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Críticas

MISSÃO RESGATE – Que fria! | Crítica do Neófito

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O ator irlandês Liam Neeson, após décadas de pontas e papeis secundários (inclusive como protagonista do cult Darkman, de 1990), despontou como ator de primeira linha de Hollywood em 1993, aos 41 anos de idade, ao interpretar – com bastante açúcar spielberguiano – o herói da Segunda Guerra, responsável por salvar a vida de aproximadamente 1.200 judeus dos fornos do holocausto, o empresário alemão Oskar Schindler, no belíssimo A Lista de Schindler. Daí pra frente, foram diversos personagens protagonistas ou co-protagonistas em filmes dos grandes estúdios.

O vozeirão poderoso, o ar aristocrático e a imponência de seus 1,93m de altura acabaram por colocá-lo, com bastante frequência, no papel de líder, mentor ou conselheiro, como em Rob Roy (1995), Michael Colins (1996), Star Wars Episódio 1: A Ameaça Fantasma (1999), Gangues de Nova York (2002), Batman Begins (2005), As Crônicas de Nárnia: O leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa (2005), Fúria de Titãs (2010), Sete Minutos Depois da Meia-Noite (2017), entre outros.

Mas foi no auge de seus 56 anos que o “cidadão honorário de Ballymena”, sua cidade natal, reinventou-se para, mesmo numa idade “inadequada”, tornar-se o típico herói de filmes de ação, começando pelo protagonismo na surpreendente ‘trilogia pipoca’, Busca Implacável (Taken) – produzida por Luc Besson em 2008, 2012 e 2015 – na qual deu vida ao ex-agente da CIA, Bryan Mills, capaz de matar meia centena de capangas – muitas vezes só com as mãos! – para salvar sua filha e ex-mulher.

O público achou convincente a atuação física do sessentão Liam Neeson, colocando-o no mesmo patamar de Tom “Missão Impossível” Cruise (59 anos), Daniel “James Bond” Craig (53 anos), e outros coroas bons de briga por aí.

Nessa linha, Neeson deu vida ao amnésico personagem de Desconhecido (2011); ao destemido caçador John Ottway, de A Perseguição (2011); ao habilidoso agente Bill, em Sem Escalas (2014); ao implacável pistoleiro Jimmy Conlon, em Noites Sem Fim (2015); ao líder de gangue de assaltantes Rawlins, em As Viúvas (2018); ao pai vingativo Nels, de Vingança a Sangue Frio (2019); ao ‘bom ladrão’ Tom Carter, de Legado Explosivo (2020) e ao fazendeiro durão Jim Hanson, de Na Mira do Perigo (2021).

Entremeando a carreira com um draminha aqui e outro ali, o fato é que Neeson se firmou como ator ideal para dar vida ao arquétipo do “homem durão” e inquebrantável, mas de enorme coração e disposição para o sacrifício pessoal pelo bem-estar dos que ama.

Em seu mais novo papel – o caminhoneiro especialista em estradas de gelo, Mike, na produção Missão Resgate (2021), dirigida por Jonathan HensleighLiam Neeson repete mais uma vez o mesmo tipo: homem de poucas palavras e muita ação; bom de briga e determinado; ao mesmo tempo amoroso e calculista.

Foto: Divulgação (nada a preocupar: são só dois caminhões de 70 toneladas virados sobre uma estrada de gelo fina!)

Aliás, não é só o ator que repete, com pequenas alterações, o personagem que vem interpretando pelo menos nos últimos 13 anos. O roteiro de Missão Resgate (The Ice Road, em inglês), supostamente inspirado no livro O Salário do Medo, é uma verdadeira colcha de retalhos de outras inúmeras produções de filmes de ação a filmes catástrofes, apresentando praticamente nada de novo.

A premissa ecoa Os 33 (2015), romantização do fantástico resgate real dos mineiros chilenos que ficaram presos a quase 700m de profundidade na Mina de Cobre de San José, no ano de 2010. Só que, no filme em análise, são 26 trabalhadores de uma mina de diamantes situada no Canadá que ficam presos, com apenas 30 horas de oxigênio disponível.

