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Críticas

VENOM: TEMPO DE CARNIFICINA | Crítica do Neófito

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A década de 1990 não foi boa para os quadrinhos em termos de qualidade. Que ela tenha contribuído para o surgimento de novas possibilidades ilustrativas – em termos de desenho e de recursos tecnológicos para arte-final e coloração – não dá para questionar. Mas quando se olha para a produção da época, a média não e das melhores.

Aliás, cabendo mais um comentário prévio, a década de 1990 foi marcada pela estratégia das editoras e distribuidoras de fechar lotes de HQs de forma prévia, o que exigia que muitas revistas fossem produzidas – preferencialmente em sagas ramificadas por diversos títulos – com o intuito de obrigar a compra antecipada das edições pelas distribuidoras. Daí a profusão de sagas – tanto na Marvel quanto na DC (que disputavam mercado palmo-a-palmo) – de grande duração e cuja qualidade de roteiro era, na quase totalidade, medíocre.

O que se destacavam eram os desenhos, já que as histórias eram mais ou menos. Graças a isso, nomes como Jim Lee, Marc Silvestri, Todd McFarlane, Erik Larsen, Joe Madureira e (argh!) Rob Liefeld foram catapultados ao estrelato, graças ao estilo de desenho mais ousado e diferente do que até então era feito, tanto em termos de paginação, quanto de ângulo de câmera, poses, detalhamentos e efeitos. A extrema objetificação do corpo feminino também foi característico da época, bastando lembrar a fase em que a Mulher Invisível do Quarteto Fantástico passou a usar uma roupa que mais se parecia com o atual contestado uniforme das jogadoras de vôlei de praia. Essa estética – questionável, mas bem-sucedida – permitiu aos novos astros do lápis a saírem das grandes DC e Marvel para fundarem a Image Comics. Todo esse processo colapsou a Marvel, fazendo com que abrisse falência e vendesse os direitos de seus personagens para vários estúdios cinematográficos, o que originou uma série de produções absolutamente execráveis (Capitão América: O Filme, 1990,  de Albert Pyun; Quarteto Fantástico, 1994, de Roger Corman; Nick Fury: Agente da Shield, 1998, de Rod Hardy), mas, futuramente, duas franquias de grande sucesso: Homem-Aranha, pela Sony; e X-Men pela Fox.

Foi também nesse tumultuado período que surgiu, no universo do Homem-Aranha, o personagem Carnificina – espécie de subproduto mais violento e indestrutível do Venom (na verdade seu “filho”) – diretamente da imaginação e traço de David Michelinie, Erik Larsen e Mark Bagley, no ano de 1991-1992.

Os confrontos dele com o Homem-Aranha nunca foram tão memoráveis quanto os que o Teioso teve com o simbionte original (em especial, na fase desenhada por Todd McFarlane), apenas com danos colaterais mais sangrentos, afinal, o Carnificina havia se simbiotizado ao já psicopata Cletus Kassady quando, por um tempo, ele dividiu sua cela de prisão com Eddie Brock, o hospedeiro preferencial de Venom. Aparentemente tendo morrido algumas vezes – especialmente na vez em que o Sentinela literalmente o rasgou – o simbionte vermelho e cheio de extensões gosmentas sempre voltava para atormentar a vida do Amigão da Vizinhança.

Após o infelizmente equivocado filme Homem-Aranha 3 (2007), cujo um dos vilões era justamente Venom – interpretado pelo dedicado Topher Grace, em versão mais próxima a dos quadrinhos – a Sony buscou formas de realizar um longa solo do simbionte (como ocorria nos quadrinhos), o que só se tornou realidade onze anos depois, na produção homônima de 2018 – Venom – estrelada e produzida por Tom Hardy, segundo ele, para agradar ao filho, fã absoluto do personagem. Deve-se lembrar, ainda, que o simbionte alienígena integra o universo do Homem-Aranha que, nesse meio-tempo – após frustrada tentativa de restart com a franquia Espetacular Homem-Aranha, de 2012 –  passou, mediante acordo entre as gigantes Sony e Disney (dona dos Estúdios Marvel), a ser compartilhado entre os dois estúdios, já havendo participado do filme Capitão América: Guerra Civil (2016) e estrelado Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017)

O filme Venom – realmente fraco – foi fortemente detonado pela crítica, mas agradou ao público (e os bolsos dos executivos da Sony). Na cena pós-créditos, aliás, seguindo a estratégica do MCU, aparecia, preso, o personagem Cletus Kassady (interpretado por Woody Harrelson), no prenúncio de que, em caso de sequência, o sanguinário vilão estaria presente.

E eis que, três anos e uma pandemia (ainda não acabada) depois, estreia, nos cinemas, o filme Venom: Tempo de Carnificina, dirigido por Andy Serkis, e novamente estreado por Tom Hardy (Eddie Brock / Venom) e Michelle Williams (Anne Weying), mais os acréscimos de Woody Harrelson (Cletus Kassady / Carnificina) e Naomie Harris (como Shriek, mutante sonora, namorada de Kassady).

