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Críticas

TURMA DA MÔNICA: LIÇÕES – Crescer é maravilhosamente doloroso! | Crítica do Neófito

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Das três graphic novels de livre releitura da fantástica criação de Maurício de Souza, desenvolvidas pelos conterrâneos Vitor e Lu Cafaggi sobre o universo da Turma da Mônica, o volume 2, Lições, é, quase inquestionavelmente, a melhor HQ do projeto.

Além da boa história, dos desenhos irretocáveis e da narrativa muito bem ritmada, há que se destacar a atemporalidade e universalidade da temática trazida pelo roteiro, que envolve a sempre presente questão do amadurecimento, da assunção de responsabilidades e do envelhecer.

Desse modo, ao contrário do que ocorreu na adaptação cinematográfica em 2019 de Laços, a primeira HQ da trilogia, em que minhas expectativas eram muito altas com relação à produção, nesta oportunidade, fui para a cabine com os pés fincados no chão, sem esperar grandes coisas sobre esse segundo longa – Tuma da Mônica: Lições – mais uma vez dirigido por Daniel Rezende.

Foto: Divulgação

E, novamente ao contrário do que aconteceu em 2019, quando ocorreu a inversão das expectativas, desta vez a surpresa foi bastante positiva com relação ao filme, novamente estrelado pelo excepcional quarteto de atores mirins que dão vida aos principais personagens da “turminha do Bairro do Limoeiro”: Giulia Benite volta a brilhar no papel de Mônica, entregando uma interpretação tocante, que oscila entre sentimentos de tristeza, resignação, aprendizado, profunda alegria e doce inocência; Kevin Vechiatto está corretíssimo como Cebolinha e sua incapacidade de pronunciar a letra “r”; Laura Rauseo é simpatia pura com a ansiosa e comilona Magali; e Gabriel Moreira manteve a carinha de sapeca, completamente ideal para o sugismundo Cascão.

O elenco adulto também não decepciona: Mônica Iozzi está ótima como Luísa, mãe de Mônica; Luiz Pacini faz corretamente o Seu Souza, pai da “baixinha, gorducha e dentuça; Paulo Vilhena se mostra à vontade na pele de Seu Cebola; bem como Fafá Rennó que, mesmo ganhando menos destaque nesta trama do que no filme anterior, continua a ser a encarnação viva da Dona Cebola.

Foto: Divulgação (a “Turma da Mônica” em momento escolar)

A história é simples, mas muito significativa: após uma “travessura” que dá errado, a turminha de amigos tem que assumir certas responsabilidades pelos seus atos e acaba sendo coercitivamente separada, com a transferência de Mônica – que ganhou um braço quebrado no processo – para outra escola de período integral, na qual precisará aprender a se abrir para novas amizades e ver seu status quo de valentona ser verdadeiramente questionado. Cebolinha, por sua vez, constatará o verdadeiro significado de ser o “dono da ‘lua’”; Cascão terá que encarar de frente seu medo d’água; bem como Magali precisará lidar com sua ansiedade, refletida na compulsão alimentar.

Estabelecida a premissa, caber analisar como ela foi desenvolvida no filme. Nesse sentido, em seu primeiro arco, Lições é bastante fiel a seu belo material de origem, mas, surpreendentemente, trata-se da parte menos brilhante do longa de Rezende, pois, a transposição muito literal das situações mostradas na revista acabaram por não se mostrarem orgânicas em tela. O humor e ritmo funcionam, mas de forma bem menos eficaz do que no restante da projeção.

Foto: Divulgação (para Magali, travessuras e gostosuras vêm juntas!)

A partir, porém, do segundo arco, o roteiro opta por sutilmente se afastar da graphic novel que lhe serve de inspiração, mantendo, todavia, o espírito da HQ. Isso faz com que a história flua muito melhor, ganhando em dramaticidade e emoção. Elementos da trama original são alterados, mas isso só contribui para que o filme fique cada vez melhor. Por exemplo, a introdução dos personagens Tina (na ótima versão de Isabelle Drummond), Rolo (Gustavo Merighi), Pipa (na incrível composição de Camila Brandão) e Zecão (Fernando Mais) – que não ocorre na HQ – funciona para além do mero fan service, contribuindo para a narrativa. O mesmo ocorre com as ponta dos personagens Marina (Laís Villela), a doce Milena (Emilly Nayara) e o divertidíssimo Do Contra (na pele de Vinícius Higo), para ficar apenas nesses exemplos.

Foto: Divulgação (em sentido horário: Zecão e Pipa; Milena; a professora; Do Contra; Tina e Rolo)

Aliás, já que se falou em dramaticidade, pode-se até dizer  que Daniel Rezende exigiu muito derramamento de lágrimas de seu elenco infantil principal, mas é preciso admitir que o “chororô” não foi, em momento algum, gratuito ou inadequado. Pelo contrário, ajudou a transmitir verdade na relação de amizade, carinho e afeto existente entre a Turma da Mônica.

E este filme pulsa afeto!

O tema universal e atemporal do amadurecimento é envolvente, principalmente quando a mensagem que se quer passar é a de que é possível crescer sem perder a criança interior, algo bem na linha da música “Bola de Meia, Bola de Gude”, do grande Milton Nascimento, na qual se diz que “há um menino, há um moleque, morando sempre no meu coração! Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão”! A nítida condição de pré-adolescentes da maioria do elenco infantil também ajuda a conferir autenticidade para os dramas enfrentados pelos personagens.

Por falar na mineiridade da música de Milton Nascimento, a ambientação interiorana e oitentista do filme é mantida, o que garante a atmosfera agradável de pureza e de habitat aconchegante para que crianças possam andar sozinhas pela rua e brincar à vontade pelo bairro, sem medo da violência urbana da realidade social brasileira. Essa atmosfera contribui, ainda, para o tom de fábula do longa.

Turma da Mônica: Lições é delicioso de se assistir – por tudo o que foi dito, bem como pela bela fotografia, pelos figurinos, excepcional trilha sonora, direção de arte e convidados especiais (como Malu Mader) – revelando-se boa surpresa para quem esperava a transposição, quadro a quadro, da HQ para o live action. Não é o que, o que prova o quanto nem toda adaptação precisar ser exatamente fiel ao seu material de origem para ser realmente boa.

Esta segunda aventura em carne e osso da Turma da Mônica, apesar do início menos impactante, passa a ser incrivelmente envolvente a partir de seu segundo arco e não se surpreenda caso alguma lágrima furtiva saia de seus olhos desavisados.

Com instigante e deliciosa cena pós-crédito, não dá para saber se Turma da Mônica: Lembranças – o terceiro e último volume da trilogia dos irmãos Cafaggi – também será adaptado para a tela grande. Em caso positivo, o start precisa ocorrer logo, pois, os muito bem escolhidos atores mirins já estarão se encaminhando para a vida adulta, podendo soar inadequados para seus papeis, caso a produção demore muito a ser iniciada, principalmente num país no qual, atualmente, produzir cultura tem se mostrado uma missão mais desafiadora do que nunca!

Belo, leve e nostálgico, Turma da Mônica: Lições é ótimo exemplar do cinema contemporâneo brasileiro, desenvolvido em cima de verdadeiro patrimônio imaterial do país.

Quem não assistir, merece uma coelhada da Mônica!!!!

Foto: Divulgação (“Lomeu” e Julieta)

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Nota: 4 / 5 (ótimo)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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