Foto: Divulgação (cadê as duas mãos no volante??)

Incrível que, numa empresa de escavação do tamanho da que é mostrada, repleta de gás metano, não haja equipamento adequado para o caso de um acidente daquele tipo, tendo que ser trazido de quase 500 km de distância, de caminhão, e por sobre as estradas de gelo do lago Winnipeg / norte do Canadá, justo no fim do inverno, quando tais estradas ficam mais frágeis e em processo de derretimento. Muito convenientemente, ninguém conseguiu um helicóptero para fazer o transporte do equipamento, que demoraria, ao invés das 30 horas por chão, pouco mais de 1 hora! A logística é tão ilógica que foram mobilizados 3 caminhões com o mesmo material, por garantia, caso um ou dois afundassem no lago gelado.

Lógico que, também, não bastavam os perigos naturais da viagem – pouco tempo, condições adversas, estradas de gelo em degelo etc. – ainda era preciso incluir um vilão disposto a não apenas deixar os 26 operários morrerem, mas a matar os caminhoneiros, formados, além de Mike (Liam Neeson), pelo irmão sequelado de guerra do protagonista, Gurty (Marcus Thomas); a indígena Tantoo (Amber Midthunder); e Jim Goldenrod (Laurence Fishburne), tudo em nome do capitalismo selvagem.

Foto: Divulgação (alguém trouxe roupa de banho?)

E tome clichê de filmes de ação: logo no início do segundo ato, morre um personagem importante, para criar a sensação na plateia de que ninguém estaria a salvo (vide Momento Crítico, de 1996); perseguições de caminhão não muito superiores às mostradas em Estrada Alucinante, filme estrelado por Patrick Swayze, no distante ano de 1998; reviravoltas previsíveis; minutos que duram horas e horas que duram minutos em tela, jogando a verossimilhança para o espaço. Os caminhoneiros são todos experts e incrivelmente hábeis na condução de seus veículos, podendo integrar a família de Dom Toretto de Velozes e Furiosos, caso consigam sobreviver, claro (aliás, dá para prever antecipadamente quem vai viver ou quem vai morrer, com pouco esforço). Mas, mesmo sendo tão experientes, os motoristas comentem erros tão básicos que chegam a irritar! Há, ainda, a subtrama (totalmente descartável) passada dentro da mina, em que se sugere a possibilidade de sortear alguns para morrer, com o objetivo de sobrar mais oxigênio para os demais. Tudo isso com o relógio correndo solto. Algumas sequências soam bastante artificiais, por não esconderem a clara realização por dublês, o que tira mais ainda qualquer sombra de realismo. As cenas de briga são confusas e repleta de cortes bruscos, quase sem sangue, apesar de inúmeros socos distribuídos no rosto dos oponentes. Trilha sonora genérica, que dá a impressão de já ter sido utilizada em um sem número de produções similares.

Em termos positivos, pode-se citar belíssima fotografia em planos abertos, que capta toda a inóspita paisagem gelada do norte canadense. O vilão (cujo ator não vou revelar, para não dar spoiler), apesar de estereotipado e sem motivação muito clara, é realmente sádico, irritante e vilanesco, fazendo com que torçamos por sua derrota.

Na beirada de completar 70 anos de idade, Neeson ainda consegue convencer como herói físico de ação com a vantagem de saber interpretar. Os demais atores fazem o café com pão, principalmente Fishburne, ganhando uns trocados para pagar o aluguel.

Filme curto (outro aspecto positivo!), com objetivo claro de entreter, Missão Resgate é apenas mediano, mas pode agradar quem quer alguma diversão escapista (típica dos filmes da Sessão da Tarde) ou é muito fã de Liam Neeson, e de um bom copo de gelo!

Foto: Divulgação (“todo dia quando pego a estrada, quase sempre é madrugada e o meu amor aumenta mais…”)

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Nota: 2,5 / 5 (regular)

Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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