Séries
THE BOYS | Capitão Pátria e a ascensão conservadora
Se você está lendo Nerdtrip provavelmente já ouviu falar da série The Boys, transmitida pela Amazon Prime. A série é baseada em um gibi de mesmo nome escrito por Garth Ennis, consagrado autor de violentos quadrinhos. Ennis é famoso por seus trabalhos em Preacher, Punisher, Batman, Hellblazer e, claro, The Boys.
Podemos dizer que The Boys é uma das melhores séries do momento quando falamos de super-heróis. A premissa principal é colocar os supers dentro de um contexto realista, próximo ao nosso mundo. Tanto que os heróis são quase todos ligados a uma grande companhia, a Vought. Na verdade, a empresa forjou os heróis através de um soro criado por um cientista nazista. Mas o que interessa para este texto é um herói em particular e sua representação: Homelander ou Capitão Pátria.
Homelander foi criado em laboratório desde criança. Alvo de inúmeros testes desumanos, cresceu com poderes que o igualam ao famoso Superman, da DC. Ele voa, é extremamente forte, rápido e resistente. Solta raios de calor pelos olhos e, claro, é um belo representante da branquitude estadunidense: queixo largo, sorriso branco e topete loiro. Com um uniforme azul e uma capa que é a bandeira dos EUA, Capitão Pátria é a síntese do nacionalismo.
O Homelander na 3ª temporada de The Boys
Na terceira temporada, Homelander se transformou, assumiu seu lado mais, digamos, super-humano. Quando ele discursa em público assumindo seu papel como um super homem, um ser superior que impõe seu poder aos adversários, acaba sendo ovacionado. Transforma-se na personificação do Sonho Americano, em símbolo da luta da classe média branca estadunidense contra a perda de privilégios. No herói, que luta contra a grande imprensa mentirosa, contra essas novas ideias e costumes que corromperam os verdadeiros valores nacionais.
Aqui no mundo real, fora dos quadrinhos e séries, vivemos um fenômeno parecido: a indignação do homem branco conservador contra as mudanças, mesmo que discretas, na sociedade civil. O feminismo, o movimento LGBTQ, a luta antirracista, a integração de imigrantes, tudo isso assustou os conservadores que buscam em líderes duros, sem papas na língua o retorno a um passado idílico. Também estamos criando nossos Homelanders.
Trump nos EUA, Bolsonaro no Brasil, Orban na Hungria, são exemplos de líderes duros e sem papas na língua, que aparentemente lutam contra o sistema para defender o homem comum, como Homelander em The Boys. E assim como na série, essa luta é mentirosa, não passa de estratégia de poder de grupos conservadores para tomar o Estado e impor suas políticas retrógradas.
Homelander faz o que faz em nome do poder, do controle da Vought e, eventualmente, até dos políticos. Trump e Bolsonaro assumiram papéis de heróis nacionais e usam o populismo como ferramenta de controle social, político e ideológico. Eu confesso que não li os quadrinhos de The Boys pois não quero saber o final da série, mas aqui no Brasil nós devemos fazer parte da mudança contra o nosso Capitão Pátria.
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