Serkis conhece como ninguém o universo dos filmes de fantasia, ação e de super-heróis (ele é a alma de Gollum, do King-Kong de 2005, do Cesar da atual franquia Planeta dos Macacos; e o Garra Sônica nos filmes Vingadores: Era de Ultron e Pantera Negra), por isso, não perde tempo com enrolação, encurtando ao máximo as indispensáveis introduções de personagens para o público não iniciado. Não demora para vermos Venom em ação – ainda que apenas para se alimentar de cérebros de galinhas! – e o Carnificina fazendo estragos, até o confronto final entre as duas criaturas.

Foto: Divulgação (Meu Precioso…)

Serkis – talvez pela sua experiência visceral com os filmes da Marvel – claramente tenta afastar o longa da estética mais sombria do filme de 2018, para o aproximar do estilo MCU, ou seja, com violência de sugerida a moderada – tanto que o trailer parece mais violento do que o filme em si – e muitas gags – visuais e textuais – humorísticas, amenizando o fato de que estamos lidando com um alienígena parasita que consome corpos e precisa comer cérebros para ter os nutrientes necessários para permanecer vivo. A interação do simbionte com seu hospedeiro é sempre engraçadinha e até mesmo absurdamente terna, subvertendo muito do que foi desenvolvido no primeiro filme e da própria essência do personagem. Venom é temperamental, carente, amoroso e submisso.

E os “méritos” terminam por aí. A fotografia é sempre escura e clichê até não poder mais: as tomadas do Orfanato St. Estes, no qual Kassady e Shriek passaram grande parte de suas vidas parece saído das produções “B” de terror, sem qualquer sutileza. Os empregados do instituto em que Shriek é internada posteriormente também são de linearidade irritante: médica sádica, enfermeiros medrosos ou maldosos etc.

Foto: Divulgação

A paleta preferencialmente noturna ajuda na composição dos sofríveis efeitos especiais (para os dias de hoje), cujas falhas estão no mesmo nível das que se eram possíveis observar no primeiro Homem-Aranha, no distante ano de 2002. Outra coisa usada para economizar nos efeitos é o estilo de direção – principalmente nas cenas de ação – com muitos cortes e demasiadamente acelerado. Difícil ver o que está acontecendo de fato.

No tocante às performances, Tom Hardy atua no modo automático, passando a impressão de tédio monumental (afinal, grande parte do tempo, o ator interage apenas com sua imaginação e o local vazio onde, na ilha de edição, o Venom 100% digital seria introduzido). A sempre bela Michelle Williams garantiu uns trocados para o aluguel, assim como o careteiro Woody Harrelson (se divertindo) e Naomie Harris (esforçada), pouco fazem diante de seus indiscutíveis talentos. Stephen Graham  até tenta conferir alguma camada ao seu Detetive Mulligan, mas, assim como é impossível extrair caldo de laranja empedrada, não dá para fazer muita coisa com o roteiro raso, preguiçoso e maniqueísta que Venom: Tempo de Carnificina propõe. A preguiça é tanta que a grande amada de Kassady é “coincidentemente” dotada do poder mutante de emitir gritos sônicos, sendo o som a kryptonita dos simbiontes!

A única vantagem é que o filme é rápido (97 minutos), acabando antes de conseguir entediar o espectador. Enquanto passa, é diversão boba, mas falha em vários quesitos: não faz rir direito; não gera medo; não assusta de fato; é previsível; desconstrói boa parte do que foi construído no primeiro filme.

Apenas nas cenas pós-créditos, porém, fica clara a estratégia de amenizar ou domesticar Venom. Quem quiser saber o porquê, leia a parte abaixo, com spoilers!

Foi anunciada uma participação de Venom no filme Morbius, outro personagem – bastante sombrio – do universo do Homem-Aranha, cujos direitos ainda pertencem à Sony. Se tudo for na mesma direção de Venom: Tempo de Carnificina, pode-se esperar um vampiro bem mais próximo do Drácula de Hotel Transilvânia do que o de Bram Stoker!

Foto: Divulgação (discussão familiar)

 

ALERTA DE SPOILER

Na cena pós-crédito, Eddie Brock e Venom, foragidos da polícia norte-americana, são enviados ao MCU, provavelmente graças ao feitiço realizado e malsucedido do Dr. Estranho em Homem-Aranha: Sem Volta pra Casa, conforme mostrado no trailer já divulgado. A cena – em que se transmite reportagem televisiva comandada pelo J. J. Jamenson de J. K. Simons mostrado em Homem-Aranha: Longe de Casa (2019), revelando a identidade do Amigão da Vizinhança – é interessante e bem ao estilo das produções da Marvel, isto é, bem-humorada, breve e instigante.

Isso abre um gigantesco leque de oportunidades, para os dois estúdios, que podem trocar personagens, como o Homem-Aranha de Tom Holland passando para a Sony, enquanto o MCU, por exemplo, introduz Miles Morales. Outra coisa é que isso, de fato, reforça a especulação e esperança do Aranhaverso em live-action, com real chance de que os Homens-Aranha de Tobey Maguire e Andrew Garfield apareçam em Sem Volta pra Casa.

Do mesmo modo, a lógica dos multiversos permite, de maneira não forçada, que os demais personagens da Marvel não inseridos no MCU apareçam a qualquer tempo. Ou seja, Quarteto Fantástico, X-Men, Namor e Deadpool não demorarão a dar as caras!!!!

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Nota: 2,5 / 5 (regular)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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