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Críticas

O CULPADO | Crítica do Neófito

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O cenário é o mais simples possível: a estação de call center do famoso “9-1-1” da polícia norte-americana, especificamente o do Departamento de Polícia da cidade de Los Angeles (LAPD), com algumas tomadas no banheiro da instituição.

Tudo se passa perto das duas horas da madrugada, quase no fim do turno dos atendentes da noite.

Do lado de fora, por meio de telas de televisão, a Cidade dos Anjos sofre com incêndios florestais devastadores.

O protagonista é o claramente estressado policial Joe Baylor (Jake Gyllenhaal, estupendo), sofrendo ataques de asma constantes, provavelmente agravados pelo ar tóxico decorrente das queimadas que arrasam os arredores da cidade. Não demora muito para que percebamos que algo de muito errado está acontecendo na vida de Joe. Uma persistente repórter fica telefonando, para que ele “dê sua versão dos fatos”. O amigo policial Sargento Bill Miller (voz de Ethan Hawke, ótimo), entre outros, também por telefone, sempre diz que, após a “audiência” marcada para o dia seguinte, será possível para Joe voltar a trabalhar nas ruas, o que indica que ele possivelmente era detetive ou patrulheiro, obrigado a trabalhar atendendo telefones como forma de blindagem.

Foto: Divulgação (a tensão absoluta apenas em razão de um fone de ouvido…)

O trabalho é monótono, irritante, exigindo paciência hercúlea para escutar drogados em crise delirante; yuppies sendo assaltados por prostitutas pouco confiáveis; pessoas sendo afetadas pelos incêndios…

Tudo permaneceria de forma entediante, até Joe atender à chamada cifrada da evidentemente abalada Emily (Riley Keough, excelente) que, de forma simulada, revela estar sendo sequestrada pelo ex-marido Henry (Peter Sarsgaard, show), deixando os dois filhos menores – uma menina de seis anos e um bebê – sozinhos em casa.

Daí para frente, segue-se o tenso segundo ato do filme, com atuação irretocável de Gyllenhaal, com direito a reviravolta surpreendente antes do ato final.

O diretor Antoine Fuqua O Protetor (1 e 2), Sete Homens de um Destino (2016), Dia de Treinamento (2001) etc. ­– em ótima forma, consegue, por meio de closes cada vez mais próximos ao rosto do personagem principal, passar toda a sensação de impotência e claustrofobia que aquela situação caótica, de tentar ajudar alguém à distância, poderia proporcionar. Do lado de cá da tela, a gente fica tão angustiado quanto o frustrado policial, sem poder fazer muito mais apenas a partir do monitor do computador e do fone de ouvido.

Foto: Divulgação (as “vozes” Riley Keough, Peter Sarsgaard e Ethan Hawke; mais o diretor, Antoine Fuqua)

Não é o primeiro filme que trabalha a dinâmica de uma pessoa se ver subitamente impotente diante de situação-limite imposta por meio de um telefonema (Chamada de Emergência, 2013; e Por Um Fio, 2002, são dois bons exemplos). Mas o que se destaca em O Culpado é a forma como isso é mostrado, além do roteiro muito bem escrito e inteligente, pautado em situação muito real e concreta. O drama que se desenrola é totalmente plausível e é isso que mais causa desconforto e aflição no espectador, pois, o fato transcorrido poderia estar acontecendo de fato, seja lá em Los Angeles, como em Pindamonhangaba. E, talvez, isso ocorra justamente em razão deste roteiro não ser original de Hollywood, mas adaptado do texto original do filme dinamarquês de 2018, Den Skyldige (literalmente, “Culpa”), dirigido e escrito por Emil Nygaard Albertsen e Gustav Möller.

Foto: Divulgação (o irretocável filme original, ainda mais realista e seco)

Sendo curtinho, a ação de O Culpado se passa quase em tempo real, mas isso não impede que, para além da trama policialesca, haja espaço para o competente trabalho de desenvolvimento de personagem. A angústia de Joe é bem mais profunda: a ânsia de salvar Emily reflete sua intensa necessidade de redenção; a “asma” que o atormenta não é física; o que o sufoca não é a fumaça que está fora, mas a que sai do fogo da alma torturada pela culpa, que queima e destrói tudo dentro, por isso as bombinhas parecer ser insuficientes. A metáfora é meio óbvia, mas feita de forma inteligente e verossímil.

O filme é praticamente perfeito, a não ser por dois detalhes hollywoodianos, que quase o conseguem macular. Afinal, o herói norte-americano precisa compor certos estereótipos, daí o roteiro ianque ter que mostrar Joe sofrendo problemas em família, aparentemente afastado da filha pequena, cuja foto na tela do celular é acariciada a cada quinze minutos de projeção; e o final mais “ameno” e “feliz”, enquanto o original dinamarquês é bem mais seco, porém muito mais coerente.

São falhas pequenas, que incomodam, mas não desvirtuam totalmente os méritos e vários acertos da versão produzida pela gigante Netflix.

Desse modo, com excelentes atuações – inclusive as que se revelam apenas pela voz no telefone – O Culpado é uma pequena grande pérola do catálogo da plataforma de streaming, valendo muito ser assistido por quem gosta de boas e curtas histórias, muito humanas e realistas.

Tem muito cheiro de Oscar, em Gyllenhaal?

Foto: Divulgação (encarando seu principal inimigo)

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Nota: 4,5 / 5 (excelente)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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