenco afiadíssimo, encabeçado pelos protagonistas vividos por Asa Butterfield (Otis) e a estreante Emma Mackey (Maeve); Gillian “Scully” Anderson (Jean, a sexóloga e mãe de Otis); Ncuti Gatwa (Eric, gay e melhor amigo de Otis); Connor Swindells (o problemático Adam); Aimee Lou Wood (como a “avoada” Aimee), e praticamente todos os demais intérpretes, sempre muito bem em seus papeis, mesmo quando marcados por estereótipos.

Foto: Divulgação (a galera de hormônios efervescentes)

Nos dois primeiros anos, os roteiros foram felizes na abordagem cientificamente embasada e muito bem-humorada dos problemas sexuais juvenis e adultos (como aborto, homossexualidade e algumas patologias), e das soluções propostas, ainda que se considere a facilidade com que algumas situações eram resolvidas; paralelamente a isso, criou-se espaço para algum drama pessoal.

Após tantos e diversos casos acabaram sobrando poucos “problemas sexuais pessoais” para serem abordados nesse aguardado terceiro ano, de modo que os roteiristas optaram por focar em temáticas mais amplas e gerais (repressão / reacionarismo sexual) ou assuntos correlatos (bullying), que podem se apresentar de forma pessoal e/ou institucional. Para desenvolver esse último tópico (o bullying e a repressão sexual institucional), introduziu-se a personagem da nova diretora da fictícia escola secundária Moordale, a reacionária Hope (Jemima Kirke), que acaba sendo uma espécie de Dolores Umbridge sem magia, ou Damares Alves sem goiabeira (o que levanta a dúvida se todo diretor escolar britânico costuma ser sempre tão chato como esses que são mostrados na ficção). Apesar da dedicação de Kirke à sua personagem, é triste dizer que se tratou, talvez, da composição mais artificial e fraca destes 3 anos de programa. Hope (cujo nome, em inglês, é, ironicamente, “esperança”) é, basicamente, uma vilã bastante clichê e previsível. Nem ao menos seu drama pessoal de não conseguir engravidar – criado para humanizá-la – gera empatia no público. Quem acaba brilhando, nesse processo, é o antigo e defenestrado ex-diretor escolar e insensível pai de Adam, Mr. Groff (Alistair Petrie), cujo arco de sofrimento  e quase redenção são genuínos e bem desenvolvidos, uma vez que é mostrado que o personagem deve muito de seu temperamento ao fato de ter sido vítima de cruel bullying por parte do pai e do irmão mais novo, Peter (interpretado, na versão adulta, pelo competente Jason Isaacs).

Foto: Divulgação (o conflito entre a terapeuta sexual e a reacionária)

Nem por isso, porém, a série deixa de trabalhar alguns temas mais específicos, como, por exemplo, a questão da identidade de gênero, algo muito atual e relevante para a galera mais jovem, mas – talvez mais ainda – muito instrutivo para as “gerações X e Y”, que não imaginavam poder existir pessoas que verdadeiramente não se identificam com sua constituição genésica (ou sexo biológico), com consequente direito de viverem de forma socialmente equitativa. A abordagem sensível, e agradavelmente leve, dá-se em torno da personagem Cal (Dua Saleh) e sua relação com Jackson (Kedar Williams-Stirling).

Foto: Divulgação (à direita, a não binária Cal)

Adam e Eric – agora namorados quase explícitos – também passam por maus bocados, cada um descobrindo mais elementos a respeito de si mesmos; e é tocante a dura trajetória do ex-machão Adam na aceitação de sua homossexualidade e, principalmente, das suas emoções, esforço indispensável para seu crescimento como pessoa. Eric, por sua vez, está desabrochando. Seu arco serve para tocar no delicado assunto da grave homofobia estrutural existente na Nigéria, reflexo do preconceito que ainda vige em boa parte do mundo (para não dizer quase totalidade).

Jean – esplendidamente interpretada por Gillian Anderson – está prestes a ganhar neném e precisa lidar com seus confusos sentimentos com relação a Jakob (Mikael Persbrandt).

E, assim, todos os coadjuvantes de maior relevância para a trama ganham espaço para algum desenvolvimento.

Foto: Divulgação (quem disse que relacionamentos são fáceis?)

No tocante aos personagens principais, é interessante notar que Otis acaba tendo menos presença em tela que nos anos anteriores, dividindo os holofotes com os demais personagens secundários. Isso se dá de forma natural e orgânica, uma vez que, logo nos primeiros episódios, o famoso banheiro, no qual Otis oferecia seus aconselhamentos sexuais, é destruído, eliminando uma importante referência dos anos anteriores, fugindo do lugar comum da repetição da fórmula e forçando a evolução dos personagens. Desse modo, as intervenções de Otis na vida afetivo-sexual dos demais – que ainda estão presentes – vão ocorrer de maneira incidental e casual, o que reforça a genuína vocação do personagem para o aconselhamento. Seu arco, porém, expande-se. Ele não é mais o garoto virgem e, inclusive, inicia inesperado namoro com a bela, cruel e fútil Ruby (Mimi Keene, surpreendente), que também mostra outras facetas, chegando a criar simpatia na audiência.

Foto: Divulgação (pode-se afirmar que Otis “tirou o atraso”)

Por fim, chegamos a Maeve, cujo arco vai, invariavelmente, convergir para o de Otis, por quem, desde a primeira temporada, sabemos que ela nutre fortes sentimentos amorosos, repletos de desencontros, e sem desconfiar que a recíproca é verdadeira. Nesse sentido, a série é inteligente em não arrastar, até o último episódio, o drama iniciado no final da temporada anterior, no qual o também apaixonado e ciumento Isaac (George Robinson) – cujo atual arco a abordar a sexualidade de pessoas com deficiência é sensível e elegante – apaga a mensagem de declaração de Otis para Maeve. O é desatado o mais rapidamente possível. Também não há muita enrolação para que o esperado casal finalmente consiga se abrir um para o outro, como ocorre no delicioso 5º episódio. Por fim, os cabelos bem negros de Emma Mackey consegue, finalmente, desvinculá-la de ser a imagem e semelhança de Margot Robie.

Foto: Divulgação (uma das cenas mais bonitas e inclusivas da série)

Aliás, é importante notar que este terceiro ano caminha, num crescendo, do 1º a este 5º capítulo (na maioria dirigidos por Ben Taylor), caindo um pouco (ou sensivelmente) de ritmo a partir do episódio subsequente (cuja direção é assumida, até o final, por Runyararo Mapfumo). O foco no típico dramalhão surge com mais força, fazendo com que a série perca algo de sua força. O oitavo e climático último episódio volta a ser muito bom, mas mais em razão de ser o epílogo da temporada do que pela condução da claquete. Mapfumo demonstra mais intimidade com o drama do que para a comédia, de modo que o arco de Adam, por exemplo, é muito bem trabalhado. Já o parto de Jean – com bastante apelo para o humor – oscila visivelmente.

Ainda assim, Sex Education continua irresistível, divertida e instrutiva, tocando em temas atuais, sempre na busca de se manter relevante. A quarta temporada – já confirmada, mas sem previsão de filmagem ou estreia – deve ser a última, afinal, a turma do colégio Moordale vai toda para a faculdade ou trabalhar, não tendo mais sentido manter os dramas adolescentes (lembrando que muitos dos atores que vivem os jovens, já beiram os trinta anos!).

Até lá, vai ser muito prazeroso acompanhar as desventuras desses cativantes personagens.

Foto: Divulgação (Otis e Maeve: uma relação ainda obscurecida)

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Nota: 4 / 5 (ótimo)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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