Connect with us

Críticas

CASA GUCCI – Mas que parece novela da Globo, parece! | Crítica do Neófito

Publicado

em

Se há, atualmente, um nome no showbiss mundial que encerre em si o significado da palavra Artista, esse nome é, sem dúvida, Lady Gaga: exímia pianista, cantora fabulosa, compositora talentosa, performática e, mais recentemente, excelente atriz!

Antecipando-se às tendências, essa novaiorquina de 35 anos demonstrou enorme visão artística, chocando a opinião pública de forma estratégica (vestido de carne crua, yoga nua etc.) ou calando a boca dos desavisados com seu vozeirão potente e afinado (vide sua dobradinha com o grande Tony Bennett).

Logo na sua primeira incursão no cinema, na terceira versão de Nasce Uma Estrela (sua estreia como atriz se deu na série American Horror Story, em 2011), Gaga concorreu ao Oscar de melhor atriz e de melhor canção original, sagrando-se vencedora nesta última categoria.

Sem dúvidas, ela nasceu uma estrela!

E, a partir dessa carreira de enorme sucesso, as expectativas foram lá em cima, quando foi anunciado que ela viveria, sob a batuta de ninguém menos do que Ridley “Blade Runner” Scott, a personagem real Patrizia Regianni, esposa do último membro da família Gucci a controlar os negócios da famosa marca, antes da abertura de seu capital, o playboy Maurizio Gucci, assassinado, a mando dela, na porta de seu escritório em Milão, em março de 1995 (e isso não é spoiler, porque o caso é amplamente conhecido, maciçamente divulgado e de domínio público!).

Para interpretar a vítima do homicídio, foi escalado Adam “Kylo Ren” Driver e, como coadjuvantes de luxo, Al Pacino (Aldo Gucci), Jeremy Irons (Rodolfo Gucci), Jared Leto (irreconhecível como Paolo Gucci), Salma Hayek (Guiseppina Auriemma) e Jack Huston (Domenico De Sole).

Com locações reais, orçamento generoso, roteiro baseado no famoso livro homônimo de autoria de Sara Gay Forden – a partir de instigante história real – e o plantel de astros acima mencionado, era de se esperar que o filme fosse estrondoso sucesso, além de praticamente uma obra de arte, correto?

Bom, não foi bem assim.

Não que o filme seja ruim. Suas enormes duas horas e meia de duração passam com relativa suavidade, sem exigir maior esforço do espectador, haja vista a habilidade do cineasta em contar histórias, a entrega dos ótimos atores e o fato de a trama ser realmente envolvente.

Todavia, também, está longe de ser perfeito ou a obra-prima que se poderia esperar.

Para início de conversa, Ridley Scott, numa história que se passa em sua maior parte na Itália, com personagens italianos, opta por botar os atores (todos de língua inglesa) para falarem em inglês com sotaque italiano!

Soa muito estranho – e um tanto falso – o resultado final, que imediatamente remete a memória para as novelas da Rede Globo envolvendo personagens italianos, como Rei do Gado e Terra Nostra.

Isso confere ao filme um tom caricatural, o que é reforçado pela caracterização dos personagens, muito embasada no estereótipo do italiano. A presença de Al Pacino, inclusive, em sequências que envolvem tensas conversas sobre os “negócios da família”, cenas de aniversário do patriarca e tramas policialescas (ainda que referentes à evasão fiscal), e o ambiente ‘italianizado’, faz com que imediatamente se recorde de O Poderoso Chefão.

Foto: Divulgação (reunião da “famiglia”! O que o Dom Corleone está fazendo aí?)

Ridley Scott é conhecido por obras grandiosas e normalmente recheadas de efeitos especiais, sempre com muito estilo. Suas aventuras em tramas mais intimistas foram, em contrapartida, bastante irregulares, destacando-se o ótimo Thelma e Louise (1991), o bom O Gangster (2007), o fraquinho Um Bom Ano (2006), entre outros longas esquecíveis. Desse modo, ao ver Casa Gucci, acaba-se tendo a impressão de que o cineasta se sentiu inseguro ou desconfortável com a temática mais real e humanista da trama, bem como com o decurso da história, optando, assim, pelo cartunesco e referenciação, tais como a similaridade com os premiados filmes de Francis Ford Coppola e ao remeter a composição do personagem de Lady Gaga às clássicas divas italianas, Sofia Loren e, principalmente, Gina Lollobrigida.

No entanto, enquanto Scott manteve sua câmera em Lady Gaga, nos dois primeiros arcos, o filme brilha, escorando-se no magnetismo da artista. Até a metade do longa, Adam Driver é claramente ofuscado, ganhando, aos poucos, projeção e corpo, até se mostrar por inteiro no terço final da produção. Para isso, porém, a história precisa dar uma guinada, afastando-se do clima solar e romanesco para ganhar cores mais pesadas. Nesse sentido, para um filme relativamente grande, a transição da relação de amor do casal principal para a de ódio ocorre de forma meio abrupta. O desgaste do casamento é mostrado em poucas sequências, como se um único evento tivesse destruído tudo de uma vez.

No terceiro arco, opta-se para omitir a presença de Lady Gaga da tela, numa metáfora do que de fato ocorreu com a até então socialite Patrizia Regianni, de uma hora para outra relegada da nata da high society, das discussões sobre o futuro da marca e de circular pelos círculos da alta costura mundial para o obscurantismo de viver à custa da ‘esmolar’ pensão do marido, que, também, mesmo com o sucesso da modernização da Gucci, via-se cada vez mais isolado e forçado a ceder às pressões do mercado para abrir mão do controle doméstico de sua famosa empresa.

A revolta e descontrole emocional de Patrizia pelo abandono e pelo que ela interpretava como injustiça e ingratidão por sua contribuição para a imagem da Gucci – e talvez por um amor doentio por Maurizio, algo que o filme não deixa muito claro – não ganha o aprofundamento devido, apesar dos esforços de Lady Gaga para conferir densidade e camadas à sua personagem. Claramente, Ridley Scott filmou tudo com opinião formada em sua mente, de que Patrizia Regianni era culpada, não apenas do mando do assassinato, mas, também, por ser fútil, vaidosa e gananciosa, apesar de, na metade inicial do filme, tê-la pintado como mulher sonhadora, apaixonada e ambiciosa.

Foto: Divulgação (a realidade e a ficção se parecem)

A verdadeira Patrizia continua negando todas as acusações pelas quais cumpriu 16 anos de prisão, paradoxalmente ainda vivendo da herança de seu assassinado marido, com certo luxo, e permitindo-se reclamar de que Lady Gaga não teve a dignidade de procurá-la antes de começar a filmar. Sem dúvida, trata-se de uma personagem complexa e trágica, que o filme preferiu retratar, em grande medida, de forma caricatural, bem como outros personagens, em especial, Paolo Gucci, responsável por vários momentos de humor, pela brilhante composição

Com belíssima fotografia, direção de arte, figurinos e reconstrução de época, Casa Gucci é, apesar das críticas, bonito de se ver e bem filmado, com atores entregues e comprometidos com a proposta do cineasta, mostrando-se boa opção para sair de casa para encarar uma sessão de cinema.

Mas, ao contrário das famosas bolsas Gucci, ou de um bom filme italiano dirigido por Fellini, a impressão de que o filme está mais para uma imitação permanece ao fim da projeção.

Foto: Divulgação (o amor e o ódio são as duas faces da mesma moeda…)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________

Nota: 3,5 / 5 (muito bom)


SIGA-NOS nas redes sociais:

FACEBOOK: facebook.com/nerdtripoficial

TWITTER: https://twitter.com/Nerdtrip1

INSTAGRAM: https://www.instagram.com/nerdtripoficial/

VISITE NOSSO SITE: www.nerdtrip.com.br

TIK TOK: https://www.tiktok.com/@nerdtripoficial?lang=pt-BR


Leia mais:

VALE A PENA A MARATONA? | 5 Motivos para assistir Arcane na Netflix

ROUND 6 | Homem é condenado por contrabandear série na Coreia do Norte

SWORD ART ONLINE | Assista aos primeiros minutos do novo filme

MISSÃO RESGATE – Que fria! | Crítica do Neófito

Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

Comente aqui!

Mais lidos da semana